sexta-feira, 3 de maio de 2013

DIA DO TRABALHADOR. OU NEM POR ISSO!

Esta quarta-feira comemorou-se mais uma vez o Dia Internacional do Trabalhador.
Supostamente, e respeitando a efeméride, deveria ser um dia de festa e de luta, como de costume.
De festa, para evocar os progressos que se registaram ao longo de um século em favor da dignificação do trabalho e da pessoa do trabalhador.
De luta, no sentido de conseguir que os trabalhadores sejam mais respeitados e honrados nas situações em que o não estão a ser. Claramente.
Por esta altura, o Dia do Trabalhador, no nosso país, não é uma coisa nem outra. Dramaticamente.
Poderíamos, antes, afirmar que estamos em presença de um dia de luto e indignação.
Luto pela perda constante e reiterada de direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores.
Os trabalhadores portugueses estão a ser espoliados, despudoradamente, escandalosamente, de direitos conquistados ao longo de décadas, desde o 25 de Abril de 1974. Estamos em presença da maior ofensiva contra os trabalhadores dos últimos 40 anos: em matéria de horário de trabalho, de vencimentos, de consideração pela dignidade das pessoas que exercem uma profissão.
Hoje por hoje, um trabalhador é apenas uma mercadoria, uma coisa, num sistema mercantilista. Um instrumento absolutamente descartável: se não serve, deita-se fora, como inutilidade. A pretexto de uma qualquer reorganização ou reestruturação de serviços, despede-se um trabalhador, com o maior dos à-vontades, com a mais pérfida insensibilidade, como se fora lixo.
É o capitalismo selvagem no seu esplendor, sem alma, sem coração, como há muito não se via.
Estamos em presença de um claro e acentuado retrocesso civilizacional de muitas décadas.
A indignação surge exactamente desse desrespeito pela pessoa humana, pelo trabalhador em si, que não é uma fria máquina, um mero número, uma cifra de pontógrafo, mas um ser com sentimentos, com vivências, com qualificações, com competências, com atitudes, com objectivos. Muitas vezes, se não funciona, se não rende mais, é porque o sistema envolvente não e motivador, ou porque a organização falha rotundamente.
O luto tem mais um nome: desemprego. Escandaloso! Inadmissível. Inqualificável.
Desemprego em todos os sectores, com mais de um milhão de inactivos, mas em especial entre a geração mais jovem, sonhadora e qualificada.
Um desemprego que representa já 38,3% do total dos portugueses que não conseguem uma colocação compatível no mercado do trabalho. A quarta taxa de desemprego jovem mais elevada da União Europeia, atrás da Grécia, Espanha e Itália.
No mesmo dia em que supostamente se festejaria o Dia do Trabalhador – com cada vez menos trabalhadores e mais desempregados – o governo indiciava cortes nas funções sociais do Estado, em valores colossais, indiciando mais despedimentos, mais falências, mais desemprego. Mais confisco nas retribuições e nas prestações.
Um futuro mais comprometido, seguramente, para o país e para os portugueses.
Bem pode pregar o Papa Francisco contra a escravatura dos trabalhadores em face dos sistemas vigentes na economia mundial!... Ninguém o ouve, nem o leva a sério, porque o determinante são os lucros, a especulação, não a ética ou a deontologia do mercado laboral, que simplesmente não existem!
O valor do trabalho é cada vez menos reconhecido e considerado. O trabalhador cada vez menos dignificado e valorizado.
Basta atentar neste simples pormenor (ou pormaior): há quanto tempo não se vislumbra o anúncio de uma medida, por mais pequena que seja, que beneficie os trabalhadores, os desempregados ou os aposentados, restituindo-lhes alguns dos seus direitos e regalias?!...
Em contrapartida, assiste-se a uma vergonhosa protecção dos grandes interesses, das escandalosas parcerias público-privadas aos ruinosos negócios do BPN ou do BPP, das rendas excessivas da EDP ao recém-descoberto escândalo dos contratos “swap”, que, mais uma vez, como sempre, sobram para os contribuintes pagarem.
Por isso, é que o Dia do Trabalhador não é já de festa e de luta, mas de indignação e de luto!
E oxalá não descambe para formas mais vigorosas de indignação e revolta. Já estivemos bem mais longe, apesar do mito de um “povo de brandos costumes”, que não passa de uma bem comportada ficção salazarista, sem correspondência à realidade.

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