quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

ARMANDO FREITAS FERREIRA: UM HOMEM LUMINOSO NA MINHA VIDA


Armando Freitas Ferreira é um distinto professor do ensino básico e da Telescola, hoje aposentado, fafense natural de Fornelos e a residir há décadas na freguesia de Garfe, Póvoa de Lanhoso.
Tive o privilégio de ser seu aluno, pelas razões que refiro no texto abaixo.
O motivo que o traz à baila é o facto de ser o autor do mês de Dezembro, da Biblioteca Municipal da Póvoa de Lanhoso e de ter acabado de publicar um livrinho de poemas, com pouco mais de vinte textos muito íntimos, dedicados à família, aos seus ex-alunos, ao seu ambiente, à sua vida. Título: Sentimentos e afectos.
Armando Freitas Ferreira nasceu em 1941, estudou no Colégio Municipal de Fafe e no Magistério Primário de Braga, foi professor do ensino básico em Vila Cova, Travassós, Serafão (onde fui seu aluno), bem como na Telescola de Garfe, que fundou com dois colegas (e na qual também andei), num percurso profissional entre 1960 e 1985. Neste ano, foi convidado a exercer as funções de subdelegado escolar da Póvoa de Lanhoso, que desempenhou até 1993, altura em que se aposentou, dedicando-se aos seus dois filhos e quatro netos que viriam depois.
A propósito da homenagem que a Biblioteca da Póvoa de Lanhoso lhe prestou, solicitaram-me um depoimento, que deixo a seguir.

Há figuras queridas que nos marcam profundamente, desde o luminoso encontro inicial que com elas tivemos. Uma delas é, sem dúvida, o professor Armando Freitas Ferreira, homem que estimo imensamente e a quem me ligam laços profundos de amizade desde há mais de quatro décadas.
Concretamente, ia eu iniciar a terceira classe do antigo ensino primário, na escola do Toural, em Serafão (Fafe), aí pelos idos de 1965, quando encontro pela primeira vez o “professor Ferreira”, como lhe chamávamos, um muito jovem docente, pleno de vida e sobretudo introdutor de um outro modo de ver as coisas, para uma situação como a da época, em que tudo se queria arrumado, ordeiro, identificado com a “paz dos cemitérios”. Não é que este jovem professor se atrevia a jogar à bola com os alunos no recreio, como se fosse da sua igualha, desrespeitando o estatuto de “superioridade” que um “mestre” deve ter perante os seus pupilos?!... Onde é que já se vira uma coisa dessas? Qualquer coisa não regulava bem, neste universo desordenado!...
O professor Armando Ferreira entendia, como escreveria mais tarde e consta de uma obra minha, que, para lá da educação e instrução, a distracção é um “elemento que contribui, em grande escala, para estudarmos a maneira de ser do aluno. As crianças necessitam de distracção, mas vigiadas e, até, acompanhadas pelo professor, nas suas brincadeiras”. Como gostava de crianças e como entendia ser seu dever, integrava de corpo e alma os jogos e as brincadeiras que os seus alunos empreendiam no recreio, atitude que foi, de começo, mal vista pelos encarregados de educação da freguesia, o que se compreendia, de alguma forma, mas que acabou por ser entendida e até aplaudida mais tarde pela população.
Volto a citar o texto do professor Ferreira, justificando essa atitude inovadora, de que sou testemunha viva: “o professor, brincando com os alunos, não perde a autoridade mas mais a consolida, ao mesmo tempo que contribui para a formação integral do aluno”.
Armando Freitas Ferreira foi, assim, meu professor na terceira e na quarta classes, período que me marcou profundamente na minha aprendizagem e que constituiu forte alicerce e enriquecimento para o homem que eu seria no futuro. Lembro-me da exigência que punha no que ensinava, nas várias áreas e até da “canada” que um dia levei por demorar a indicar com precisão os afluentes de um determinado rio do norte do país. Seria a única, para bem dos meus pobres miolos…
Ao findar o ensino básico, saí do sistema por dois anos, durante os quais trabalhei e fui explorado numa pensão em Guimarães (tinha escassos e desgraçados 11 anos, nunca mais esqueci…), regressando à escola quando abriu o posto da Telescola de Garfe, julgo que em 1969/70.
O professor Ferreira voltaria a ser meu professor por dois anos e foi seguramente o responsável por eu ter enveredado por um percurso que me levou a mais altos voos académicos. Por isso lhe estou muitíssimo grato, e ele sabe que tenho razão. Como continuava a dar aulas em Serafão, foram muitas as vezes que me deu boleia, no seu automóvel, entre aquela freguesia e Garfe. A mim e a outros jovens de Serafão que faziam parte da mesma turma e que assim, de vez em quando, poupavam uma caminhada de quatro quilómetros bem medidos.
Não é aqui o tempo nem o lugar para rememorar a vivência da Telescola em Garfe, mas apenas para evidenciar o quão fundamental foi esse período na minha formação intelectual, cognitiva e humana.
Devo muito aos docentes que acompanharam o meu crescimento aos diferentes níveis, sobretudo nos anos iniciais da minha formação. Em lugar de destaque está, soberanamente, sem dúvida, o professor Ferreira. É dos poucos docentes de quem mantenho a mais doce recordação e de quem continuo muito próximo!...
Saído da Telescola, frequentei outros estabelecimentos de ensino, do secundário ao superior, em diferentes localidades. Todavia, para minha imensa felicidade, tive (e tenho) o professor Ferreira como amigo permanente, generoso e desinteressado ao longo destes anos. Não há uma vinda a Fafe sem que o professor Ferreira me venha visitar à Casa Municipal de Cultura: para me dar um abraço, com aquele calor que só ele consegue; para levar o meu último livro; para observar uma exposição; para dar duas de treta, enfim.
Nesta oportunidade, não poderia deixar de manifestar a minha mais lídima admiração, o meu preito de homenagem, o meu maior respeito, a minha incontida gratidão por ter sido aluno e ser amigo de longa data do professor Armando Freitas Ferreira, um homem que honra a Póvoa de Lanhoso e que engrandece os seus amigos. De lá e de cá. Porque ele é um fafense emigrado em Garfe, mas que carrega a sua terra natal no grande coração que tem.
Estamos em presença de um homem bom, um homem de bem, um homem que teima em não deixar de ser jovem! E aí, e em tudo o que fez, e em tudo o que deu aos seus alunos e semeou pelos seus amigos, reside a sua grandeza!
Bem-haja por tudo o que de bom tem sido a sua vida!

3 comentários:

Luísa disse...

Quando aprender passa para além daquilo que os livros ensinam...e se torna numa partilha de diálogos de linguagem d´alma!
Bela homenagem!
Beijinho terno

ARTUR COIMBRA disse...

Muito obrigado, cara Luísa, pelo seu comentário, sempre atento, sempre amigo. O Professor Armando Ferreira é daquelas pessoas que continuam a iluminar a minha vida, como outros bons amigos.
Beijos.

Unknown disse...

Boa noite Dr. Coimbra,
a vida é feita de momentos e partilhas, um bom professor, acaba sempre por se tornar num grande amigo. Ainda recordo com ternura, a minha Professora da primeira e segunda classe, e sempre que nos encontramos é uma alegria imensa. Curiosamente dos professores da 3ª e 4ª classes, não consigo sequer recordar o nome.

Muito bonita esta homenagem!

Beijinhos
Ana Martins