terça-feira, 30 de novembro de 2010

RECORDAR PESSOA, 75 ANOS APÓS A SUA MORTE


Fernando Pessoa foi, para muitos, a maior figura portuguesa do século XX. Um “supra-Camões”, que retratou a identidade nacional, os sonhos, os desalentos, a dialéctica dramática entre o sentir e o pensar, num oceano de poemas inesgotáveis que vão ganhando actualidade à medida que o tempo passa.
Nascido a 13 de Junho de 1888, viveu através dos seus conhecidos heterónimos (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares), derreteu-se a escrever, publicou a Mensagem, em 1934 e morreu em 30 de Novembro de 1935, deixando uma vastíssima obra inédita que foi sendo revelada ao longo dos anos.
Foi há 75 anos que faleceu, vítima de uma crise hepática, sendo sepultado no cemitério dos Prazeres. 50 anos depois, em 1985, foi transladado para  o Mosteiro dos Jerónimos, onde jaz junto ao túmulo de Camões. Como referiu em tempos o estudioso e nosso amigo Dr. Agostinho Domingues, “repousam, assim, lado a lado, no grandioso Monumento Nacional, os dois maiores poetas da pátria e da língua portuguesa. Para glória de todos nós”.
Fica, para recordação, este belíssimo poema pessoano.

LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
(s. d.)

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).
 - 244.
1ª publicação in Seara Nova , nº 526. Coimbra: 11-9-1937. 

"AS MULHERES DE ATENAS" APRESENTAM-SE EM ANTIME

A Câmara Municipal de Fafe, na sua política de descentralização de acções culturais pelo município, promove, este sábado à noite, 4 de Dezembro, a apresentação da peça “As Mulheres de Atenas”, de Augusto Boal, pelo Teatro de Travassós, na sede da Junta de Freguesia de Antime, com o apoio e a colaboração da respectiva Junta de Freguesia.
O espectáculo tem entrada livre e inicia-se pelas 21h30.
Num tempo em que os homens detêm o poder, em que a força prevalece sobre a razão e o domínio é tomado pelas armas, um grupo de mulheres rebela-se, usando contra os homens a arma mais implacável que possuem. A luta dessas mulheres tem o propósito de obrigar os homens a terminarem de guerrear e a partilharem o poder do Estado, promovendo a igualdade entre os sexos.
As Mulheres de Atenas” deverá ser ainda apresentada em outros palcos do concelho no próximo ano.

Ficha Técnica:
Adaptação da obra As Mulheres de Atenas, de Augusto Boal: Vera Freitas;
Encenação, Cenografia, Selecção Musical, Desenho de Som, Desenho de Luz, Desenho de Figurinos e de Adereços: Albino Sousa;
Técnico de Som e Luz: Pedro Castro.
Interpretação: Albino Sousa; Carlos Afonso; Isabel Rodrigues; Isabel Silva; Helena Castro; Leonel Castro;  M.ª Conceição Nogueira; Maurício; Natália Fernandes; Orlando Cunha; Sérgio Cardoso; Soraia Ribeiro; Vera Freitas.

domingo, 28 de novembro de 2010

REFORMA ADMINISTRATIVA URGENTE MAS NEGOCIADA

O Professor Freitas do Amaral pronunciou-se há uns dias atrás na Universidade do Minho sobre a eventual extinção de autarquias, questão que se coloca em momentos de crise e mormente nos dias de hoje. É notório que muitos questionam actualmente a existência de concelhos e freguesias de pequena dimensão, com todos os gastos inerentes ao respectivo funcionamento, ao nível de titulares de cargos políticos e das respectivas estruturas de apoio. Freitas do Amaral afirmou, então, e partilhamos as suas preocupações, que a eventual extinção de concelhos ou freguesias não pode ser feita por decreto governamental, o que teria como consequência a revolta das populações. A reforma não deve ser feita pelo Estado de cima para baixo, mas preferivelmente pela via do “consenso, dos incentivos financeiros e fiscais e da negociação”.
Na opinião do conhecido académico, antes de qualquer decisão de reforma administrativa, deve ser efectuado um estudo aprofundado, que faça um diagnóstico real do país, “no que respeita às autarquias locais, ao seu grau de eficiência e utilidade para as populações”, o que nunca nenhum governo se propôs fazer.
Na verdade, trata-se de uma questão delicada, que mexe profundamente com uma tradição portuguesa que tem alguns séculos.
Os municípios e as freguesias (antes designadas paróquias) são tradições que provêm da Idade Média. Há que ter o máximo cuidado, porque estamos a lidar com realidades arreigadas no território e na população portuguesa, que constituem mesmo um traço distintivo da identidade e da história deste país.
Por mais pequena que seja a freguesia ou por mais reduzido que seja o município, querem ter direito à sua existência legal, embora, como é evidente, possam e devam muitas vezes ser racionalizados os recursos afectos aos mesmos.
Porém, julgamos que, num regime democrático, uma questão tão melindrosa deve ser objecto da via negocial e não da bruta imposição administrativa, que não se coaduna com o espírito do regime instaurado em 25 de Abril de 1974.
Embora tenham perdido postos de saúde e escolas, estando em vias de desertificação, as populações compreenderão certamente uma reforma da administração, se for devidamente explicada e se sentirem que é o melhor para os respectivos territórios. Espera-se é que haja essa sensibilidade política e não a arrogância que tanto tem imperado do “posso, quero e mando” arbitrários… Se em meados do século XIX era possível semelhante arbitrariedade, decidida no Terreiro do Paço, pelos próprios condicionalismos políticos, sociais e culturais da época, hoje por hoje seria inadmissível pisar os mesmos riscos. O mundo é já outro e como tal tem de ser equacionado.
De resto, a reforma administrativa deveria começar por cima, com a redução do número de deputados, a diminuição dos ministérios e das secretarias de Estado e a extinção dos governos civis (em 2011, vão receber 27,5 M€), que constituem hoje em dia um anacronismo de uma administração centralista e napoleónica que urge ultrapassar.

A I REPÚBLICA NOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES

"A I República nos Municípios Portugueses" foi o tema dos XIII Encontros de Outono, que decorreram na Casa das Artes, em Famalicão, nos dias 26 e 27 de Novembro, actividade organizada pela Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, através do Museu Bernardino Machado, no âmbito das comemorações do centenário da República em Portugal.
A iniciativa, de elevado alcance cultural e científico, como sempre, teve a coordenação do Professor Doutor Norberto Cunha, responsável científico do Museu Bernardino Machado, contando com a colaboração de outros docentes universitários, como os professores José Viriato Capela (Universidade do Minho), João Francisco Marques (jubilado) e Jorge Fernandes Alves (catedrático), ambos da Universidade do Porto.
Ao longo dos dois dias, falou-se da proclamação, implantação e consolidação da República em diferentes municípios portugueses, como V. N. Famalicão, Viana do Castelo, Chaves, Vila Real, Bragança, Guimarães, Barcelos, Braga, Amarante e Póvoa de Varzim, por estudiosos locais, profundamente empenhados em revelar os contornos da identidade de cada um dos municípios, para aquele período crucial da modernidade portuguesa.

Tive a honra de participar no evento, com uma comunicação, na manhã de sexta-feira, sobre “A Contra-Revolução Monárquica em Fafe (1911-1919)”.
Foi propósito desta intervenção (a única sobre esta temática) fornecer algumas linhas de força das repercussões das incursões monárquicas e da Monarquia do Norte no Município de Fafe, durante a I República.
Se é verdade que a primeira incursão, em 5 de Outubro de 1911, exactamente um ano após a proclamação da República, pouca relevância local teve, já a segunda, em 8 de Julho de 1912, produziu um considerável "levantamento" de monárquicos e de padres, embora sem consequências politicas. Em Fafe, na noite de 5 de Julho, às 24h00, foram queimadas duas dúzias de bombas de dinamite de grande estampido e os sinos de diversas freguesias tocaram a rebate. Cerca de 400 pessoas, parte delas armadas, saíram da Pica no sentido da Ponte da Ranha. Os republicanos dirigiram-se, por seu turno, à Ponte, mas já não encontram ninguém. Os monárquicos tinham desmobilizado.
Foram presos no local vários amotinados, enquanto os principais cabecilhas do motim, que eram padres, fugiram. Nos dias imediatos, foram presas mais de oito dezenas de pessoas, entre as quais os padres de algumas das paróquias do concelho.
Perto de uma vintena de clérigos foram presos, julgados nos Tribunais Marciais de Braga e de Cabeceiras de Basto e a grande maioria condenados, entre os quais o arcipreste da altura, Manuel Joaquim Teixeira Alves. Homiziaram-se em Espanha e no Brasil e seriam em 1913 beneficiados por uma amnistia governamental, que os fez regressar (ou a maioria) às suas paróquias, para continuarem o trabalho da contra-revolução…
Mais importante, naturalmente, foi a Monarquia do Norte, vigente entre os dias 19 de Janeiro e 13 de Fevereiro de 1919 e de que aqui se identificarão as repercussões essenciais na Administração Municipal e na imprensa local.
No caso de Fafe, o Reino da Traulitânia, como lhe chamou o escritor contemporâneo Campos Lima, significou um ambiente de perseguições aos republicanos e de alguma violência social, concretizada na agressão a bens e propriedades dos homens da República no concelho, que contrastou com o civismo das manifestações aquando da restauração da República.
Dessas perseguições, são paradigmas a suspensão do jornal republicano O Desforço, durante a vigência da Monarquia do Norte e a destituição das funções de oficial do Registo Civil de um republicano ilustre, o advogado Dr. Parcídio de Matos – que havia sido eleito Presidente da Câmara no início de 1918 e haveria de ser Administrador do Concelho, após a restauração republicana, por se recusar a fazer o juramento em favor da restauração das monarquia e de D. Manuel II, como era “obrigado” pela Junta Governativa que naqueles 25 dias imperou entre o Alto Minho e Trás-os-Montes e a linha Aveiro-Viseu. Nessa “monarquia do quarteirão”, como foi baptizada, por durar apenas 25 dias, mudaram os titulares da Câmara (presidente, o monárquico Padre José Silva e Castro, que já vinha do sidonismo) e a mesa da Misericórdia. Em meados de Fevereiro, tudo já retornara à normalidade republicana…
De realçar é a rapidez da reacção da então Vila de Fafe, quer à restauração monárquica, quer à restauração republicana, em ambos os casos no próprio dia dos acontecimentos, ao contrário do que sucedera nove anos antes aquando da proclamação da República, que apenas foi formalizada em 9 de Outubro, um domingo, quatro dias depois da mudança de regime na capital...
No final dos trabalhos, esta tarde e segundo o blogue http://litfil.blogspot.com/, de um dos técnicos do Museu Bernardino Machado e meu grande amigo, Amadeu Gonçalves, o vereador Dr. Paulo Cunha do município famalicense salientou duas ideias conclusivas: por um lado, sentia-se o pulsar republicano nos municípios mesmo antes da implantação da República. A República não foi uma imposição. Por outro lado, salientou a ideia que a República ficou aquém das expectativas, com algum défice democrático, salientando a falta de proximidade entre o eleitor e o eleito. A não criação de raízes políticas, caso da falta da dinâmica municipal, terá sido, talvez, uma das causas da queda da República.
Os "Encontros de Outono" constituem uma iniciativa excelente, a que tenho o hábito de assistir, todos os anos por esta altura, dado o interesse, a relevância e a qualidade dos temas que têm sido sucessivamente tratados.
As maiores felicitações ao município famalicense, ao Museu Bernardino Machado e ao meu grande amigo e professor Norberto Cunha (também um amigo de Fafe, onde frequentemente se desloca, como ainda aconteceu no passado dia 5 de Outubro, a propósito do centenário das República).
Fotos: Amadeu Gonçalves

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

OS BISPOS E A POLÍTICA

Os bispos portugueses reuniram há uns dias em Fátima e, no final, o seu porta-voz apelou aos portugueses para que “não pactuem com a teoria dos consensos políticos mínimos” e mostrou-se “perplexo” com a “falta de verdade” nos centros de decisão da gestão pública.
Segundo a imprensa, afirmou D. Jorge Ortiga que “não podemos deixar de evidenciar a nossa perplexidade pela falta de verdade nos centros de decisão da gestão pública, pela ausência de vontade em solucionar os desafios actuais e pela ânsia obsessiva do lucro, que conduz à desumanização da vida”.
São, de enfiada, três graves acusações à classe política, que é quem tem legitimidade democrática para governar o país, não os eméritos bispos, por muito competentes e sábios que sejam: a crítica aos “consensos mínimos” (do PS e do PSD, obviamente, porque os bispos não têm a coragem de chamar aos bois pelos nomes, passe o plebeísmo…), a “falta de verdade” dos governantes e a falta de vontade para resolver a crise económica e financeira.
Mais uma vez, a hierarquia do clero não consegue estar calada e dedicar-se à sua missão no país, que não passa pelo terreno da política. A cada passo, quer fazer prevalecer as suas análises, nem sempre correctas, o que faz, obviamente, aproveitando a lógica de funcionamento do sistema democrático. Fê-lo na I República, contribuindo de algum modo para a sua dissolução, e voltou a fazê-lo no pós-25 de Abril, em que se tem demonstrado ágil a usar os mecanismos que a liberdade lhe confere. Porque no Estado Novo, tirando determinadas vozes contestatárias (D. António Ferreira Gomes, Padre Abel Varzim, Padre Mário da Lixa e poucos mais), não se ouviram os bispos portugueses a criticar o ditador Salazar pela política colonizadora, pelo empobrecimento deliberado da população, pelo estímulo do analfabetismo e da emigração, ou pelas atrocidades cometidas sobre os cidadãos oposicionistas que se atreviam a contestar a politica totalitária, por exemplo. Estavam atados de pés e mãos ao regime, que espelhava um jardim cor-de-rosa, para suas eminências.
Há mais de três décadas, recuperaram a voz, e ainda bem que o fizeram, para criticar a “coisa pública”. Mas não é legítimo que o façam de um ponto de vista derrotista e no plano estrito da política. Se querem contribuir para “mudar as coisas”, como parece ser a sua vontade axiomática, porque não se associam suas eminências em torno de uma formação partidária para verem o que vale o seu peso sociopolítico no Portugal do século XXI? Bem gostaríamos de ver!...
Curiosamente, os bispos não ficam lá muito contentes quando algum político ou até algum cidadão critica a excessiva riqueza da Igreja, por exemplo, visível em Fátima e nos grandes santuários, quando o clero e a sua organização fazem votos de pobreza e de humildade (e se não fazem, deviam fazê-los…), como o original Jesus Cristo. Ou reprova a desconformidade e a incoerência da prática do clero em relação ao que prega, dando razão ao velho e desgastado rifão “olhai para o que eu digo, não olheis para o que eu faço”. E quando condena visões retrógradas da Igreja, como as que se relacionam com o uso do preservativo, o celibato dos sacerdotes, o papel da mulheres.
E tantos outros se poderiam multiplicar!...

domingo, 21 de novembro de 2010

UHF: O MELHOR CONCERTO

Os UHF protagonizaram este sábado à noite um dois melhores, se não o melhor concerto que passou pelo Teatro-Cinema de Fafe, desde a sua reabertura há mais de um ano e meio.
O líder da banda, António Manuel Ribeiro, fez questão, logo de início, de informar a plateia de que nessa noite se comemoravam 32 anos sobre o primeiro espectáculo do UHF. Por isso, a banda caprichou no programa, que se estendeu por cerca de duas horas, para delírio de uma sala completamente lotada, com público local e um conjunto de “fans” que acompanham os concertos da banda, onde quer que se realizem.
António Manuel Ribeiro teve ainda oportunidade de elogiar a “fantástica sala” que é o Teatro-Cinema, louvando o esforço da sua recuperação e congratulando-se pela surpresa que constituiu a sua vinda à mítica casa de espectáculos da nossa terra.
Quanto ao resto, foi um desfilar sonoro de canções do percurso do UHF, numa “viagem” que incluiu temas do seu novo álbum (porquê?), entremeados com músicas conhecidas da banda, como “Cavalos de Corrida”, "Rua do Carmo" ou “Matas-me com o teu olhar”, que deliciaram os espectadores. Até deu para uma versão espectacular do tema de José Afonso, “Vejam bem”. E para mais cinco músicas de “encore”, coisa que não se usa mas se explica pelo prazer da própria banda neste espectáculo marcante para todos os que a ele tiveram o privilégio de assistir.
Um concerto memorável, servido por um vocalista igual a si mesmo, depois de mais de três décadas de actividade, servido por uma banda de jovens e exímios músicos que exibiram virtuosismo e encanto no palco do nosso Teatro-Cinema.
Um grupo que, simpaticamente, se dispôs, no final do espectáculo, a autografar bilhetes, programas e CD, com a maior disponibilidade.
Um dos momentos maiores, indubitavelmente, que se viveram nos últimos tempos na sala de espectáculos que nos orgulha.
 
Fotos: Manuel Meira Correia


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

UHF EM FAFE COM LOTAÇÃO ESGOTADA

O espectáculo acústico da banda UHF, que se realiza este sábado à noite no Teatro-Cinema de Fafe, já tem a lotação esgotada.
O espectáculo, que suscitou enorme expectativa, arranca pelas 21h30 e tem a duração de uma hora e meia.
Há muito que a banda de António Manuel Ribeiro se aventurou no formato acústico.
Auditórios, teatros e casinos receberam nos últimos anos a maturidade do som e das palavras, a comunicação directa sem a fronteira do grande palco, do fosso, da fileira de seguranças no aperto dos milhares.
Cumplicidade desarmante é a definição mais correcta, ou apetecível, para revelar estes momentos maiores.
Um espectáculo que servirá também para a apresentação do novo álbum do UHF, “Porquê?” mas que não deixará de revisitar alguns dos temas míticos da banda, como “Cavalos de Corrida”, "Rua do Carmo", “Matas-me com o teu olhar”, “Menina estás à Janela” ou “A Lágrima Caiu”.
É mais um dos momentos altos da programação do Teatro-Cinema de Fafe.

domingo, 14 de novembro de 2010

A RESPONSABILIDADE DOS POLITICOS

A questão da responsabilidade dos políticos na gestão da “coisa pública” vem de longe e foi reposta na ordem do dia, recentemente, pelo líder do PSD, algo exageradamente e com evidentes intuitos eleitoralistas, numa altura em que estão em marcha as “presidenciais” e se preparam, lá para meados de 2011, “legislativas” antecipadas.
Todavia, o tema da responsabilidade é matéria que exige mais profunda reflexão e enquadramento adequado, para que não fique a ideia da impunidade de uma “classe” já de si desacreditada.
Se um médico comete um erro grave, contribuindo para a morte ou a incapacitação de um doente, o mais certo é que será objecto de procedimento disciplinar e poderá vir a ser duramente penalizado.
Se um engenheiro calcular deficientemente uma estrutura de betão armado e um prédio ruir, nem se queira imaginar o que pode suceder a este profissional.
Se o gestor de uma qualquer empresa privada se revelar manifestamente incompetente e conduzir a fábrica à falência, os accionistas vão pedir-lhe severas responsabilidades e ele certamente ficará em maus lençóis (os gestores públicos, inversamente, ao que se diz por aí, em casos que tais, continuarão a manter chorudos ordenados e até poderão ser promovidos para outras empresas, que ajudarão a enterrar, não a eles, mas às ditas cujas…).
Qualquer profissional, ou até qualquer pessoa, cujas decisões ou acções possam contribuir para prejudicar outros cidadãos, empresas ou instituições, não escapará à balança da Justiça, num país que se quer recto, íntegro e justo.
Porque é que os políticos hão-de ser uma classe à parte, escudada na impunidade, na irresponsabilidade, na fuga às sanções (ainda que morais) devidas pelo incumprimento de deveres e desígnios?
Prometem, quando se candidatam, resolver os problemas dos cidadãos, dos maiores aos mais reduzidos mas, frequentemente, não o fazem, porque não podem, ou porque não querem. Ao contrário dos outros cidadãos e dos profissionais, nada lhes sucede.
Os políticos decidem, numa determinada conjuntura, que pode ser a actual, diminuir salários, violar direitos adquiridos, cortar subsídios ou rendimentos sociais, de quem já pouco tem, prejudicando gravemente a vida e as expectativas dos cidadãos, contribuindo, por isso, para lançar milhares de portugueses para o desemprego ou para a pobreza, para a impossibilidade de cumprir compromissos, para a necessidade de terem de se desfazer de casas e automóveis, frustrando vidas, anseios, sonhos. O que é que lhes acontece? Nada, está claro, porque, cândidos, actuam apenas em nome dessa almofada sem contornos chamada “interesse nacional”…
Que responsabilidade, afinal, é a dos políticos?
Os que não tomam medidas atempadas para evitar “buracos” de milhões de euros, em manifesto dano do erário público que lhes cumpre defender, ou que acabam por contemporizar, por acção ou omissão, com atentados ao sistema financeiro, em prejuízo dos cidadãos, podem continuar como se nada estivesse a acontecer?
A manta larga da “responsabilidade política” que normalmente é lançada perante estas situações, no sentido de que são os eleitores que determinam a continuidade dos eleitos, acaba por ser demasiado desculpabilizadora.
É claro, óbvio e manifesto que os políticos fazem, em princípio, o melhor que podem e sabem. Não é isso que está em causa.
O que está em questão é o facto de se saber se, como qualquer outro profissional ou cidadão, em prevaricando, em não cumprindo, em extravasando funções, em prejudicando gravemente os portugueses, por acção ou omissão, os políticos devem ou não ser penalizados, e não apenas do ponto de vista “político”, que é outra forma de afirmar a absoluta impunidade…
Chegará? Ou tal constituirá o sublinhar do descrédito da classe política? A ideia de que, façam o que fizerem, bem ou mal, prejudicando ou beneficiando os eleitores, nada lhes acontece, quando muito o “castigo” de não serem reeleitos…
Passos Coelho propõe a responsabilização civil e criminal dos políticos em determinadas situações. Há quem sustente que já há leis que penalizam os políticos, sob diversos pontos de vista. Há quem sustente que ainda falta penalizar devidamente os crimes de gestão danosa, entre outros…
É matéria em discussão, mas que se impõe ser pensada com rigor, para credibilização dos políticos e da política!...
Mas quem tem medo da responsabilização?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ECONOMIA E DIREITOS HUMANOS

O Presidente da República Popular da China, Hu Jintao, esteve em Portugal, no fim-de-semana, quase gloriosamente. Uma glória pacóvia, já se vê.
Vinha para comprar a dívida externa portuguesa mas ficou-se pelas boas intenções de “apoiar com medidas concretas os esforços dos portugueses para lidar com os impactos da crise financeira internacional”.
Assinou nove acordos bilaterais e louvou a compreensão e “os esforços de Portugal nas relações entre a China e a Europa”. Mas mais nada.
José Sócrates e Cavaco Silva, sempre subservientes ante os fortes, dobraram a cerviz perante o tirano chinês. Falaram de economia, de negócios, de relações, de entendimento. Não tiveram a mínima coragem para pronunciar palavras tão singelas como “liberdade”, “democracia”, “direitos humanos”.
Algum deles fez a mínima alusão à pessoa de Liu Xiaobo, que a Academia Sueca, sem medos, nem hipocrisias, nem duplicidades, galardoou com o Prémio Nobel da Paz em 2010?!...
Dir-se-à que a relação dos pequenos países com os gigantes económicos é baseada naquilo que se chama “realpolitik”, essa expressão que significa que podemos ser muito humanistas mas o peso dos negócios é determinante.
Já sabíamos que os “nossos primeiros” se humilham e acobardam o país perante a China. Quando há meses por cá esteve em visita o Dalai Lama, que foi recebido por chefes de Estado europeus, José Sócrates estava de fim-de-semana em algum resort para subsidiados do rendimento mínimo e Cavaco Silva teve um súbito congestionamento de agenda.
Não se podem incomodar os ditadores. Aliás, é dessa fauna que se constituem os mais exemplares amigos de José Sócrates: basta citar os nomes honrosos de Hugo Chavez, Kadafy e José Eduardo dos Santos, para não irmos mais longe.
Mas se a economia apaga tudo o resto, se não há nada para além dela quando os ditadores visitam este país, para que raio serve essa porcaria dos “direitos humanos”, a não ser para debruar belos discursos de solidariedade vazia?
Alguém acreditará mais em José Sócrates e Cavaco Silva quando vierem com as tretas delicodoces da “democracia universal” e do “humanismo” de pacotilha?
Vão mas é fazer jogging para a celestial Tiananmen

domingo, 7 de novembro de 2010

UM ANO DE SAUDADE

Pai, partiste há exactamente um ano desta para outra vida, porventura mais luminosa, não sabemos. Voltei hoje a estar perto do teu coração, a ver, na tua imagem, aquele sorriso franco e rubro como as papoilas. Voltei ao teu cheiro de muito antigamente, quando a infância era o meu reino, por entre os campos lavrados pelos arados de Maio. Quando subia aos ninhos e rasgava os calções, escorregando pelos pinheiros, sob o teu olhar cândido e compreensivo. Todas as crianças sobem, pelo brilho das manhãs, de encontro à aventura das rolas.
Pai, neste ano, muita coisa mudou. Eu próprio mudei. A perspectiva da tua morte, fez-me repensar a vida e, quem sabe?, o meu próprio fim. Deixa que te conte as muitas lágrimas que derramei em tua memória, porque só sei chorar os que amo profundamente. Podes crer que não há dia que passe sem que o teu rosto fraterno assome à minha lembrança. O meu coração transporta-te todos os dias, todas as horas, todos os minutos, como o ar que respiro.
As tuas árvores, que amorosamente podavas, continuam à espera das tuas mãos calosas. Não se desviaram um milímetro e choram, em determinados momentos, como que de saudade.
O teu carro ainda guarda a tua imagem; o Tico ainda te reconheceria. Não o diz a ninguém, mas também sente a tua falta, como só os cachorros conseguem sentir.
Pai, quero que continues a afagar-me o cabelo, a beijar-me a face de menino, que serei eternamente para ti.
Pai, que bom é ser teu filho eternamente!...
Como te escrevia há um ano, naquelas mensagens cintilantes entre corações, tu apenas passaste para o reino glorioso da luz, e dos cristais, e das andorinhas que tecem a liberdade sob os céus.
Que bem o merecias, esse universo de carinho e de azul e do infindo descanso das planícies. As minhas lágrimas são apenas de alegria pela felicidade de te ter tido como Herói, Amigo, Irmão, simplesmente Pai!
Pai, tinha muito para te dizer, mas o que neste mundo sobressai é refugo. A crise está a dar cabo do país que conheceste, e do qual, em boa hora, emigraste. Não há palavra de honra, impera a corrupção, não há dia que passe sem que apareçam buracos orçamentais e vigarices que tais. O país é uma vilania pegada. Este fim-de-semana veio cá o presidente da China. Falou-se de economia, de acordos bilaterais, de compra de dívida, menos de direitos humanos. Esse é um excelente emblema para debruar os discursos do Cavaco e do Sócrates. A prática é outra coisa… Quando voltarem a falar de “direitos humanos”, vamos mandá-los para o raio que os parta, ou para um lugar ainda pior, como gostavas de praguejar…
Vou dar-te uma novidade, que vai gostar: esta noite, o teu FCP cilindrou o meu Benfica por escandalosos 5-0. Este ano, o delicadinho que treina a tua equipa, e cuja arrogância espúria me causa comichão mental (sempre detestei gajos arrogantes…), pode encomendar as faixas!... E justamente, apesar de tudo!
Um beijo, meu pai. Até sempre! O meu coração nunca deixará de ser a tua morada resplandecente!

sábado, 6 de novembro de 2010

RETRATOS DO TEMPO E DA MEMÓRIA ABORDA 75 ANOS DE VIDA DO GRUPO NUN'ÁLVARES

Na noite de sexta-feira, teve lugar no Estúdio Fénix, a sessão de apresentação da obra Retratos do Tempo e da Memória, da autoria do Professor Alberto Alves e que retrata, basicamente, os primeiros 75 anos da vida do Grupo Nun’Álvares (GNA), de Fafe.
A anteceder o evento, passaram pelo palco diversas secções do Grupo, das áreas teatral, musical, de hip-hop e patinagem artística, em belos momentos, que encantaram a plateia bem composta.
Tive a honra de agradecer ao presidente da Direcção do GNA, o amigo Professor Manuel Mendes, o convite e a oportunidade de deixar algumas palavras sobre a obra e sobre o próprio Grupo, que é de facto e tem sido uma referência incontornável no âmbito do associativismo de natureza cultural, desportiva, recreativa e social do município, nos últimos 78 anos (1932-2010).
Depois, deixei as minhas maiores felicitações e as mais fundas homenagens ao também muito prezado amigo e colega de direcção dos Bombeiros Voluntário de Fafe, Professor Alberto Alves, por esta sua importante monografia sobre a mais relevante instituição cultural da cidade.
Escasseiam grandemente os trabalhos históricos sobre as associações e as instituições locais e daí a sua indiscutível valia e pertinência.
Em termos globais, poderei afirmar que as cerca de 280 páginas que integram a obra não defraudam nenhuma expectativa. A obra está bem escrita, numa linguagem clara, escorreita e acessível, o que não surpreende se tivermos em conta a actividade profissional do seu autor e a sua forte ligação ao jornalismo, sobretudo local, onde durante muitos anos lidou de perto com os maiores segredos das palavras e da arte de escrever. E escrever bem!
É um livro bem organizado e agradavelmente estruturado, numa perspectiva cronológica e tocando nos pontos fundamentais da vida do GNA.
Obviamente que o livro obrigou a aturada investigação por parte do autor, à leitura de actas, documentação, bibliografia, jornais locais e ao que se chama “história oral”, colher depoimentos de antigos nun’alvaristas felizmente ainda vivos para testemunharem períodos ou actividades sobre as quais não há documentação escrita nos arquivos da colectividade.
Este é um trabalho insano que só avalia quem navega nas mesmas águas e prossegue idênticos fins.
É um livro profusamente ilustrado, com imensas fotografias, muitas delas curiosíssimas e deliciosas, permitindo reviver momentos, eventos, encontros, pessoas, memórias de ¾ de século da vida do GNA.
O Grupo nasceu em 6 de Novembro de 1932, à sombra da Igreja Católica e sob a égide do Padre Domingos da Apresentação Fernandes, com o apoio de D. Maria Guimarães Vieira Campos de Carvalho (D. Maria do Comendador), primeira madrinha do grupo.
Surgiu para “tirar os rapazes da rua” e proporcionar-lhes um crescimento assente em valores cívicos, morais e naturalmente religiosos.
Depois de algumas actividades, o Grupo hibernaria e seria refundado em 5 de Novembro de 1951, pelo grupo ligado à “mesa do bilhar do Sindicato dos Caixeiros”, e cujo presidente seria José de Freitas.
A partir dessa altura, e como refere o autor, a ambição do GNA “era deixar marca própria de uma instituição que foi criada para a formação cívica, moral, intelectual e cultural (e porque não política?) dos jovens, através de actividades lúdicas e culturais que os desviassem de situações degradantes e tivessem sempre presente que o Homem é constituído por matéria e espírito”.
Assim é que, pelos seus primeiros estatutos, o GNA se assumiu como uma associação de jovens católicos, com o propósito da sua formação moral e religiosa e ainda de distracção e recreio, sob a direcção do pároco local. Com o andar dos tempos e pelos estatutos de 1982, como sublinha Alberto Alves, o Grupo laicizou-se, apesar de continuar a ter o seu Assistente Espiritual. Após o fundador, Padre Domingos da Apresentação Fernandes, foram assistentes do Grupo o Padre Manuel Domingues Basto (Santa Cruz), o cónego José Leite de Araújo e actualmente o padre José Peixoto Lopes.
Assistimos, depois, na obra, ao desfilar incessante das várias secções e das múltiplas actividades que adornam o historial do GNA e enobrecem a cidade onde se integra.
À dança das sedes sociais, desde o provisório anexo da Igreja Matriz às actuais e belas instalações da Rua Guerra Junqueiro.
E a curiosidades como a entrada das primeiras mulheres para a direcção, no até então “grupo dos rapazes”, o que apenas sucederia em 1975. As primeiras senhoras que entraram para a direcção foram Rosa Maria Torres, Fernanda Oliveira Paredes, Maria Manuela Ribeiro e Ângela Marina Oliveira. A partir daí, tornou-se comum a integração de elementos do género feminino nas direcções, embora nunca o Grupo foi liderado por uma senhora…
De destacar, no GNA, o seu marcado ecletismo, envolvendo as áreas da cultura, do desporto e do recreio, que são amplamente reportadas e ilustradas fotograficamente na obra, pelo que aqui se não avança mais, até por limitação do espaço.
Todas estas actividades guindaram o Grupo à posição de maior agente cultural, em termos do movimento associativo, de Fafe. Ao serviço de Fafe, da sua cultura e da sua sociedade, o Grupo Nun’Álvares impôs-se, sem discussão, pela pluralidade, imponência e eficácia das suas realizações.
De grande retumbância, já agora, e voltadas para a comunidade fafense, foram a organização de cortejos de oferendas a nível concelhio a favor do Hospital da Misericórdia, dos Bombeiros Voluntários e da Igreja Nova de S. José; a organização de várias edições de Festas do Concelho em honra de N.ª S.ª de Antime e de corsos carnavalescos (interrompidos em 1959, retomados em 1988 e 1989 e novamente suspensos a partir dessa data); organização de finais de etapa da Volta a Portugal em Bicicleta e organização de mais de uma dezena edições do Concurso Vestido de Chita. Imensos espectáculos das várias secções; cantares dos reis; actividades de tempos livres, etc.
A obra referencia ainda todos os órgãos sociais do seu historial, a relação dos sócios honorários e beneméritos e conclui com um relato circunstanciado das múltiplas actividades que tiveram lugar no âmbito das comemorações das “Bodas de Diamante”, há três anos atrás, a propósito das quais a autarquia distinguiu a colectividade com a medalha de ouro de mérito concelhio.
Não sendo uma obra perfeita (nenhuma o é), é uma obra que dispensa grandes elogios, dado que se impõe por si mesma, pela sua intrínseca eloquência.
É um testemunho excelente e global sobre quase oito décadas de vida de uma das colectividades referenciais do nosso concelho.
A capa tem a assinatura do artista fafense Carlos Santana, que não regateia o seu apoio e colaboração às associações locais, o que é de realçar vivamente.

FORAL MANUELINO OUTORGADO A MONTE LONGO EM 5 DE NOVEMBRO DE 1513

Uma das datas emblemáticas de um município é a da outorga do seu foral. No caso do antigo concelho de Monte Longo (actual Fafe), o seu único foral foi outorgado pelo Rei D. Manuel I em 5 de Novembro de 1513. Há exactamente, 497 anos. Estamos a três anos apenas de festejar os 500 anos do nosso foral.
No caso de Monte Longo, que já existia desde pelo menos o século XI, o foral não criou o concelho, ao contrário de outros municípios.
Os forais manuelinos, ou “forais novos”, com é o caso, perderam o seu pendor legislativo, jurídico e administrativo e passaram a resumir-se a meras cartas de fiscalidade, fixando tributos e impostos a pagar ao Rei ou aos Senhorios por parte das populações.
Integrados na política reformadora de centralização do poder e de modernização do reino levada a cabo por D. Manuel, estes diplomas convertem-se em indicadores e guias da tributação municipal, deixando de ser instrumentos de garantia das liberdades das populações, como haviam sido nos primeiros séculos da nacionalidade. Entre 1500 e 1520, a chancelaria do “Rei Venturoso” emitiu 589 forais para todo o país, fruto do trabalho de uma comissão onde pontificava Fernão de Pina, cavaleiro da Casa Real. De todos os forais foram feitos três exemplares: um para os arquivos da Torre do Tombo, outro para a Câmara do respectivo concelho e outro para o senhor da terra.
Entre eles, conta-se o que foi outorgado “ha terra e concelho de mote longuo”, em Lisboa, no dia 5 de Novembro de 1513.
Constando de cinco folhas e dez páginas, é um documento “normalizado”, que se aplicou a Monte Longo como se poderia ter aplicado a outro qualquer concelho. Muitas das determinações nele constantes, estão, ipsis verbis, em documentos congéneres de povoações vizinhas. Poucas são as informações concretas que nos permitem identificar pessoas e lugares, ou caracterizar a economia e a sociedade da época. Sabe-se, todavia, que o Senhor das terras de Monte Longo na altura era Pero da Cunha e que já seu pai detivera neste território o senhorio dos direitos reais.
Na altura da outorga do foral, o concelho de Monte Longo era formado por apenas 13 freguesias, uma honra (Cepães) e dois coutos (Pedraído e Moreira do Rei). Um pequeno concelho, eminentemente rural, vivendo dos produtos agrícolas, da pecuária e do artesanato.
Como sublinha o Professor Francisco Ribeiro da Silva (Universidade do Porto), “os forais constituem uma fonte importante para o conhecimento do passado dos concelhos, mesmo que aparentemente sejam breves e simples”, como é o de Monte Longo.
O nosso foral foi devida e minuciosamente estudado e transcrito pelo docente José Carlos Pereira Gonçalves, no âmbito da sua tese de mestrado concluída em 2002, na Universidade do Minho e seria publicado em livro pela Câmara Municipal nesse mesmo ano, sob o título Concelho Medieval de Monte Longo e o seu Foral (286 pp.).

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

UM ABRAÇO, MIGUEL!

Passou, esta quarta-feira, um ano sobre o falecimento do nosso querido amigo e ilustre fafense de coração, Dr. Miguel Monteiro (1955-2009), vitimado por doença incurável, quando muito haveria ainda a esperar do seu entusiasmo vibrante.
Passou um ano de vazio das palavras, deserto dos sorrisos, das graças e do afecto humano daquele saudoso e vivo homem de cultura.
Fafe perdeu um dos maiores intelectuais do município e um dos mais originais e consistentes investigadores da história local. O país ficou privado, para nosso colectivo pesar, de um dos mais competentes especialistas na arquitectura, na vivência e na cultura dos “brasileiros de torna-viagem”, indubitavelmente o maior da nossa terra.
Falar da emigração fafense para o Brasil, das trajectórias do seu retorno, do legado dos brasileiros enriquecidos, a nível da criação das primeiras indústrias, das obras de benemerência, da instrução, e da construção dos belíssimos palacetes e casas apalaçadas que ainda hoje adornam e orgulham a cidade de Fafe, autêntica “capital da arquitectura brasileira”, passa incontornavelmente pela investigação, pelo labor infindo, pelo sacrifício apaixonado do Miguel Monteiro.
Também a criação, consolidação e projecção do Museu da Emigração e das Comunidades lhe está justamente creditado.

Estamos todos incomensuravelmente mais pobres desde há um ano.
Todavia, Miguel, acredita, continuas vivo no nosso coração! Continuamos, podes crer, a nossa obra, em tua homenagem!

Fotos: Manuel Meira Correia