sábado, 31 de julho de 2010

EI-LOS QUE VOLTAM, OS EMIGRANTES!...


Todos os anos por esta altura eles regressam a casa. Com a constância e a regularidade das andorinhas pela primavera. Eles enchem as aldeias de alegria, e de vida, muitas delas, que bem necessitam dessas golfadas de ar fresco para não desertificarem completamente. Eles vêm com carros topo de gama, com jipes, vestidos de marcas, aculturados aos países onde labutam no quotidiano. Eles abarrotam as feiras e os mercados, com as cores garridas e os linguajares que os diferenciam. Atestam as festas e as romarias que se vão realizando um pouco por todo o Minho.
Eles são os emigrantes, que fazem de Julho e Agosto os meses por excelência da sua peregrinação anual pelas memórias da infância, pelos mitos e pelos rituais que os vão mantendo ligados à identidade que foram construindo, a sua aldeia e o seu país. Quer uma, quer outro, jamais esquecem o contributo que os emigrantes, cada um a seu modo, vão dando para o respectivo desenvolvimento. E eles são referentes fundamentais na história moderna e contemporânea deste país, como sublinham os estudiosos.
A emigração em Portugal remonta à gesta dos Descobrimentos, quando os portugueses demandaram novos mundos e aí foram divulgando a cultura e os valores levados deste pequeno recanto pátrio, recebendo, em contrapartida, os ensinamentos e a cultura indígena, de cuja miscigenação resultou o que somos e o que eles são. As migrações atravessam o curso da nossa história, com mais expressão a partir do século XIX e integram um pouco a manifestação da identidade nacional.
O conhecido geógrafo Orlando Ribeiro referiu-se, em tempos, à emigração como a “vocação demográfica” de Portugal, em especial entre as gentes do Noroeste português e do Entre Douro e Minho.
Os emigrantes partiram por motivos pessoais ou patrióticos, em busca do ouro no Brasil nos séculos passados ou, desde há sessenta anos, na procura de melhores condições de vida na velha Europa, em especial na França, na Suiça e na Alemanha, entre outros destinos. Muitas vezes, despovoando o país, o que provocou reacções oficiais através de políticas restritivas à saída dos nacionais. Daí se entender a canção, de crítica e subtileza, que tem raíz galega mas é absolutamente aplicável a este lado da fronteira:

Este parte
Aquele parte
E todos, todos se vão
Galiza fica sem homens
Que possam
Colher seu pão.


Em cada um de nós há um emigrante, ou um familiar de emigrantes ou de portugueses em situação de retorno. E o movimento migratório não pára, nos últimos anos agravado pelas condições internas. Numa altura em que Portugal acolhe já no seu território mais de 400 mil imigrantes de 140 países, o fenómeno emigratório prossegue, com a saída anual de milhares de portugueses, que na estranja vão procurar melhores condições de existência, fugindo a uma situação de crise e de desemprego entre portas.
Mas o Verão é o período do regresso, do convívio com os familiares e os amigos, nos cafés da aldeia ou nos restaurantes da cidade, em dia de feira. Os emigrantes são hoje em dia portugueses cada vez mais parecidos com os que cá estão todo o ano: inquietos, hesitantes e forretas, a queixar-se da carestia da vida e a dizer mal do governo. Características que estão nos genes dos nossos patrícios, estejam onde estiverem, por cá ou pelas franças e araganças.
Os emigrantes são, justiça lhes seja feita, os heróis da contemporaneidade deste país. Eles “fizeram” o Brasil e “fizeram” a Europa, com a força dos seus braços e o sacrifício dos seus corações. Eles, que atravessaram os mares nas condições mais adversas e transpuseram as fronteiras a salto, clandestinamente, para acabarem a povoar os bairros de lata dos primórdios da emigração. Para fugir à miséria, à fome e à guerra colonial. Em nome de um futuro melhor, mais sustentado, para si próprios e sobretudo para os filhos.
Hoje, eles são mais civilizados, integram já segundas e terceiras gerações e vivem divididos entre o íntimo apelo da terra natal e a família que se foi formando e ramificando nos países de acolhimento.
Neste Verão que decorre, quando mais uma vez eles povoam este Minho verde com tonalidades e simbioses de outras paragens, vai a minha sentida homenagem para os emigrantes, desta região e de todo o Portugal. Eles bem merecem o sincero reconhecimento dos patrícios que por cá ficam, às vezes por comodismo, outras por inveja, bem como das autoridades que nem sempre os tratam com o respeito a que fazem jus.
Os emigrantes merecem todos os monumentos (Fafe também os vai homenagear com um monumento nos próximos anos) e todas as festas que o povo lhes tributa.
Que tenham férias felizes, junto dos que mais amam!

2 comentários:

Luísa disse...

Eles voltam!
Voltam com saudades na mala, com vontade de todos visitar e de um presente deixar!
Voltam animados, desejosos por mostrar o sucesso que os acompanha!
Voltam sorridentes! De tom de voz elevado e com um legitimo exibicionismo no rosto.
É gente marcada pelo trabalho e cuja marca deixada na terra é de GENTE QUE SABE O QUE QUER!
A SAUDADE? Essa vai morar sempre nos seus corações enquanto houver laços de amor com os que cá fica!

Bela homenagem, Dr. Coimbra! Estas são as gentes da nossa terra.
Beijinho terno

ARTUR COIMBRA disse...

Muito obrigado, cara amiga, não apenas por este comentário, mas pelos que teve a gentileza e a paciência de disseminar por quase todos os post do meu humilde blogue.
A sua apurada sensibilidade, o seu amor a Fafe, a sua paixão pela verdade, pela beleza e pelas coisas simples suscitam-me a maior gratidão e o maior louvor.
A Luísa é demais!... Um must... Tudo de bom!...
Para os leitores do meu blogue recomendo vivamente o blogue da Luísa, no endereço http://umolhardeperto.blogspot.com/.
Um beijo amigo do Artur Coimbra