sábado, 31 de julho de 2010

EI-LOS QUE VOLTAM, OS EMIGRANTES!...


Todos os anos por esta altura eles regressam a casa. Com a constância e a regularidade das andorinhas pela primavera. Eles enchem as aldeias de alegria, e de vida, muitas delas, que bem necessitam dessas golfadas de ar fresco para não desertificarem completamente. Eles vêm com carros topo de gama, com jipes, vestidos de marcas, aculturados aos países onde labutam no quotidiano. Eles abarrotam as feiras e os mercados, com as cores garridas e os linguajares que os diferenciam. Atestam as festas e as romarias que se vão realizando um pouco por todo o Minho.
Eles são os emigrantes, que fazem de Julho e Agosto os meses por excelência da sua peregrinação anual pelas memórias da infância, pelos mitos e pelos rituais que os vão mantendo ligados à identidade que foram construindo, a sua aldeia e o seu país. Quer uma, quer outro, jamais esquecem o contributo que os emigrantes, cada um a seu modo, vão dando para o respectivo desenvolvimento. E eles são referentes fundamentais na história moderna e contemporânea deste país, como sublinham os estudiosos.
A emigração em Portugal remonta à gesta dos Descobrimentos, quando os portugueses demandaram novos mundos e aí foram divulgando a cultura e os valores levados deste pequeno recanto pátrio, recebendo, em contrapartida, os ensinamentos e a cultura indígena, de cuja miscigenação resultou o que somos e o que eles são. As migrações atravessam o curso da nossa história, com mais expressão a partir do século XIX e integram um pouco a manifestação da identidade nacional.
O conhecido geógrafo Orlando Ribeiro referiu-se, em tempos, à emigração como a “vocação demográfica” de Portugal, em especial entre as gentes do Noroeste português e do Entre Douro e Minho.
Os emigrantes partiram por motivos pessoais ou patrióticos, em busca do ouro no Brasil nos séculos passados ou, desde há sessenta anos, na procura de melhores condições de vida na velha Europa, em especial na França, na Suiça e na Alemanha, entre outros destinos. Muitas vezes, despovoando o país, o que provocou reacções oficiais através de políticas restritivas à saída dos nacionais. Daí se entender a canção, de crítica e subtileza, que tem raíz galega mas é absolutamente aplicável a este lado da fronteira:

Este parte
Aquele parte
E todos, todos se vão
Galiza fica sem homens
Que possam
Colher seu pão.


Em cada um de nós há um emigrante, ou um familiar de emigrantes ou de portugueses em situação de retorno. E o movimento migratório não pára, nos últimos anos agravado pelas condições internas. Numa altura em que Portugal acolhe já no seu território mais de 400 mil imigrantes de 140 países, o fenómeno emigratório prossegue, com a saída anual de milhares de portugueses, que na estranja vão procurar melhores condições de existência, fugindo a uma situação de crise e de desemprego entre portas.
Mas o Verão é o período do regresso, do convívio com os familiares e os amigos, nos cafés da aldeia ou nos restaurantes da cidade, em dia de feira. Os emigrantes são hoje em dia portugueses cada vez mais parecidos com os que cá estão todo o ano: inquietos, hesitantes e forretas, a queixar-se da carestia da vida e a dizer mal do governo. Características que estão nos genes dos nossos patrícios, estejam onde estiverem, por cá ou pelas franças e araganças.
Os emigrantes são, justiça lhes seja feita, os heróis da contemporaneidade deste país. Eles “fizeram” o Brasil e “fizeram” a Europa, com a força dos seus braços e o sacrifício dos seus corações. Eles, que atravessaram os mares nas condições mais adversas e transpuseram as fronteiras a salto, clandestinamente, para acabarem a povoar os bairros de lata dos primórdios da emigração. Para fugir à miséria, à fome e à guerra colonial. Em nome de um futuro melhor, mais sustentado, para si próprios e sobretudo para os filhos.
Hoje, eles são mais civilizados, integram já segundas e terceiras gerações e vivem divididos entre o íntimo apelo da terra natal e a família que se foi formando e ramificando nos países de acolhimento.
Neste Verão que decorre, quando mais uma vez eles povoam este Minho verde com tonalidades e simbioses de outras paragens, vai a minha sentida homenagem para os emigrantes, desta região e de todo o Portugal. Eles bem merecem o sincero reconhecimento dos patrícios que por cá ficam, às vezes por comodismo, outras por inveja, bem como das autoridades que nem sempre os tratam com o respeito a que fazem jus.
Os emigrantes merecem todos os monumentos (Fafe também os vai homenagear com um monumento nos próximos anos) e todas as festas que o povo lhes tributa.
Que tenham férias felizes, junto dos que mais amam!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

XXVI FESTIVAL INTERNACIONAL DE FOLCLORE DE FAFE


O Grupo de Folclore da Casa do Povo de Arões (na foto, já antiga) organiza há 26 anos um festival nacional e internacional de folclore, que passa por ser o mais prestigiado do concelho e um dos mais importantes da região. Recordemos que, no concelho, promovem também importantes festivais de folclore – com a participação de grupos nacionais – o Grupo Martim de Freitas (cuja 14ª edição teve lugar no passado dia 24 de Julho) e o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Silvares (este em meados de Agosto).
A edição deste ano do Festival Internacional de Folclore acontece este sábado, último dia de Julho, a partir das 21h30, na Arcada, coração da cidade de Fafe.
Trata-se de uma manifestação de cultura popular das mais genuínas, embora, naturalmente, esses conceitos não sejam (e ainda bem…) consensuais.
Na 26ª edição do Festival Folclórico participam o Grupo Folclórico da Casa do Povo de Arões, o Grupo Folclórico “O Cancioneiro” de Ovar, “Folklore Ensemble Makobvica” (Eslováquia), Grupo “Ceifeirinhas do Vale Mesio” (Lousada), Rancho Etnográfico Santa Maria de Negrelos, Rancho Etnográfico de Santiago de Bougado (Trofa) e Grupo Folclórico da Casa do Povo de Creixomil (Guimarães
Colaboram na iniciativa a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia de Arões S. Romão.
De recordar, para quem gosta destas coisas e valoriza a componente popular da cultura local, que atrai centenas de pessoas, todos os anos, que o Grupo de Folclore da Casa do Povo de Arões existe desde 1979, portanto há mais de três décadas. Como marca de qualidade, está a sua filiação no INATEL, desde 1997 e na Federação do Folclore Português, desde 1999. É o único grupo folclórico do concelho de Fafe inscrito nesta Federação…
Ao longo do seu historial participou em festivais em Portugal e no estrangeiro, sobretudo em França. Em 1999, foi agraciado pela Câmara Municipal de Fafe com a medalha de prata de mérito concelhio, por altura da celebração dos seus vinte anos de existência.
Entre outras actividades, o grupo promove anualmente a festa do emigrante, uma desfolhada regional e intercâmbios com diversos outros ranchos congéneres.
Desde a sua fundação, tem-se imposto por um notável esforço de preservação das danças, cantares, trajes e utensílios tradicionais desta região do Baixo Minho, e em especial de Fafe.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A DITADURA DA IGREJA


A torpe expulsão do Padre Peixoto Lopes da paróquia de Fafe ultrapassa tudo o que o comum do mortais pode imaginar. É monstruosa, cruel, humilhante, indigna de uma Igreja que prega a bondade mas actua com os métodos mais pérfidos. Uma autêntica ditadura, sem direito a contraditório, ou a ouvir os fiéis, para quem se diz dirigir...
Nem Maquiavel se atreveria a tamanho cinismo, nem Kafka engendraria tão desconcertante absurdo.
Partamos do princípio: pode o Arcebispo de Braga fazer o que fez com o Padre Lopes? Pode. Tem legitimidade para isso. Deveria fazê-lo da forma enviesada e aldrabona como o fez? Claro que não.Estamos em presença de uma flagrante injustiça e de um processo humilhante para um homem que nos últimos 25 anos deu o melhor de si pela Igreja fafense, nos seus vários domínios? Absolutamente.
O Arcebispo de Braga usou de diabólica artimanha para afastar o Padre Lopes da paróquia da cidade, a mais importamte do concelho e onde este realizou um trabalho notável, a nível eclesial e a nível das infraestruturas e dos equipamentos, e que foi coroado com a construção da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em S. Jorge, de que o Padre Lopes foi há um ano impiedosamente desapossado.
Lembremos que o Padre Lopes é um sacerdote moderno, culto e de inegável sociabilidade. É de recordar o seu apego às referenciais instituições sociais e humanitárias da cidade, sendo capelão dos Bombeiros Voluntários, assistente espiritual do Grupo Nun'Álvares, companheiro do Rotary Club de Fafe e responsável da Santa Casa da Misericórdia.
De igual forma, se releva e sublinha a sua participação activa na vida cultural local, como outro clérigo fafense não há. Não é raro vê-lo a associar-se ao lançamento de uma obra literária (ele próprio é um apreciado poeta, com dois livros publicados pela Labirinto), à abertura de uma exposição de artes plásticas ou a um espectáculo musical ou teatral.É este o pároco - um homem bom, cordato, dinâmico, amigo de jovens e menos jovens, empreendedor - que o Arcebispo de Braga vai expatriar da paróquia de Fafe.
E porquê? Aqui é que bate o ponto. Ninguém sabe exactamente as razões, se é que alguma razão existe para tão inqualificável decisão. Sabe-se, isso sim, que há um ano atrás o Arcebispo de Braga decidiu arbitrariamente dividir a paróquia em duas e nomear o arcipreste para a chamada "zona sul" de Fafe, o que terá feito à revelia das leis canónicas e atropelando, pelo menos, o bom senso e o respeito devido ao Padre Lopes, que no último quarto de século se devotou de alma e coração à paróquia da cidade.
Tudo terá começado nessa altura, da forma mais indecorosa e nada cristã. Assim, é de entender que o relacionamento entre os dois párocos não tenha sido o mais cordial. Porque o que torto nasce...
O primeiro argumento que veio a público para justificar a expulsão do Padre Lopes foi o pretenso "relacionamento difícil" entre os dois clérigos. Assim, o Arcebispo de Braga decidia cortar o mal pela raíz, afastando, salomonicamente, ambos da paróquia, que continua numa só. Pelo menos publicamente, não consta que exista a paróquia de Fafe-norte e a paróquia de Fafe-sul...
Ou seja, o Arcebispo de Braga provocou uma situação de instabilidade, de afrontamento directo ao Padre Peixoto Lopes, criou as condições para o conflito e vem agora, como virgem ofendida, sancionar este pela situação que ele, Arcebispo, deliberadamene fomentou.Só por absurdo se pode aceitar tamanho exercício de puro maquiavelismo!...
Naturalmente, seguiram-se as compreensíveis reacções populares de ira, indignação e destempero que têm povoado por estes dias a comunicação social (e que, em boa verdade, deveriam ter sido vigorosamente empreendidas em outras ocasiões em que a população fafense perdeu serviços importantes, como a maternidade, a PSP, a EDP, as valências hospitalares, etc).
Agora, a argumentação do Arcebispo de Braga é já outra (mudou em meia dúzia de dias), dada a inconsistência da primeira.Agora, o que se alega é a "necessidade de fazer rotatividade dos padres".Tretas, claramente, de uma justificação à posteriori, para cobrir uma situação que descambou para níveis insuspentados.
O que cabe perguntar, por exemplo, é o seguinte: porque é que apenas ao fim de 25 anos é que a "rotatividade" abrange o Padre Lopes? Que critérios presidem à propalada "rotatividade"? E porque é que há outros párocos que estão há mais tempo nas paróquias, mesmo no arciprestado de Fafe, e nelas continuam?Ou a "rotatividade" é só para justificar a saída do Padre Lopes (e, por conveniente arrastamento, do Padre José Manuel Faria)?
Mais: e o Padre Lopes? Como é possível que o responsável máximo da Igreja diocesana provoque tanto sofrimento ao seu servidor? Que desumanidade de trato!... Que sentimentos, que sensibilidade, que coração tem o Arcebispo de Braga? Como é possível tratar tão desapiedadamente, tão sadicamente, um pároco da Igreja bracarense, sobre quem só se diz bem e que o seu povo ama, como se tem visto pelas televisões e lido nos jornais (o que não acontece ao seu Arcebispo)?!...Que religião é esta? Ou isto é que é a religião católica, apostólica, romana? Uma religião que prega a tolerância, o amor ao próximo e que esfaqueia, pelas costas, até ao sangue, um padre que a maioria dos fafenses, católicos ou não, admiram, veneram e respeitam?...
É bem certo que a Igreja é um sistema totalitário, à boa maneira estalinista do "quero, posso e mando", como - mais uma vez - acaba de se demonstrar!...A hierarquia católica enche a boca de "povo de Deus", de "fiéis", mas quando o "povo de Deus" quer ter uma palavra sobre os seus destinos, apelando ao diálogo e à participação na vida da Igreja, a arcaica "nomenklatura" (que não tem a ver com idades, mas com ideologias e sistemas...) responde que tudo está decidido, que não há volta atrás, os "sábios" decidiram, está decidido. Arquivem-se os protestos. Arquivem-se as queixas. Arquivem-se as revoltas e os abaixo-assinados. O "povo de Deus" que se mantenha obediente e obrigado, fiel e resignado. Acomodado. Que a democracia não é para aqui chamada...
E depois, admiram-se que os templos católicos se esvaziem, que os jovens abandonem a prática religiosa, que a sociedade se laicize cada vez mais, que as vocações escasseiem, que outras igrejas e outros cultos floresçam como cogumelos, um pouco por todo o lado!...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

JOSÉ SAMPAIO MARINHO TRADUZIU POESIA RUSSA E SOVIÉTICA




A Câmara Municipal de Fafe e a Editora Labirinto promovem a apresentação da colectânea Poesia Soviética Russa – Século XIX e XX, com selecção, organização e tradução do falecido poeta fafense José Sampaio Marinho, a qual terá lugar esta sexta-feira, 16 de Julho, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal, com entrada livre.
A obra (que é uma antologia de poemas de emblemáticos autores russos e soviéticos dos dois últimos séculos) será apresentada pelo jornalista José Milhazes, autor do prefácio e amigo de José Sampaio Marinho, com quem teve o privilégio de conviver, quer na Rússia, quer em Portugal.
O livro integra uma selecção de poemas de mais de três dezenas de autores russos e soviéticos dos dois últimos séculos, entre os quais figuram os conhecidos nomes de Vladímir Maiakóvski, Serguei Essénine, Borís Pasternak, Nikolai Tíkhonov, Konstantin Símonov, Serguei Iessenine, Anna Akhmátova e Evguéni Evtuchenko. O autor mais antigo representado, Valéri Briússov, nasceu em 1873 e faleceu em 1924, enquanto o mais recente, Oleg Tchukhontsev, nasceu em 1938 e ainda vive.

Mas quem é José Sampaio Marinho -perguntar-se-à?
É um poeta e tradutor que nasceu em Cepães (Fafe), em 08 de Setembro de 1929. Por aqui viveu até cerca dos 30 anos com a família, embora se ausentasse periodicamente da residência por motivos académicos.
Frequentou o seminário em Braga e em seguida o colégio particular em Fafe. Depois tirou o curso da Escola Normal em Braga onde foi director do seu jornal, Escola Remoçada. Foi professor primário por curto tempo e foi então para Coimbra onde se formou em Filologia Românica.
Trabalhou numa escola em Guimarães (com o conhecido Dr. Santos Simões) e depois em Lisboa. Aí casou com uma senhora da Arménia, de nome Anais Charlotte Bonnel, que trabalhava na Embaixada de França. Mais tarde deixou o ensino, por não gostar muito da actividade e dedicou-se a fazer traduções para várias editoras, entre as quais a Arcádia.
Divorciou-se já depois do 25 de Abril e foi para Moscovo a convite da Progresso, editora soviética que publicava livros em numerosas línguas estrangeiras e onde Sampaio Marinho continuou a fazer e rever traduções com estilo literário.
Esteve naquele país cerca de 15 anos e dominava o russo ao ponto de compreender o que lia. Quando não conseguia, pedia ajuda a colegas.
Nesse período, não publicou qualquer livro, mas dele foram editadas dezenas de traduções de poemas de autores russos de nomeada (Alexandre Blok, Konstantin Simonov, Vladimir Maiakovski ou Serguei Iessenine, entre outros), consideradas de excelência pela crítica do país. São traduções só possíveis, simultaneamente, por quem dominava perfeitamente a língua e tinha alma e talento de poeta.
Adoece e resolve voltar para Portugal, para a Póvoa de Varzim, onde sua mãe residia com a sua irmã. Aqui volta ao ensino, em Fermil (Celorico de Basto) e na Escola Secundária Eça de Queirós (Póvoa de Varzim), por pouco tempo e reforma-se antecipadamente por motivos de saúde. Veio a falecer na Póvoa de Varzim, em 27 de Setembro de 1998, vítima de cancro do pulmão, doença que já tratara em Moscovo.
Desde muito novo, demonstrou apreciável talento poético, tendo organizado vários livros, que mostrou aos amigos. Terá publicado Poemas da Alma, em 1951, A Voz e o Tempo (Coimbra, 1958), Anjo Rebelde (Braga, 1959) e O Canto Puro (Lisboa, 1961, 1º Prémio no Concurso de Manuscritos do Serviço Nacional de Informação).
Sob o pseudónimo “Jorge de Sampaio”, editou, pelo menos, os livros de poemas Cantos de Terra e Mar (Lisboa, 1964) e Inconcreto (Braga, 1965).
Editou ainda Quando as Nuvens Choram – Poemas (1952-1956), com o nome de Sampaio Marinho (Coimbra, 1957).
Terá publicado outras obras, designadamente em prosa, mas não há certeza de que tal tenha acontecido.

terça-feira, 13 de julho de 2010

GRUPO NUN'ÁLVARES OFERECE ESPECTÁCULO AOS BOMBEIROS DE FAFE


Cumprindo a promessa feita aquando do espectáculo comemorativo dos 120 anos dos Bombeiros Voluntários de Fafe, há duas semanas, o Grupo Nun’Álvares vai oferecer à humanitária associação a comédia “Cama para Três”, interpretada pelo Teatro Vitrine.
O espectáculo realiza-se este sábado, 17 de Julho, pelas 21h30, no Estúdio Fénix, estando os bilhetes à venda na sede do Grupo Nun’Álvares e no Posto de Turismo, durante a semana. No próprio dia do espectáculo, em havendo ainda ingressos, estarão disponíveis nos Bombeiros.
“Cama para três” é uma hilariante comédia adaptada do texto “Três em Lua-de-mel”, de Henrique Santana. Dividida em 2 actos, conta a história de um casamento a três por engano, originando grandes peripécias!
Passados 5 anos após o desaparecimento do seu primeiro marido, D. Madalena de Vilhena casa pela segunda vez em Cuba com Manuel Coutinho, um jovem muito atraente. Entretanto, regressam a Portugal para passar a noite de núpcias na sua casinha… mas, quem também resolve reaparecer é o seu primeiro marido.
A confusão instala-se...
Numa história que envolve ainda uma criada bisbilhoteira, uma melhor amiga meio alcoólica, um médico abismado, um agente de seguros trapalhão e até uma parteira inconveniente, só pode originar grandes confusões.

Elenco:
Personagens – Actores
Manuel Coutinho “Nené” – Gilberto Magalhães
Doutor Telmo Pais – Joaquim Leite
Clara – Elisa Freitas
Madalena Vilhena – Andreia Fernandes
Maria – Anabela Teixeira
João Romeira “Ru-Ru” – Daniel Pinto
Ernesto Miranda – Norberto Cunha
Doroteia Miranda – Olga Freitas
Encenação – Orlando Alves

segunda-feira, 12 de julho de 2010

ARTISTAS FAFENSES APOIAM OS BOMBEIROS

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No âmbito do programa comemorativo do 120º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Fafe, está patente no Hotel Comfort Inn, em Fafe, até este fim de semana, uma exposição de pintura de artistas locais, com obras oferecidas à corporação e cujo produto da respectiva venda reverterá em favor da mesma.
Na noite da inauguração da mostra, 2 de Julho, esteve presente a maioria dos artistas que ofereceram obras, bem como alguns amigos e familiares.
Na altura, além das palavras usadas em casos que tais, foi entregue um belíssimo troféu alusivo aos 120 anos, da autoria de Carlos Santana, a cada um dos artistas presentes (entre os quais o próprio).
Estão presentes na iniciativa 23 obras de 22 artistas. Os pintores fafenses participantes são Amélia Cunha, Ana Stingl, Antonieta Guimarães, António Santana, Arlete Gonçalves, Armando Sousa Marques, Belmira Guimarães, Carlos Santana, Cloé, Custódio Matos Neves, Dulce Barata Feyo, Fernanda Aguiar, Fina Rosa, José Freitas Pereira, J. J. Silva, Lino Magalhães, Lourdes Magalhães, Orlando Pompeu e Soledade Henriques Vaz.
De fora do concelho, quiseram oferecer obras para os bombeiros fafenses os artistas Júlio Cunha e Nuno Canelas. Entretanto, a artista Carminda Andrade decidiu também participar na iniciativa, já depois da inauguração, ofertando uma obra de sua autoria.
A exposição, que vai manter-se patente até 17 de Julho, pode ser visitada no horário de funcionamento do Hotel.
Os interessados em adquirir obras podem reservá-las na recepção do Hotel.
Daqui se apela aos fafenses (e não só...) para que visitem a interessante exposição e, sendo do seu agrado, adquiram alguma das obras presentes, para ajudar os Bombeiros. Pois só assim, a iniciativa cumpre a sua função. Os artistas cumpriram a sua.

domingo, 11 de julho de 2010

PROCISSÃO DE Nª Sª DE ANTIME - DOIS POEMAS ALUSIVOS


De entre os imensos textos e poemas que têm sido produzidos sobre as festas maiores do concelho de Fafe em honra de Nossa Senhora de Antime e, designadamente, sobre a imponente e tocante procissão que anualmente atrai milhares de fiéis ao trajecto entre a Igreja Matriz de Antime e a Igreja Nova de S. José de Fafe, escolhemos dois sonetos paradigmáticos, um do falecido Professor Laurentino Alves Monteiro (Ruy Monte), já com mais de quatro décadas e outro do Cónego Valdemar Gonçalves, com escassos anos.
A foto que encima o post (e todos os outros aqui publicados) é do nosso amigo Manuel Meira Correia.
Aqui vão os textos para saborear neste dia maior das Festas do Concelho:

Senhora de Antime
(Passando no seu andor)

Lá vem a Mãe de Deus, com Deus ao colo!
- É bonita não é? Reparem bem.
Onde é que vemos nós olhar de mãe
Que espalhe tanta luz, tanto consolo?

Mas vai triste, não vai? Porque será?
O menino sorri, por entre os dentes:
- Pesamos muito, Mãe, mas são valentes
Verás que nem um arriará.

E aí vão eles, de cravo arrebitado,
Aos saltos, num correr cadenciado,
Que, ao longe, até parece que é dançar…

Quarenta arrobas!... mas valeu o peso,
Que a Senhora vai dar a cada teso
A mais linda moçoila p’ra casar.


Ruy Monte

A procissão

Quando a Senhora vem da sua Igreja,
da paróquia de Antime, com piedade,
é pertença de Fafe, que se veja
como todos lhe queremos de verdade!

Toda a gente, no dia, lhe deseja
depor aos pés a sua intimidade
e confiar um pedido: que Ela seja
a sua Mãe por toda a eternidade!

É a Rainha eleita, a escolhida
a quem se dá o coração e a vida
num cântico de amor e alegria!

Com afinco se pega ao seu andor
e a procissão irrompe num clamor
de Fafe inteiro, filho de Maria!

Valdemar Gonçalves

sexta-feira, 9 de julho de 2010

NOSSA SENHORA DE ANTIME - A ROMARIA DE TODOS OS FAFENSES


A romaria em honra de Nossa Senhora de Antime, também designada da Misericórdia ou do Sol, assume-se como a maior e mais conhecida das festividades locais, coincidindo nos nossos dias com as Grandes Festas do Concelho, no segundo fim de semana de Julho.
Este ano de 2010, têm lugar entre os dias 9 e 11 do mês em curso, com um programa que pode ser visto no sítio da autarquia, entre outros espaços internáuticos.
Estudiosos locais têm ligado a importante festa a um ”culto solar ou ritual de fecundidade”. Nesse sentido, a procissão seria a actualização de um ritual muito antigo praticado pelos rapazes casadoiros, em que o transporte do pesado andor funcionaria como a verdadeira prova pública da virilidade ou masculinidade dos jovens, que teriam nesse acto a legitimação para o futuro casamento.
As origens do culto são certamente remotas, perdendo-se na voragem dos tempos. Com segurança e documentalmente, sabe-se que as festas já se realizavam em 1736, portanto na primeira metade do século XVIII. Onze anos depois, em 1747, respondendo a um inquérito ordenado pelas autoridades nacionais, o pároco de Antime afirmava não saber “qual fosse a origem desta devoção”, o que pressupõe fosse muito antiga, vinda porventura da Idade Média.
A primeira referência à festividade surge em 1736, na memória intitulada Monografia do Concelho de Fafe, do pároco de Santa Eulália de Fafe, João de Sousa Homem. Referindo-se às freguesias que então integravam o concelho de Monte Longo, o pároco escrevia sobre Antime: A Reitoria de Nossa Senhora de Antime ou Senhora do Sol ou da Misericórdia porque com ela obra muitos milagres dando Sol ou chuva nas faltas destes. Festeja-se esta Senhora nos segundos domingos de Julho e daí vem em procissão a esta freguesia distante um quarto de légua sendo das procissões mais solenes e populosas desta Província. É a imagem desta Senhora de pedra fina: faz peso de dezasseis arrobas a quem a traz.
Onze anos depois, o pároco de Antime, escrevia: Na segunda dominga de Julho se faz procissão com esta Senhora (da Misericórdia), e vai a Santa Eulália Antiga de Fafe, e concorre a ela muita gente dos lugares circunvizinhos, e não se sabe qual fosse a origem desta devoção .
Já no século XIX, aparecem-nos sensivelmente as mesmas referências à romaria de Nossa senhora de Antime, nas Memórias do Cárcere (1862), de Camilo Castelo Branco e no Dicionário Corográfico, de Pinho Leal (1874). Escreve Camilo, como testemunho da sua passagem por esta terra em 1860, quando se encontrava fugido à Justiça: A Senhora de Antime é de pedra, e pesa com a charola vinte e quatro arrobas. Os mais possantes moços da freguesia pegam ao banzo do andor. (...) Tirem disto a limpeza de consciência e religiosidade daqueles sujeitos, que ali vão dar testemunho de seu fervor, com a Senhora de pedra aos ombros.
Já no século XX, o jornalista e professor Paulino da Cunha afirmava no Almanaque de Fafe (1909) que a festa da Senhora d’Antime é a festa de Fafe por excellencia. Nesse dia, todas as famílias, não excluindo as menos abastadas, vestem um fato novo e comem o anho da praxe. O anho assado é, com efeito, a iguaria tradicional das Festas do Concelho, enquanto a vitela assada é o prato mais servido nas Feiras Francas de Maio. A acompanhar, o vinho verde da região e o delicioso pão-de-ló e cavacas de Fornelos e de Arões.
E O Desforço de 18 de Julho de 1918 informa que a procissão da senhora de Antime se vinha realizando há uns 600 anos. Verdade?
Associada ao culto, como sempre acontece, está uma conhecida lenda. Conta a tradição que uma imagem da Virgem teria aparecido no Monte de S. Jorge, em local disputado pelas duas freguesias limítrofes, Fafe e Antime. Após longa animosidade, as populações das duas localidades chegaram a um acordo: a imagem de Nossa Senhora de Antime ficaria todo o ano na Igreja de Antime mas, no dia da sua festa, os homens de Antime viriam trazê-la ao limite da paróquia, ao romper da alva. Aí, os de Fafe a levariam para a sua Vila, onde a festejariam até ao pôr-do-sol, altura em que a pesadíssima imagem voltaria à sua residência habitual.
Todos os anos, no segundo domingo de Julho, o ritual se repete. O ritual da fé imensa, da devoção incontida, da emoção que toma os corações de milhares e milhares de romeiros que serpenteiam as estradas e ruas de Antime para Fafe, sob a inclemência do sol escaldante. Muitos vão cumprir promessas feitas em momentos de desespero e de perdição, esgotados outros meios humanos ou científicos, normalmente relacionados com doenças ou “apertos” na vida individual ou familiar. Outros vão ”porque gostam” de ir na procissão, por fé e sentido de espiritualidade.
Ao princípio da manhã, é celebrada missa em honra de Nossa Senhora da Misericórdia, na Igreja Paroquial de Antime. O povo vai-se juntando, abarrotando o templo, o adro e as cercanias. Os populares vêm de todo o lado, das freguesias circunvizinhas, da cidade, de outros lugares da região e do país.
A procissão, pela sua imponência e sentido de religiosidade, impressiona qualquer pessoa que a ela assista. São milhares de pessoas que descem, muitas delas descalças, algumas com crianças ao colo, a ribanceira de acesso à Ponte de S. José, na fronteira entre as freguesias de Fafe e Antime. Junto à ponte, dá-se um dos momentos mais emocionantes da procissão, que fica na memória de quem a ele tem o privilégio de assistir. É o encontro amistoso da imagem de Nossa Senhora de Antime e da imagem de Nossa Senhora das Dores, vinda de Fafe, com as respectivas “comitivas”. O momento alto acontece quando as imagens ficam frente a frente e fazem uma pequena vénia uma à outra, em sinal de saudação. São os pegadores dianteiros dos andores que fazem uma ligeira genuflexão para que a parte da frente fique a nível mais baixo que a de trás. O momento, de emoção, é saudado com palmas e “vivas” e o estralejar de foguetório, de alegria pela visita de uma imagem extremamente querida às gentes fafenses.
O cumprimento das duas imagens, no limite das freguesias, é a afirmação de um gesto protocolar de recepção e boas-vindas por parte de Fafe à sua convidada de Antime. A partir daí a Senhora é de Fafe. Ainda que por algumas horas.
A procissão prossegue, entremeada de cânticos e rezas, com o calor cada vez mais forte, o sol cada vez mais escaldante. Perto do meio-dia, chega à Câmara Municipal, onde se regista o segundo grande momento do seu percurso. A imagem posta-se diante dos Paços do Concelho, para saudação às autoridades municipais. Das varandas do edifício, onde se encontra a vereação, chovem pétalas multicolores, enquanto centenas de pombas são soltas pelos columbófilos locais e no ar estrondeiam dúzias de foguetes. Milhares de pessoas concentram-se na Avenida 5 de Outubro e nas cercanias, tornando o momento, inesquecível, de grande tensão emotiva...e festiva.
A procissão continua o seu rumo, passando pela Igreja Matriz e terminando ao princípio da tarde na Igreja Nova de S. José. A Senhora permanece naquele templo até cerca das 18 horas, altura em que, com menos pompa e acompanhamento, regressa a Antime, por um percurso ligeiramente diferente, passando pelo Lombo, onde se realiza uma breve cerimónia religiosa.
Ao final da tarde, cumpridas as promessas, regressa a imagem de Nossa Senhora de Antime ao seu lugar de todo o ano.
No restante dos dias de festa, avulta o habitual programa profano e até pagão. As típicas chancelas das romarias minhotas, com o seu colorido folclore, os seus variados espectáculos musicais, as suas abastadas sessões de fogo de artifício, a habitual serenata, as imperdíveis bandas filarmónicas, que tornam popular a música mais erudita, a sacrossanta marcha luminosa, que arrasta ao centro da cidade incontáveis milhares de curiosos. E também o ruído ensurdecedor dos carrosséis e dos carrinhos de choque, para miúdos e graúdos, e a parafernália das tendas onde se vende de tudo e se perde a alma.
As festas de Antime, da Misericórdia ou do Sol aí estão, mais um ano, para cumprir mais um ciclo de fertilidade, de folguedo, de diversão. Aproveitemo-las da melhor maneira, como espaço mítico de lazer e de descanso, entre as actividades diárias de uma semana que termina e de uma outra que espreita, ansiosamente.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

MAMA MIA, QUE ESPECTÁCULO!...




No passado fim de semana, os fafenses tiveram o privilégio de assistir (os que assistiram...) a uma excelente manifestação cultural, digna das melhores salas de espectáculos deste país.
Em Fafe, é de bom tom desdenhar-se do que se faz na área da cultura. Seja por quem não põe os pés na mais ínfima das manifestações culturais, não assistindo a um espectáculo, à abertura de uma exposição, ao lançamento de um livro, ao que quer que seja que ultrapasse as fronteiras do comodismo e da sagrada cultura de café; seja por quem faz gala no exercício espúrio de maldizer, por qualquer meio, ou por supor que Fafe tem de ter a programação cultural do Porto, de Braga ou de Guimarães, quando não possui um décimo dos respectivos meios financeiros.
Pois, entre sexta à noite e domingo à tarde, o Teatro-Cinema foi palco de um evento de altíssimo gabarito, promovido pela Academia de Música José Atalaya e com encenação da professora Carla Lopes. Referimo-nos ao musical Mama Mia, em quatro sessões, que lotaram completamente a sala e trouxeram a Fafe diversos e excelentes artistas do teatro e da música, como Ana Queirós, Rui Andrade (da telenovela “Morangos com Açúcar”), Carlos Meireles, Eurico Santos, Nuno Martins, Patrícia Franco, Nani Rios e Liliana Moreira. Pelo meio, foram movimentados dezenas de jovens e crianças da Academia, que ensaiaram arduamente durante duas semanas para demonstrarem em palco o seu enorme potencial artístico. Que belíssimo espectáculo foi proporcionado ao público fafense.
Parabéns à Academia de Música José Atalaya, por este enorme êxito e em especial ao seu timoneiro, professor José Manuel Machado.

domingo, 4 de julho de 2010

CONHECER JOSÉ CARDOSO VIEIRA DE CASTRO


José Cardoso Vieira de Castro é uma das personalidades mais controversas, paradoxais e românticas do imaginário fafense, que importa aqui divulgar. Para que a comunidade a possa conhecer. Porque só se pode amar aquilo que se conhece.
Tido pelos seus contemporâneos como “mártir da loucura da honra” (Jaime Moniz), “temperamento violento, índole apaixonada, alma nobre, esplêndido talento, coração afectuoso, sempre aberta a mão da caridade…” (Vitorino da Mota) e “carácter inquieto e febril” (Júlio César Machado), Vieira de Castro é valorizado pelos seus estudiosos contemporâneos, como Alexandre Cabral, entre outras facetas, na sua fulgurante inteligência e notáveis dotes oratórios. O maior camilianista do século XX, falecido há alguns anos, ressalva ainda que o temperamento exaltadamente combativo, ao mesmo tempo que generoso, criou para seu uso uma concepção de honra e justiça de índole assaz contraditória, na qual é fácil descortinar os típicos revérberos da ideologia romântica.
Também o fafense Álvaro Fernando Moniz Rebelo, autor da excelente obra JC Vieira de Castro (1995), em curso de reedição, resume que foi uma existência muito breve, mas intensamente vivida. Se me é permitido o paradoxo, dir-se-ia que Vieira de Castro vivendo pouco, viveu muito (…) Vieira de Castro ou era rodeado de amor ou de ódio.
Estas são algumas das mais judiciosas considerações sobre José Cardoso, que nasceu em 2 de Janeiro de 1838, no Porto, filho do desembargador fafense Luís Lopes Vieira de Castro, da Casa do Ermo, em Paços. Foi ele que lhe deu a alma fafense e que o religou à nossa memória.
Teve uma infância mimada e tranquila, passada entre o Colégio de Nª Sª da Lapa, no Porto, onde foi educado, e o ambiente aldeão do Ermo, casa de seu pai.
Aos 15 anos traduziu a obra Solidão, de Zimmermann, de que mais tarde se viria a arrepender e matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde se meteu em grossas alhadas. Em 1857, com 19 anos de idade e quartanista de Direito, meteu-se no célebre “Incidente Barjona de Freitas”, acabando excluído da Universidade por dois anos. Porém, não perdeu o seu tempo e acabou por ficar na história porque, exactamente nesse período de “férias forçadas”, conheceu Camilo Castelo Branco na Hospedaria “Estrela do Norte”, no Porto. Camilo tornar-se-ia o seu maior amigo e confidente, pela vida fora, apesar da sua diferença de idades (13 anos superior no autor de O Amor de Perdição).
Em 1859, regressou à Universidade, voltou a meter-se em sarilhos, desta feita na famosa “questão do traje” e foi riscado “perpetuamente” da Universidade (pena que não seria executada).
Em 1860, tinha José Cardoso 22 anos, refugiou-se no Ermo, aí acolhendo o seu amigo Camilo Castelo Branco, na altura em que se encontrava a monte, fugido à justiça, acusado do crime de adultério na pessoa da sua amada Ana Plácido. Dessa experiência, gloriosa para todos nós, fala nas páginas das Memórias do Cárcere, nos seguintes termos:

Fui de Santo António das Taipas para as cercanias de Fafe, quinta do Ermo, onde me esperava, com os braços abertos e o coração no sorriso, José Cardoso Vieira de Castro. Falseei a verdade. Vieira de Castro esperava-me a dormir, naquela madrugada dele, que era meio-dia no meu relógio.
A quinta do Ermo está situada no ponto mais despoético e triste do mapa-múndi. A casa é magnífica: mas os caminhos que a ela vos conduzem são algares, barrocais, trilho de cabras, vielas tortuosas, e aspérrimos desfiladeiros
.

Aí se fala também das festas de Antime, do convívio de Camilo com os cavalheiros mais poderosos da Vila, do jogo do pau, de que os Vieiras de Castro eram denodados praticantes (excepto, José Cardoso…) e das oito linhas que o (fraco) poeta escreveu na Ponte do Barroco, no dia 15 de Junho de 1860. Diziam assim:

Ruge a tormenta espumosa.
Mas no mar serena entrou;
Tal a vida tormentosa:
Chega à campa, e serenou.

Triste imagem desta vida.
Que me Deus fadou a mim!
Diz-me, ó onda enfurecida,
Qual teu principio e teu fim?

José Cardoso Vieira de Castro, aos 23 anos (1861), publicou a obra Camilo Castelo Branco: Notícia da sua Vida e Obras, considerada por muitos como a legitimação ou desculpabilização do adultério de Camilo.
Em 1861-62, desempenhou o cargo de Vereador e Vice-Presidente da Câmara de Fafe e no ano seguinte regressou à Universidade de Coimbra, para concluir a seu curso de Direito, dez anos depois de o ter começado.
Em 1865/66, cumpriu o seu mandato como deputado às Cortes pelo círculo de Fafe, tendo produzido mais de uma dezena de discursos que marcaram a contemporaneidade. Rodrigues Sampaio proclamou, na altura: Nem a tribuna antiga, nem a moderna nos deram melhores modelos de eloquência.
Em 1866, publicou os seus Discursos Parlamentares e partiu para o Brasil com 10 mil exemplares daquela obra, que projectava vender, para desipotecar a sua Casa do Ermo. Acusavam alguns que o que ele pretendia mesmo era ajustar casamento com uma jovem rica, o que veio a acontecer.
Em 1867, com 29 anos, pronuncia no Rio de Janeiro o célebre Discurso sobre a Caridade e casa com a jovem Claudina Adelaide Guimarães, de apenas 15 anos, filha do riquíssimo capitalista Comendador António Gonçalves Guimarães, emigrante fafense, natural de S. Clemente de Silvares, importante livreiro e director do Banco do Brasil e do Banco Rural e Hipotecário.
Dois anos depois, fixa residência em Lisboa, na célebre Rua das Flores, 109.
Em 7 de Maio de 1870, tinha 32 anos e três de matrimónio, surpreende a esposa a escrever uma pretensa carta de amor a José Maria de Almeida Garrett, sobrinho do escritor das Viagens na Minha Terra.
Dois dias depois, ruído pelos ciúmes e atormentado pela loucura da honra, José Cardoso assassina a esposa Claudina, por sufocação com a roupa da cama, depois de a ter tentado matar fazendo-a ingerir grande quantidade de clorofórmio.
Preso, foi julgado e condenado a 10 anos de degredo em Angola, pena posteriormente agravada para 15 anos.
Em 5 de Setembro de 1871, com 33 anos, partiu de Lisboa para cumprir a pena. Pouco mais de um ano depois, em 5 de Outubro de 1872, com apenas 34 anos de idade, o infeliz e desgraçado José Cardoso morria em Luanda, às 9 horas da noite, vítima de uma febre perniciosa fulminante, forma gravíssima de paludismo ou de malária.
Ninguém recorda hoje o tribuno excelente, o político ambicioso e inteligente, o eloquente orador, o autor de Uma Página da Universidade (Porto, 1858), Discursos Parlamentares (Lisboa, 1866), A República (Porto, 1868), Colónias (Porto, 1871), ou Correspondência Epistolar entre José Cardoso Vieira de Castro e Camilo Castelo Branco, entre outras importantes obras, mas toda a gente aponta o Vieira de Castro que estrangulou a mulher e figura na Galeria dos Criminosos Célebres, como alguns pretendem. O que não deixa de ser gravosa injustiça!
José Cardoso Vieira der Castro está consagrado, justamente, na toponímia fafense há mais de um século!