Nestes dias mais negros que fuligem, andam vozes por aí a tentar vender “amanhãs que cantam”, os quais não passam de artifícios. Dizem-nos que é preciso ter esperança, arvorar confiança, seja de que maneira for, que é necessário o optimismo para vencer as adversidades. Não digo que não. Mas não consigo ir por aí.
Não
consigo esconder, nem esconder-me da realidade; não consigo ter optimismo
quando à minha volta alastra a tristeza e o descalabro.
Não
sou apenas eu. Ainda a semana passada, a imprensa referia que “o pessimismo
bate recorde” em Portugal. E o caso não é para menos.
Não
se pode ser optimista, a não ser que sejamos autistas, ou irresponsáveis, ou
absolutamente cegos do ponto de vista ideológico, quando assistimos ao
desmoronar do nosso país.
Não
se pode ser optimista com mais de um milhão de desempregados à nossa volta, com
empresas a encerrar todos os dias, avolumando o exército dos que não conseguem
ter uma ocupação remunerada. E com a perspectiva sombria de que tudo vai
piorar!...
Não
se pode ser optimista com milhares e milhares de jovens que não logram obter um
emprego, onde quer que seja, após uma qualificação académica, obtida sabe-se lá
com que sacrifícios, sendo empurrados pelos governantes para uma emigração com
que não contavam e que acaba por constituir um miserável desperdício dos
dinheiros públicos na educação de nível superior.
Não
se pode ser optimista quando à nossa volta há dois milhões de pobres, que não
sabem o que hão-de fazer à vida, que fazem contas de diminuir e de sumir as
suas escassas reformas, que não têm lares suficientes nem famílias ou políticos
que os respeitem, após uma vida inteira de dedicação ao trabalho e ao país.
Não
se pode ser optimista com um país que não consegue motivar a sua população, com
um governo que engana, ludibria e assalta à mão armada os bolsos e a confiança
do seu povo, sem conseguir apontar uma meta credível, que permita visionar a
luz ao fundo do túnel.
Como
é que se pode ser optimista com a perspectiva de um Orçamento de Estado, como o
deste ano, que corta salários, empobrece os trabalhadores e os reformados,
aumenta escandalosamente os impostos, como nunca se viu, em nome não se
consegue saber de quê, a não ser de um capitalismo financeiro selvagem e
desenfreado que tomou conta da Europa e que quer reduzir os povos periféricos à
despudorada submissão?
Como
é que se consegue ser optimista perante as notícias destes últimos dias, que
dão conta de uma “bomba atómica” que tem em vista desfigurar e descaracterizar
a economia e a organização social e política, tal como os conhecemos nas
últimas décadas?
Os
vândalos andam à solta, vestidos de fato e de fraque. Têm o nome de FMI ou de
Passos Coelho, que vai dar ao mesmo. A tróica indica e o governo duplica, como
se tem visto neste último ano e meio de paixão pela austeridade, “custe o que
custar”.
O
Estado Social está perigosamente em risco; a educação garantida pelo Estado
corre perigo, assim como a saúde pública, prestada nos hospitais e nos centros
de saúde, onde começam a escassear materiais e onde a política governamental
vai no sentido de impor a racionamento dos medicamentos, não em nome da
dignidade humana, mas da poupança de uns trocados, para que os corredores do
poder continuem a locupletar os “boys” e as “girls” dos partidos da governação.
O governo quer, o governo precisa que os velhos morram e os doentes não
sobrevivam. É a eutanásia oficializada, sem dúvida!
Os
selvagens do FMI e daqui (o relatório não é técnico, coisa nenhuma, é um programa
de governo…) querem cortar mais 15% a 20% nas pensões de reforma; propõem que o
pagamento dos subsídios de férias e de Natal dependam do PIB, o que significa
adeus subsídios; pretendem o aumento da idade de reforma para os 66 anos;
querem o corte de salários dos trabalhadores até 7%; propõem o despedimento de
até 120 mil funcionários públicos, em áreas como o ensino e a saúde, tornando
cada vez mais precária a assistência aos mais desfavorecidos e empurrando a
generalidade dos portugueses para o sector privado, que é o que essa gente
quer, demitindo-se das suas responsabilidades.
A
pretexto da crise, estão a subverter o país onde vivíamos, atropelando
direitos, liberdades e garantias e mandando às malvas a Constituição da
República, que é um bibelô que se põe na lapela quando dá jeito e se recrimina
quando é necessário respeitar o que a Lei Fundamental estabelece. É evidente
que esta gente não vai lá estar por muito tempo, ou já não haverá país, nem mais
portugueses para reduzir à miséria!...
Um
Estado que levou a construir mais de três décadas, após o 25 de Abril, não é admissível
que seja destruído em dois ou três anos, apenas porque há uns agiotas e
especuladores que querem tornar os portugueses nos miseráveis de outrora, com a
cumplicidade e o beneplácito dos “bons alunos” que estão no governo e que têm a
cenoura garantida de que vão ser “premiados” por destruir a economia, aumentar
para níveis impensáveis o desemprego, empobrecer a generalidade dos
trabalhadores e dos reformados, empurrar as novas gerações para a emigração.
Como
é que se consegue ser optimista num país cujo rumo é o suicídio, sem um mínimo
de esperança, de credibilidade ou de confiança?
Só
por loucura ou insânia! Não consigo ir por aí!
NB – Tal como as coisas estão,
obviamente que o governo não tem legitimidade nem mandato popular para destruir
o país, como está a fazer. Se as instituições ainda funcionam, o próximo passo é
devolver a palavra aos eleitores, que não votaram nesta pouca vergonha, sem
qualquer dúvida!
Sem comentários:
Enviar um comentário