Em todos os momentos, mas sobretudo em alturas de crise, em que se torna mister auxiliar os que mais necessitam, os portugueses demonstram ser um povo solidário que, muitas vezes, dá a própria camisa para ajudar o próximo.
Numa conjuntura de crescente aperto económico e quando se aproxima a quadra natalícia, mais propícia aos actos de dar e contribuir, enfim, de exercer mais profundamente o humanitarismo, a solidariedade nacional não deixa de se evidenciar exuberantemente, como acaba de acontecer com a campanha do passado fim-de-semana para os Bancos Alimentares contra a Fome. Foram recolhidas em todo o país 3265 toneladas de alimentos, o que representa mais 775 toneladas que o ano passado (um acréscimo de 30%). Segundo a comunicação social, a recolha deste ano bateu os recordes quer de alimentos doados, quer de voluntários envolvidos, mais de 30 000.
Na verdade, se há muita gente que dá o que lhe sobra, e tem meios para muito mais, também há muitos portugueses, de mais débeis recursos, vivendo de parcas reformas ou escassos subsídios, que tiram algo ao pouco que possuem para apoiar não sabem quem, pois que a ajuda alimentar é canalizada para mais de 1800 instituições e destinam-se a cerca de 280 mil pessoas com carências alimentares comprovadas.
Não obstante os apertos generalizados, que afectam as classes média e baixa, os portugueses têm orgulho de se identificar como um povo solidário, amigo, colaborante, altruísta. Um povo que exerce o voluntariado e a filantropia como nenhum outro. Tomara que os governos tivessem metade desse prodigioso espírito!...
E já que falamos em voluntariado, não podemos esquecer que este domingo, 5 de Dezembro, se comemora o Dia Internacional do Voluntariado, uma iniciativa tomada em 1985 pela Assembleia-geral das Nações Unidas com o objectivo de apoiar grupos dedicados a acções voluntárias em diversos projectos sociais, económicos e humanitários por esse mundo além.
No nosso país entregam-se a tarefas de voluntariado cerca de um milhão e meio de pessoas em tarefas que, se fossem remuneradas, corresponderiam a 675 milhões de euros. É muita gente e seria muito dinheiro.
A grande lição a reter é a de que, afinal, o povo português é um povo solidário, um povo que disponibiliza algum ou muito do seu tempo livre em visitas aos doentes dos hospitais, na ajuda a idosos em lares de terceira idade, na angariação de alimentos para as famílias mais necessitadas, em visitas a gente só e carenciada, não apenas de recursos mas sobretudo de afecto. Este é uma das faces do voluntariado, que vive de outros rostos, outras linhas, porventura mais visíveis no nosso quotidiano. Por exemplo, os bombeiros, que são a expressão mais sublime do espírito do voluntariado. Eles oferecem o seu tempo livre, e muitas vezes até o de trabalho, para as nobilitantes e dramáticas tarefas de salvar a vida e os haveres dos cidadãos, independentemente das suas disponibilidades económicas, estratos sociais, colorações politicas ou competências académicas, colocando, frequentemente, em risco as suas próprias existências e, decorrentemente, as dos seus. Quando a sirene toca, em desespero, anunciando um incêndio ou para acorrer a um desastre de automóvel, não há comodismos, não há fome, não há sono, não há mulheres, não há filhos, não há televisão, não há futebol, não há conversas que não possam ficar para mais tarde, ou para o dia seguinte. Em primeiro lugar, estão os outros: que os voluntários nem conhecem, nunca viram, nem sabem quem são. Ou antes, sabem, e essa a razão da sua missão indeclinável: são seres humanos, cujas vidas urge defender ou resgatar e cujos bens se impõe salvaguardar, até aos limites das suas forças físicas e psíquicas. São fantásticos de altruísmo, os briosos “soldados da paz” deste país.
E quem diz bombeiros, diz os activistas da Cruz Vermelha, que transportam doentes para hospitais ou para consultas, acorrem a acidentes ou a doenças, socorrem os mais necessitados, distribuem alimentos e calor humano, com o maior desinteresse, a maior generosidade, a mais destacada afabilidade.
E os dadores benévolos de sangue que, em gestos benemerentes, contribuem, com o que mais sagrado jorra nas suas veias, para salvar vidas em perigo, em tantas situações.
Todos estes voluntários (e tantos outros…) são justamente merecedores dos Óscares da abnegação, do desprendimento, da filantropia, do humanitarismo, valores tanto mais admiráveis quanto são desenvolvidos numa época marcadamente materialista, em que o ter sobreleva o ser, em que a alma se vende no mercado das conveniências.
Mas também o são os milhares de voluntários que, de norte a sul do país, vão dando o melhor de si no contexto das associações e colectividades de cultura, desporto e recreio, sem receber o que quer que seja, em puro exercício de doação aos interesses e princípios estatutários que desenvolvem. O associativismo é também um importante meio de desempenho da cidadania activa, regendo-se por princípios de liberdade, democracia e solidariedade.
Um povo que é voluntário é também um povo solidário. E a solidariedade não se expressa apenas pelo Natal, mas envolve-se em causas gratificantes, de que são paradigmas as associações de apoio às crianças em risco, ou afectadas por doenças contagiosas, as agremiações de socorro aos idosos mais carentes, como as conferências vicentinas, o Banco Alimentar contra a Fome ou situações pontuais de catástrofes, em Portugal ou no mundo.
Um povo assim é um povo bom, maravilhoso, a que nos orgulhamos de pertencer. Um povo que merece reconhecimento e não a vida injusta e castigada de impostos, de desemprego e de todas as sacanices que enxameiam o dia a dia.
1 comentário:
A lei de Deus resume-se no amor, que deve guiar todos os movimentos da vida. Quem não ama o proximo que vê, não diga que ama a Deus que não vê, diz S. João.
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