sexta-feira, 27 de agosto de 2010

NOSSA SENHORA DAS NEVES: ONDE SE VAI “TIRAR O DIABO”

Neste fim-de-semana, termina o ciclo das principais festas e romarias que, anualmente, animam o concelho nos meses de Verão, coincidindo com os ritmos agrários das colheitas. Referimo-nos às festividades em honra de Nossa Senhora das Neves, na Lagoa (dia principal na sexta-feira) e à Senhora das Graças, em Travassós (sábado e domingo). Sobra o S. Mateus, em Medelo, lá para Setembro. Essa é mesmo a última romaria de cada ano.
A romaria em honra de Nossa Senhora das Neves, no santuário da Lagoa, lugar dividido pelas freguesias de Aboim e Várzea Cova, acaba por ser uma das principais e mais simbólicas romarias do concelho de Fafe e de todo o Minho, no quadro do culto à Virgem Maria. Para alguns, mesmo a primeira. Aqui ficam algyuns dados sobre a mesma.
Todos os anos, na última sexta-feira de Agosto, como manda a tradição, milhares de devotos sobretudo do Norte, sobem à Lagoa, com um único objectivo, para além de rezarem e cumprirem promessas: colocar a imagem de Nª Sª das Neves na cabeça. Crêem assim ficar libertos do mal. O gesto de colocar a pequena “santa” na cabeça funciona como exorcismo, ou na linguagem popular dos que o fazem, para “tirar o Diabo”.
As primeiras referências ao culto de Nossa Senhora das Neves aparecem no início do século XVIII (1706), na Corografia Portuguesa, do Padre Carvalho da Costa.
Seis anos após esta descrição, em 1712, Agostinho de Santa Maria publica Santuário Mariano, e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora, em que fala da Senhora das Neves da Lagoa. Aí refere que o lugar de “Alagoa” pertence, uma parte, ao concelho de Monte Longo e outra ao de Basto. O Santuário situava-se “na parte que pertence a Monte Longo, (...) em um terreno largo, e espaçoso, (...) sítio muito áspero, e escabroso; porque é uma terra de muitas penedias, e matos muito fechados, e espessos, e muito alta e ingreme de subir. No inverno é este sítio muito frio, e desabrido, pela muita neve que ali cai”.
O cronista aborda a lenda que deu origem ao culto e que foi transmitida, de geração em geração, até aos nossos dias. Segundo a tradição, a imagem apareceu a uma inocente pastorinha que guardava algumas ovelhas no monte da Lagoa, em dia de muita neve, sobre uma árvore a que chamavam “esqualeiro” (escalheiro). Rejubilante com o achado tesouro, a pastorinha tomou a imagem da Senhora e meteu-a no cabaz em que costumava recolher o pão e as maçarocas. “Com esta rica jóia se recolheu a casa muito alegre, e chamava à Senhora a sua Santinha, e lhe ia fazendo muita festa”. Ainda segundo aquele autor, a jovem pastora “naquela noite sonhou que a Senhora lhe dizia, que no lugar em que a descobrira, se lhe devia fazer uma casa em que fosse venerada”. Quando, ao acordar, foi buscar a imagem ao cesto das maçarocas e não a encontrou, inquietou-se.”Toda sentida e lacrimosa”, correu para o monte onde a tinha encontrado e foi a própria Mãe de Deus que a consolou, dizendo-lhe: “Não chores, que cedo me verás todos os dias”.
Ajuntam outros, acrescentando a lenda, que os pastores colocaram a imagem num carro de bois que, depois de uma longa caminhada, parou no largo onde depois se ergueu o Santuário.
No século XVIII, já temos assim testemunho de que o culto à Senhora das Neves estava espalhado pela região, pois “as maravilhas, que obra Deus por intercessão de Sua Santíssima Mãe em este Santuário, não têm número”, sendo assim este muito frequentado por grande número de romeiros de Braga e Guimarães.
Para o Padre Coelho de Barros, anterior capelão do Santuário, não há exorcismos, nem possessões diabólicas no local, antes manifestação de fé mariana. Seja por que razão for, para “tirar o Diabo”, como reza a tradição, ou por pura expressão de Fé, o que é certo é que a romaria em honra de Nossa Senhora das Neves da Lagoa é uma das mais concorridas do Minho, concitando a presença de milhares e milhares de romeiros das mais variadas partes do norte do País, enchendo por completo o amplo recinto do Santuário e colorindo a montanha com larguíssimas centenas de automóveis e autocarros.
O Santuário de Nossa Senhora das Neves, que comporta ainda imagens da família de Nossa Senhora (S. Joaquim, Santa Ana, S. José, Menino Jesus, Zacarias, Santa Isabel e S. João Baptista), é um dos motivos mais importantes do concelho de Fafe, ao nível do turismo religioso e cultural, que importa conhecer e valorizar.

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