sexta-feira, 3 de setembro de 2010

EXTRAVAGÂNCIAS REAIS NOS FINAIS DA MONARQUIA

A edição da conceituada revista Sábado, de 19 de Agosto, tem como tema de capa os hábitos e as extravagâncias nas férias da família real portuguesa, em finais da monarquia.
Porque estamos em plena comemoração do centenário da implantação da República (1910-2010) e porque a dicotomia monarquia/república tem sido bastas vezes invocada por ambos os lados, para ataque ou para defesa, deixamos de seguida – para aqueles que não tiveram acesso àquela publicação semanal – algumas linhas do que se escreve na revista dirigida por Miguel Pinheiro e que, por princípio, nos deixa, em alguns casos, boquiabertos.
Ainda na capa é referido que “O Rei D. Carlos passava quatro meses por ano entre caçadas, mergulhos no oceano e viagens de iate. Tinha 150 criados e, num ano, decidiu iluminar as praias entre o Estoril e Cascais com 13 mil lanternas de azeite e nove mil balões”. Um estrondo!...
No interior, ao longo de dez suculentas páginas de texto e fotos, assinadas pelo jornalista Pedro Jorge Castro, são referidas algumas curiosidades, que gostaríamos de partilhar com os leitores:

- No final da monarquia, a família real dividia as férias entre Sintra, Cascais, Mafra e Alentejo (Vidigal e Vila Viçosa). Eram quatro meses de festas, caçadas, explorações marítimas, durante a Páscoa, o Verão, os meses de Dezembro ou de Janeiro;
- Ao serviço de suas majestades o rei D. Carlos, a rainha D. Amélia e os infantes D. Luís e D. Manuel estavam 282 pessoas, com diversíssimos cargos e funções, que começavam por 13 oficiais-mores e acabavam nos referidos 150 empregados (criados, músicos, porteiros, capelães, etc.);
- D. Carlos comprou três carros num só dia, em 1906, na inauguração do stande da Peugeot, na presença do próprio fundador da marca, Armand Peugeot, que veio de França para cumprimentar o seu melhor cliente em Portugal (o monarca, que chegou a ter sete viaturas daquela marca);
- O aniversário dos Reis (faziam anos no mesmo dia, 28 de Setembro) era decretado como feriado em todas as repartições públicas e os militares tinham direito a um rancho melhorado;
- Em 1901 foi publicado o primeiro Código da Estrada, que impunha o limite máximo de 10 km por hora. Por excesso de velocidade, o irmão do rei D. Carlos, o infante D. Afonso, teve um acidente (em Agosto de 1906), do qual ficou com “uma costela quebrada”;
- D. Carlos tomava banho no seu fato de malha às riscas, que cobria os ombros e chegava aos joelhos. Depois de dar as suas braçadas, numa altura em que a maioria das pessoas não sabia nadar, saía do mar e ia até à barraca real mudar de roupa. Sempre que o Rei estava na praia, era hasteada a bandeira nacional;
- A Rainha-mãe, D. Maria Pia, a figura mais extravagante da família, ofereceu relógios de ouro a todos os fidalgos quando nasceu o primeiro neto e obrigava os serviçais a transportar do palácio da Ajuda para as férias em Mafra os fogões de sala, as braseiras e o piano, que era carregado por oito homens que faziam a pé a viagem de 40 km;
- D. Carlos comprou seis iates, quatro dos quais baptizados com o nome de Amélia, em homenagem a sua mulher;
- O Rei tinha como principal passatempo a exploração dos mares, cujas campanhas podiam demorar meses, sempre com D. Carlos em alto mar, o que levava boa parte do país a ver no monarca um esbanjador despreocupado, que tinha encontrado mais uma forma de diversão e de alheamento dos problemas do país;
- D. Carlos ganhava um subsídio do Estado anual de 365 contos de reis, o que representava 0,7% da despesa do Estado. Daqui tinha de pagar todas as despesas de funcionamento da casa real. Ganhava claramente menos do que gastava, o que lhe provocou vários dissabores políticos;
- O jornalista republicano João Chagas escreveu que, para o Rei, reinar era “S. Carlos, o Coliseu, o Trindade, quermesses, bailes, touradas, caçadas”. Uma doidice, um delírio, uma pândega, alegavam os republicanos.

Mais de um século depois e pela leitura acima, é hora de tirarmos as necessárias conclusões. Vistas, naturalmente, à luz da época, como não pode deixar de ser. A História é para se compreender, não para julgar.
De todo o modo, também dá para percebermos o funcionamento de uma monarquia (como a que tivemos) e de uma república (como a que temos): as suas diferenças, as suas convergências, as virtualidades de cada uma delas.

1 comentário:

António Daniel disse...

Já para não falar nas extravagâncias de Mário Soares durante as visitas presidenciais (deitado nas ilhas selvagens em banhos de sol, a divertir-se em cima de uma tartaruga numa qualquer ilha paradisíaca, usufruir de um passeio de elefante na India). Não sou monárquico, mas não possuo uma perspectiva maniqueísta da política. Se esses gastos são sumptuosos, embora relativizáveis no tempo, houve gastos presidenciais pouco enquadrados no tempo. E quanto à primeira república, está tudo dito.