Fafe é terra benquista de poetas, de artistas e de visionários. De homens e de mulheres de boa e de má fama. Pulsa a sua alma nómada, à conquista de uma identidade tardia. Por aqui estanciaram povos antigos, como os celtas e os romanos. Há quem fale também nos árabes. Seguramente, os lusitanos. Mas não somos todos filhos dessa ecléctica herança avoenga que foi deixando vestígios, materiais ou imateriais, no território que nos coube em sorte, para que nos recordemos que não surgimos de geração espontânea?
Fafe releva como terra de passagem, entre o litoral e o interior. Fronteira. Charneira. Entre o verde que pinta o Minho de vigor e a dureza milenar das fragas transmontanas. Somos o fim ou o princípio? Viagem ou apego ao rincão natal?
Residente, mas também emigrante. Imensamente emigrante, desde imemoráveis eras. A partir de meados do século dezanove, Fafe rumou ao Brasil, ao Rio, ao Pará, à borracha, à árvore das patacas. Quando regressou, exibiu vistosa riqueza nos palacetes, ornados de motivos reproduzidos das Terras de Vera Cruz, dos brilhantes azulejos às típicas clarabóias, passando pelas varandas de ferro forjada ou fundido e pelas imensas janelas por onde entra a luz e saem sinais de opulência. Participou na vida municipal, promoveu o desenvolvimento industrial, envolveu-se em obras filantrópicas, fundou escolas. O emigrante fez-se depois à Europa, a maior parte das vezes a salto, clandestina, perigosamente, para fugir à pobreza e escapar à guerra e à obscuridade salazarista. Andou por franças e araganças. Dormiu em carruagens de comboio e penou em bairros de lata, infectos como o desespero. Mandou francos, em torrentes, mas também marcos, liras e dólares. Comprou courelas nas aldeias, construiu casas, pôs os filhos a estudar e regressou à terra, na retraite.
Viajante, emigrante, mas amante da justiça. Fafe impõe-se no imaginário colectivo como “terra da justiça”, o que significa que “com Fafe ninguém fanfe”. Ninguém zomba desta terra e das suas gentes, que têm no jogo do pau um símbolo maior da sua memória, na vitela e no pão-de-ló os emblemas da gastronomia que as singulariza e na procissão de Nossa Senhora de Antime o momento glorioso e arrebatador de fé anual.
E quem diz justiça, diz liberdade. Fafe afirma-se como terra sagrada onde o combate pela liberdade e pela dignidade humana se travou, sem tréguas, contra um sistema triturador de destinos, de ambições, de desejos. O longo país do medo.
Por aqui passaram enérgicas lutas pelo pão-nosso de cada dia para os trabalhadores e suas famílias, mas também, e sobretudo, pela nobreza, pela honra, pelo carácter, pela integridade. Ou seja, pela democracia que, num radioso dia de Abril, os capitães haviam de fazer florir, já lá vão mais de três décadas. Esse “dia inicial, inteiro e limpo/ onde emergimos da noite e do silêncio/ e livres habitamos a substância do tempo”, no dizer luminoso de Sophia.
Fafe é tempo, história e memória. O Povoado Fortificado de Santo Ovídio, a Igreja Românica de Arões, a Casa da Quintã da Luz, a Central Hidroeléctrica de Santa Rita, a arquitectura brasileira, entre miríades de outros baluartes do património que o homem foi tecendo aos longo dos séculos neste território.
É verdade! Por aqui se refugiou Camilo, em meados de novecentos, deixando páginas que engrandecem o passado colectivo, concordemos ou não com as suas palavras. Quem diria que esta terra está na rota do percurso vital do eterno romancista do “Amor de Perdição”?
E que dizer do Vizela, remansoso rio que aqui nasce, em Gontim, serpenteando o concelho, por entre margens de silêncio e asas, despenhando-se em Queimadela, para correr, tranquilo, as várzeas de Golães e Cepães, abandonando o cristalino das águas pelo colorido das tinturarias?
Mas Fafe é também espaço de modernidade, de evolução para um universo citadino que faz as delícias dos habitantes e de quem nos visita. Andemos pelas ruas, sentemo-nos nos bancos das praças, ouçamos a música ambiente, convivamos na Arcada, respiremos os jardins, desçamos às aldeias, por estradas confortáveis, apreciemos as belíssimas casas que por lá se erguem, com todas as comodidades, saudemos o progresso, indesmentível. E amemos as boas gentes laboriosas, peles crestadas pelo Verão e pelas colheitas, pelo sol divino que engravida o chão de uberdade e fartura.
Do passado e do presente se vai cosendo a doce identidade desta terra, a golpes de suor, trabalho, sacrifício, dedicação, experiência, sabedoria.
Resta a argamassa do futuro, a matéria insondável dos sonhos.
Fafe releva como terra de passagem, entre o litoral e o interior. Fronteira. Charneira. Entre o verde que pinta o Minho de vigor e a dureza milenar das fragas transmontanas. Somos o fim ou o princípio? Viagem ou apego ao rincão natal?
Residente, mas também emigrante. Imensamente emigrante, desde imemoráveis eras. A partir de meados do século dezanove, Fafe rumou ao Brasil, ao Rio, ao Pará, à borracha, à árvore das patacas. Quando regressou, exibiu vistosa riqueza nos palacetes, ornados de motivos reproduzidos das Terras de Vera Cruz, dos brilhantes azulejos às típicas clarabóias, passando pelas varandas de ferro forjada ou fundido e pelas imensas janelas por onde entra a luz e saem sinais de opulência. Participou na vida municipal, promoveu o desenvolvimento industrial, envolveu-se em obras filantrópicas, fundou escolas. O emigrante fez-se depois à Europa, a maior parte das vezes a salto, clandestina, perigosamente, para fugir à pobreza e escapar à guerra e à obscuridade salazarista. Andou por franças e araganças. Dormiu em carruagens de comboio e penou em bairros de lata, infectos como o desespero. Mandou francos, em torrentes, mas também marcos, liras e dólares. Comprou courelas nas aldeias, construiu casas, pôs os filhos a estudar e regressou à terra, na retraite.
Viajante, emigrante, mas amante da justiça. Fafe impõe-se no imaginário colectivo como “terra da justiça”, o que significa que “com Fafe ninguém fanfe”. Ninguém zomba desta terra e das suas gentes, que têm no jogo do pau um símbolo maior da sua memória, na vitela e no pão-de-ló os emblemas da gastronomia que as singulariza e na procissão de Nossa Senhora de Antime o momento glorioso e arrebatador de fé anual.
E quem diz justiça, diz liberdade. Fafe afirma-se como terra sagrada onde o combate pela liberdade e pela dignidade humana se travou, sem tréguas, contra um sistema triturador de destinos, de ambições, de desejos. O longo país do medo.
Por aqui passaram enérgicas lutas pelo pão-nosso de cada dia para os trabalhadores e suas famílias, mas também, e sobretudo, pela nobreza, pela honra, pelo carácter, pela integridade. Ou seja, pela democracia que, num radioso dia de Abril, os capitães haviam de fazer florir, já lá vão mais de três décadas. Esse “dia inicial, inteiro e limpo/ onde emergimos da noite e do silêncio/ e livres habitamos a substância do tempo”, no dizer luminoso de Sophia.
Fafe é tempo, história e memória. O Povoado Fortificado de Santo Ovídio, a Igreja Românica de Arões, a Casa da Quintã da Luz, a Central Hidroeléctrica de Santa Rita, a arquitectura brasileira, entre miríades de outros baluartes do património que o homem foi tecendo aos longo dos séculos neste território.
É verdade! Por aqui se refugiou Camilo, em meados de novecentos, deixando páginas que engrandecem o passado colectivo, concordemos ou não com as suas palavras. Quem diria que esta terra está na rota do percurso vital do eterno romancista do “Amor de Perdição”?
E que dizer do Vizela, remansoso rio que aqui nasce, em Gontim, serpenteando o concelho, por entre margens de silêncio e asas, despenhando-se em Queimadela, para correr, tranquilo, as várzeas de Golães e Cepães, abandonando o cristalino das águas pelo colorido das tinturarias?
Mas Fafe é também espaço de modernidade, de evolução para um universo citadino que faz as delícias dos habitantes e de quem nos visita. Andemos pelas ruas, sentemo-nos nos bancos das praças, ouçamos a música ambiente, convivamos na Arcada, respiremos os jardins, desçamos às aldeias, por estradas confortáveis, apreciemos as belíssimas casas que por lá se erguem, com todas as comodidades, saudemos o progresso, indesmentível. E amemos as boas gentes laboriosas, peles crestadas pelo Verão e pelas colheitas, pelo sol divino que engravida o chão de uberdade e fartura.
Do passado e do presente se vai cosendo a doce identidade desta terra, a golpes de suor, trabalho, sacrifício, dedicação, experiência, sabedoria.
Resta a argamassa do futuro, a matéria insondável dos sonhos.
2 comentários:
Fafe é terra de acolhimento! É terra que recebe os seus filhos adoptivos com alguma desconfiança, mas que lhes dá colo e deixa prosperar!
Fafe é terra de amores! De resgate dos melhores momentos de infãncia, da melhor juventude vivida, e da mais segura calmia para a agitação da vida adulta!
Fafe é terra de afectos!
Terra de gente simpática!
Terra de gente de bem.
Fafe não é a minha terra, mas é a terra que me diz muito e à qual quero muito bem!
Fafe é o meu repouso!É onde mora o meu sossego e a minha turbulência!
Onde me preocupo com os que mais amo e onde mora a minha paz!
fafe é a minha cidade!
Mas que belíssimo texto que a Luísa nos trouxe, alguns meses depois do lançamento deste blogue. Valeu a pena esperar.
É um dos mais felizes textos que já vi escritos sobre Fafe, por quem daqui não é, como acontece comigo próprio, que sou fafense adoptivo, embora me considere desta terra de todo o coração!...
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