quinta-feira, 28 de outubro de 2010

É NO POEMA QUE NASCE E ESTÁ A LIBERDADE

Num tempo de escuridão, o poema – o que quer que isso seja, nem que a pura escrita das manhãs que acordam numa aldeia minhota – é um lugar de luz. Como escrevia Sophia, é no poema que está e nasce a liberdade.
É o exercício dessa liberdade livre que funda e permanece no acto de quem escreve, não para mudar o mundo (que a palavra não tem dotes taumatúrgicos…) mas para se tornar mais humano, mais divino, mais puro e solidário.
Contra as sombras, as mediocridades, as ervas daninhas do quotidiano, a poesia – e em geral, a escrita – instaura-se como chama, incêndio, fulgor. O fogo da diferença, essa missão indeclinável e apetecível de ser aurora da criação, catedral de sentimentos, discurso directo do coração.
O dia a dia é a consagração da vulgaridade, da abrupta e aborrecida normalidade, da mais insidiosa e estúpida telenovela da vida: dos que se esquecem de viver, dos que transferem a sua vida para os ecrãs da fantasia, dos que recusam a utopia em nome de rasteiros interesses.
A escrita nasce da opção por um estado outro de ser, de estar e de querer. A denegação dos bichos da terra vis e tão pequenos de que se lamentava Camões, nos Lusíadas, essa epopeia patriótica que a Escola hoje desvaloriza, ou menospreza, num crime de lesa-cultura, não por culpa própria, naturalmente, mas por decisões vindas dos estúpidos poderes que vamos suportando. É a libertação de asas e grilhetas que agarram os humanos à terra; é o voo fantástico em busca da eternidade.
Quer dizer, da luz.
Escrevo, não como quem respira, óbvio, nem como obrigação de me sacrificar em cinco milhares de caracteres diários, longe disso, mas quando me dá na real gana e com o esforço próprio de quem poda os galhos de uma estátua que vai esculpindo, ao sabor do momento e da emoção que transporta.
Escrever incomoda como andar à chuva, parafraseando Pessoa. Mas não me importo de uma boa molha, para expressar as minhas inquietações, os meus anseios, as minhas alegrias, que possa partilhar com os leitores deste blogue... Como tenho feito até agora, parece-me.

2 comentários:

Luísa disse...

A escrita é um lugar de bem estar, numa qualquer sala!
Dizem que "a poesia é o antídoto da imbecilidade"...
Por isso, o melhor remedio é escrever, usar as palavras e delas nos servirmos com aliados no acto de criar.
Beijinho terno, senhor das letras!

ARTUR COIMBRA disse...

A escrita é o que sabemos fazer, e nos dá conforto, seiva e vida. As palavras são a nossa vocação, a nossa perdição ou o nosso refúgio.
Um beijo grande para si também,poetisadas coisas simples e belas da vida!