segunda-feira, 9 de agosto de 2010

BOMBEIROS: ELES SÃO OS HERÓIS (E OS MÁRTIRES)


O país está em brasa, desde há três semanas consecutivas. Os incêndios contam-se já pelos milhares, lavram por tudo quanto é mata, de norte a sul do país, aproveitando as altas temperaturas (2010 será, porventura, um dos anos mais quentes de que há memória – alertam os especialistas), a ausência de humidade, a negligência dos cidadãos e a falta de limpeza das propriedades públicas e privadas.
Só na última semana registaram-se mais de 2500 fogos florestais, à média de 400-500 por dia, que vão fazendo as aberturas dos telejornais e as manchetes da imprensa. Este fim-de-semana, foi para acabar, com centenas de ocorrências, mais ou menos graves. Em Fafe, também as coisas estiveram muito más, sobretudo no sábado, em diversas frentes. Mas não passa um dia sem que as nuvens de fumo se elevem sobre o anel do concelho, aqui, ali, acolá, como se um dedo invisível programasse o acendimento das chamas quase em simultâneo…
Fogo posto? Incúria? As opiniões dividem-se. Os governantes não gostam de apontar o dedo aos incendiários, até pela dificuldade que as autoridades têm manifestado em prendê-los e mantê-los detidos. Mas não restam dúvidas ao cidadão comum, que não tem que falar a linguagem politicamente correcta e conveniente, que a imensa maioria dos fogos é de origem criminosa. Há assassinos à solta pelo país, que não olham a meios para desertificar o território, seja qual for o interesse. Não há que os defender, como parecem querer os governantes, que apontam sistematicamente o dedo no sentido errado, por incompetência ou incapacidade; há que denunciar os criminosos e há que endurecer as sanções penais, neste como em outros casos, em que a Justiça é perversamente leviana, como na pedofilia, na violência doméstica, nos assaltos violentos, entre outras situações em que o Estado de Direito está em causa. O lugar dessa cambada é nas masmorras.
No meio de todo este pântano, salvam-se os bombeiros deste país. Eles são os heróis do quotidiano. Eles não olham à sua vida para defender a vida e os bens alheios. Eles levantam-se todos os dias sem saber se vão comer, quando vão comer, se vão regressar a casa e rever a sua esposa e os seus filhos. Eles não têm descanso, não têm horas para ler o jornal, ou para tomar o café; enquanto as chamas dão luta eles dão combate às chamas.
Saem dos quartéis a desoras e não sabem quantas horas vão permanecer no mato, quantas vezes sem água para beber, ressequidos e exaustos, a lutar pelo que não é deles, a ouvir impropérios, injúrias e má educação. Ou porque não chegaram quando as pessoas queriam, ou porque não trouxeram os meios adequados. Esquecem-se os delatores, frequentemente, que se o monte está a arder é porque eles não o limparam como deviam, é porque a prevenção – que é o passo fundamental – não foi cumprida. Alguém os deveria ter obrigado a executar as suas obrigações… Enquanto a prevenção não for coactiva, não vamos lá, nem como centenas de meios aéreos e milhares de operacionais…
“As pessoas podem confiar nos homens que estão no terreno” – gosta de proclamar o ministro Rui Pereira. E é verdade: os bombeiros são a classe social em que os cidadãos mais genuinamente confiam. Ao contrário dos políticos, situados no limite oposto.
São heróis os bombeiros. Mas também são mártires. Todos os anos se registam vítimas mortais e muitos feridos, eles que dão a sua vida em holocausto pelas existências alheias.
Na nossa região, lembramo-nos de que no ano transacto uma viatura dos Bombeiros Voluntários de Esposende, que se deslocava para Fafe para apoiar no combate aos fogos florestais, capotou bem próximo da nossa cidade, morrendo estupidamente três voluntários daquela corporação amiga.
Há uma semana, exactamente, na tarde de um de Agosto, faleceu o adjunto do comando dos BV de Cabo Ruivo, quando se deslocava de Fafe para Lisboa, depois de uma semana a ajudar os nossos voluntários. Do acidente, na Mealhada, resultaram mais cinco feridos, que também aqui haviam exercido a sua humanitária acção.
Esta segunda-feira morreu um sub-chefe de Alcobaça, no “caldeirão” de S. Pedro do Sul, onde no fim-de-semana haviam ficado feridos dois bombeiros.
Nesta terça-feira, uma jovem bombeira, de 21 anos de idade, morreu carbonizada no combate a um incêndio em Gondomar, fazendo ainda um ferido com queimaduras graves e dois ligeiros.
Ainda no fim-de-semana, mais cinco bombeiros ficaram feridos em Miranda do Corvo. Curiosamente, a maioria em acidentes de viação, que não no combate às chamas!...
Como relata o JN de terça-feira, desde 1980, morreram em Portugal 183 bombeiros, 60% dos quais em sinistros rodoviários. A ir, a vir ou a fugir dos incêndios que criminosos atearam...
É esta a “paga” pelos serviços prestados à humanidade, por estes gloriosos voluntários tantas vezes incompreendidos: pagam com a vida ou com lesões e doenças a sua dádiva, no fundo, cristã, ao semelhante que não conhecem, nem é necessário que conheçam.
O seu lema é “Vida por Vida” – esteja onde estiver, seja quem for!
Benditos voluntários que este país tem! Benditos bombeiros que Fafe tem! Eles são justamente credores do nosso maior reconhecimento, da nossa maior amizade, respeito e solidariedade!
Eles merecem todas as nossas rosas!...
(Foto: Manuel Meira Correia)

3 comentários:

Anónimo disse...

Embora tecnicamente tenha uma opinião diferente sobre o trabalho dos bombeiros, humanamente, devo confessar a minha estima pelo desempenho que dedicam ao seu trabalho.São pessoas de bem que só se veem louvadas quando a corneta toca vestida de preto!
Antes do toque da corneta, antes da sirene os pôr a andar em situação de imprudência (e não de emergência), façam-se ouvir as vozes dos estudiosos do comportamento do fogo, para que com eles possamos aprender a controlá-lo!
Um bem haja a todos os bombeiros!
Um bem haja a quem lhes rende homenagem numa Sala de Visitas do Minho, como quem convida os seus leitores para a mais bela das tertúlias: o discurso humanitário, num mundo de loucas vivências!!!

Beijinho terno,
Luísa

ARTUR COIMBRA disse...

Obrigado, Luísa, pelo seu comentário amigo, atento e sempre terno.
Os bombeiros, pesem alguns eventuais erros e voluntarismos, que sempre os há, são os heróis do nosso quotidiano, quer na situação de ataque aos fogos florestais, quer na assistência aos doentes, aos feridos e aos acidentados.
É com grande orgulho que, presentemente, sirvo a A H dos Bombeiros Voluntários de Fafe, na vice-presidência da direcção.

Um beijo amigo do
Artur Coimbra

Josefa disse...

"Há assassinos à solta pelo país, que não olham a meios para desertificar o território, seja qual for o interesse."

Nisso tenho de concordar.

Veja aqui: http://voodofalcao.blogspot.com/2010/06/desertificacao-das-nossas-aldeias.html

"A política seguida pelos sucessivos (des)governos, a destruição da agricultura e actividades complementares imposta pela PAC (Política Agrícola Comum) da Comunidade Europeia, levou ao abandono dos campos, à sua desertificação e despovoamento.

As autarquias que deviam tentar combater essa tendência acabaram por alimentar essa política e "permitiram", sem reagir, o encerramento de muitas "actividades económicas e sociais, lojas comerciais, instalações dos CTT, agências bancárias, postos da GNR, serviços de Saúde além das restrições nos transportes e em muitas outras actividades".