sábado, 14 de julho de 2012

Num país civilizado, Miguel Relvas já não seria ministro!

1. Já não bastava Miguel Relvas estar lamentavelmente envolvido no caso das “secretas”, um acontecimento muitíssimo mal esclarecido, com mentiras e meias verdades pelo meio e que só não teve mais consequências porque a maioria política se opôs a que a verdade viesse ao de cima, como o azeite.
Já não bastava Miguel Relvas estar envolvido nas pressões ilícitas a uma jornalista do Público, de que só foi ilibado pela votação dos seus correligionários da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
Não se provou nada, porque não o quiseram os Magnos e outros membros “alinhados politicamente”, a quem só teoricamente interessa a descoberta da verdade.
Quando a história destes episódios for feita e a verdade reposta, já não haverá consequências políticas! O que não aconteceria se fosse apurada nesta altura, como deveria.
Eis senão quando, volta a falar-se de Relvas, pela negativa, pela mentira (um registo biográfico no parlamento, em 1985, onde se mencionava que era estudante universitário do 2º ano de direito, quando não havia tirado senão uma cadeira do 1º ano…), pelo mau exemplo, pelo alargamento das Novas Oportunidades ao ensino superior, coisa que se julgava impensável.
Agora fala-se de Miguel Relvas, depreciativamente, pela sua licenciatura. À memória vem José Sócrates, mas perante este caso, Sócrates é pós-doutorado, quase catedrático, pois andou vários anos na Universidade.
A imprensa não fala em outra coisa por estes dias: o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares do actual governo (aquele que tem um ministro que alega tanta exigência na vida escolar e está calado que nem um c-rato perante este excesso de facilitismo…) obteve 32 equivalências e fez apenas 4 (quatro) exames para obter a licenciatura em Ciências Políticas e Relações Internacionais. Num anos apenas. Pasmem os deuses!... Em que prestigiada instituição universitária? Na Universidade Lusófona. Pois…
Os cargos públicos que Relvas ocupou desde os 26 anos valeram-lhe a equivalência a 14 disciplinas. É obra!... O “exercício de funções privadas, empresariais e de intervenção social e cultural”, que incluem um cargo numa associação folclórica, valeram mais 15 equivalências. Mais obra!... E assim por diante. É inacreditável. Pode ser legal, pelo processo de Bolonha (há quem lhe chame de vergonha). Pode ser um “não assunto” para um primeiro-ministro que deveria ser mais criterioso nas palavras que escolhe e que cada dia escapa mais para um tom arrogante, insensível e autoritário que antecessores usaram e que não deu bons resultados. Foi o princípio do fim de alguns.
Pode não haver ilicitudes ou irregularidades neste processo (se não há porque é que a Procuradoria Geral da República está tão atenta?), mas que há uma imoralidade gigantesca ninguém duvida. Que há uma vigarice de todo o tamanho, nem sou eu quem o diz. Tem vindo escarrapachado em tudo o que é media.
Que é que pretendeu Miguel Relvas? Claramente apenas o título de “doutor”, sem o qual ninguém tem estatuto neste país parolo de “doutores e engenheiros”. Porque não quis obter conhecimentos, nem aprendizagens, nem saberes, porque senão teria feito o percurso normal dos estudantes vulgares. Valeu-se de um “expediente” proporcionado pelos seus amigos da Lusófona (o amigo que certificou 160 créditos já foi promovido pela escada abaixo…), que é o que está no sangue do chico-espertismo nacional.
Que exemplo é que um governante com este percurso dá aos mais jovens que têm pela frente cursos de três ou mais anos de licenciatura e mais dois de mestrado para entrarem numa profissão? Pensarão para os seus botões: “para que vou chatear-me a estudar? Inscrevo-me numa jota, faço um currículo político afiançado e haverá sempre uma Lusófona amiga que, num ano, me certifica o currículo, as competências e a experiência profissional (e ainda por cima a desembolsar um décimo do que custa o curso). E com um jeitinho, sem saber nada, ainda dou aulas a quem sabe mais que eu!”...
Se não estamos perante uma escandaleira, andamos lá perto.
Passos Coelho deveria envergonhar-se de criticar as Novas Oportunidades, porque o seu ministro aí está para demonstrar as virtualidades, a essência, a substância, o paradigma do programa. Se alguém que de alguma forma foi formado nas Novas Oportunidades aplicadas ao ensino superior conseguiu chegar a segunda figura do governo, tal só depõe a favor deste importante programa que o PSD tão injustamente quer eliminar, pondo em causa futuras licenciaturas “à maneira de Miguel Relvas”.
No fim de contas, a ideia que fica, no meio de todo este imbróglio, é que Passos Coelho está refém de Relvas e não sabe como mandá-lo à vida.
Com todas as trapalhadas em que esteve e está metido, Relvas prejudica inequivocamente a imagem do governo e do país.
Por isso, espanta que continue no exercício do cargo. Como surpreende que o Presidente da República não exerça a sua magistratura de influência junto do governo para devolver Relvas aos seus negócios, que poderão, quem sabe, dar equivalência a um mestrado na Lusófona!...

2. Agora percebo porque é que os patrióticos deputados da Nação, de todos os partidos, não abdicaram de receber os subsídios de férias e de Natal neste ano da (des)graça de 2012, ao contrário dos mais de 1 milhão de funcionários públicos e pensionistas que se viram privados deles, com os consequentes e dramáticos (para muitos) reflexos na vida pessoal e na economia da região e do país.
É que os nossos parlamentares já adivinhavam que a suspensão era inconstitucional e se há coisa de que eles não querem ser acusados é de violar a Constituição. Assim, o melhor é meter os subsídios ao bolso, para se cumprir a Lei Fundamental!...
É sempre enternecedor ver os deputados da Nação defender os seus interesses!...

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei imenso do seu texto. De tal forma que o transcrevi para o meu blog, com a devida identificação do autor e referência ao seu blog.