Desenho de Isolino Vaz, 1961 |
Era uma vez, lá na Judeia, um rei,
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquele figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E na verdade, assim acontecia,
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Ou não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
1 comentário:
E não é que ainda o sei de cor!!!!?
Havia alguém, na escola da Feira-Velha, que declamava todos os anos, no Natal, este belo poema!
E que belo momento vivia, pois mostrava nos seus gestos a ira pela injustiça causada pelo tal rei da Judeia!
que bom é recordar...
Mil beijinhos natalicios!
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