terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A loucura anda à solta neste país!...


Nestes dias mais negros que fuligem, andam vozes por aí a tentar vender “amanhãs que cantam”, os quais não passam de artifícios. Dizem-nos que é preciso ter esperança, arvorar confiança, seja de que maneira for, que é necessário o optimismo para vencer as adversidades. Não digo que não. Mas não consigo ir por aí.
Não consigo esconder, nem esconder-me da realidade; não consigo ter optimismo quando à minha volta alastra a tristeza e o descalabro.
Não sou apenas eu. Ainda a semana passada, a imprensa referia que “o pessimismo bate recorde” em Portugal. E o caso não é para menos.
Não se pode ser optimista, a não ser que sejamos autistas, ou irresponsáveis, ou absolutamente cegos do ponto de vista ideológico, quando assistimos ao desmoronar do nosso país.
Não se pode ser optimista com mais de um milhão de desempregados à nossa volta, com empresas a encerrar todos os dias, avolumando o exército dos que não conseguem ter uma ocupação remunerada. E com a perspectiva sombria de que tudo vai piorar!...
Não se pode ser optimista com milhares e milhares de jovens que não logram obter um emprego, onde quer que seja, após uma qualificação académica, obtida sabe-se lá com que sacrifícios, sendo empurrados pelos governantes para uma emigração com que não contavam e que acaba por constituir um miserável desperdício dos dinheiros públicos na educação de nível superior.
Não se pode ser optimista quando à nossa volta há dois milhões de pobres, que não sabem o que hão-de fazer à vida, que fazem contas de diminuir e de sumir as suas escassas reformas, que não têm lares suficientes nem famílias ou políticos que os respeitem, após uma vida inteira de dedicação ao trabalho e ao país.
Não se pode ser optimista com um país que não consegue motivar a sua população, com um governo que engana, ludibria e assalta à mão armada os bolsos e a confiança do seu povo, sem conseguir apontar uma meta credível, que permita visionar a luz ao fundo do túnel.
Como é que se pode ser optimista com a perspectiva de um Orçamento de Estado, como o deste ano, que corta salários, empobrece os trabalhadores e os reformados, aumenta escandalosamente os impostos, como nunca se viu, em nome não se consegue saber de quê, a não ser de um capitalismo financeiro selvagem e desenfreado que tomou conta da Europa e que quer reduzir os povos periféricos à despudorada submissão?
Como é que se consegue ser optimista perante as notícias destes últimos dias, que dão conta de uma “bomba atómica” que tem em vista desfigurar e descaracterizar a economia e a organização social e política, tal como os conhecemos nas últimas décadas?
Os vândalos andam à solta, vestidos de fato e de fraque. Têm o nome de FMI ou de Passos Coelho, que vai dar ao mesmo. A tróica indica e o governo duplica, como se tem visto neste último ano e meio de paixão pela austeridade, “custe o que custar”.
O Estado Social está perigosamente em risco; a educação garantida pelo Estado corre perigo, assim como a saúde pública, prestada nos hospitais e nos centros de saúde, onde começam a escassear materiais e onde a política governamental vai no sentido de impor a racionamento dos medicamentos, não em nome da dignidade humana, mas da poupança de uns trocados, para que os corredores do poder continuem a locupletar os “boys” e as “girls” dos partidos da governação. O governo quer, o governo precisa que os velhos morram e os doentes não sobrevivam. É a eutanásia oficializada, sem dúvida!
Os selvagens do FMI e daqui (o relatório não é técnico, coisa nenhuma, é um programa de governo…) querem cortar mais 15% a 20% nas pensões de reforma; propõem que o pagamento dos subsídios de férias e de Natal dependam do PIB, o que significa adeus subsídios; pretendem o aumento da idade de reforma para os 66 anos; querem o corte de salários dos trabalhadores até 7%; propõem o despedimento de até 120 mil funcionários públicos, em áreas como o ensino e a saúde, tornando cada vez mais precária a assistência aos mais desfavorecidos e empurrando a generalidade dos portugueses para o sector privado, que é o que essa gente quer, demitindo-se das suas responsabilidades.
A pretexto da crise, estão a subverter o país onde vivíamos, atropelando direitos, liberdades e garantias e mandando às malvas a Constituição da República, que é um bibelô que se põe na lapela quando dá jeito e se recrimina quando é necessário respeitar o que a Lei Fundamental estabelece. É evidente que esta gente não vai lá estar por muito tempo, ou já não haverá país, nem mais portugueses para reduzir à miséria!...
Um Estado que levou a construir mais de três décadas, após o 25 de Abril, não é admissível que seja destruído em dois ou três anos, apenas porque há uns agiotas e especuladores que querem tornar os portugueses nos miseráveis de outrora, com a cumplicidade e o beneplácito dos “bons alunos” que estão no governo e que têm a cenoura garantida de que vão ser “premiados” por destruir a economia, aumentar para níveis impensáveis o desemprego, empobrecer a generalidade dos trabalhadores e dos reformados, empurrar as novas gerações para a emigração.
Como é que se consegue ser optimista num país cujo rumo é o suicídio, sem um mínimo de esperança, de credibilidade ou de confiança?
Só por loucura ou insânia! Não consigo ir por aí!
 
NB – Tal como as coisas estão, obviamente que o governo não tem legitimidade nem mandato popular para destruir o país, como está a fazer. Se as instituições ainda funcionam, o próximo passo é devolver a palavra aos eleitores, que não votaram nesta pouca vergonha, sem qualquer dúvida!

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