segunda-feira, 29 de abril de 2013

Culminaram em grande as IV Jornadas Literárias de Fafe!
















Na tarde soalheira de domingo, 28 de Abril, a cidade de Fafe assistiu ao culminar das IV Jornadas Literárias, com um grandioso desfile etnográfico, no qual as nossas freguesias e associações deram o melhor de si, num grande momento de exaltação da nossa identidade comum.
As Jornadas configuram, na verdade, o acontecimento cultural mais relevante que se realiza em Fafe ao longo do ano.
Benditos homens e mulheres que Fafe tem e que, sem olhar a horas, a sacrifícios ou a cansaços, dão o melhor do seu tempo e do seu esforço para o bem da comunidade e da cultura desta terra.
Podemos considerar que eles são os heróis deste evento que, não a esgotando, obviamente, marca de uma forma impressiva e forte a cultura local!
Parabéns a todos os que organizaram, protagonizaram e assistiram a este momento maior da cultura e da identidade local!
Este fim-de-semana foi de recriações históricas em torno dos “brasileiros de torna viagem” fafenses, que teve como palco privilegiado o centro urbano, moldado pela característica arquitectura dos “brasileiros”.
No dia 26, sexta-feira, teve lugar a abertura da exposição “Fafe dos Brasileiros – um outro olhar”, com trabalhos das crianças das escolas do concelho, bem como o início da Festa Fafense, que se prolongou pelo fim-de-semana, com barracas de comes e bebes e representações das freguesias e das escolas.
No sábado, relevaram iniciativas como um passeio de bicicletas antigas, o parque temático de jogos tradicionais, com o empenho de todos os agrupamentos de escuteiros do concelho, que organizaram o evento e a recriação histórica “Com Fafe ninguém Fanfe”, a cargo do teatro Vitrine.
Finalmente, o último dia das Jornadas, domingo, começou com a apresentação da Confraria da Vitela Assada à Moda de Fafe.
À tarde, teve lugar a recriação histórica “1913: os novos Paços do Concelho”, com discursos do presidente da Câmara Dr. José Summavielle Soares, seguida da mostra etnográfica e desfile pelas ruas da cidade, sob o tema “A Memória e a Gente: o Património”, com milhares de figurantes das Juntas e associações das freguesias.
Um acontecimento ímpar na cidade, sem dúvida!
As IV Jornadas Literárias de Fafe arrancaram na passada sexta-feira, 19 de Abril, na Praça 25 de Abril, com a presença de centenas de crianças de jardins-de-infância, que dançaram e cantaram ao som de canções do agrado dos mais pequenos.
À noite, no Pavilhão Multiusos, teve lugar um espectáculo com o título “Mala de Cartão” e que pretende ser uma viagem única pelos países que serviram de porto de abrigo a muitos emigrantes fafenses. Participaram activamente como “atores” neste evento, que incluiu muita música e dança, mais de mil crianças e jovens, de escolas e instituições diversas, estando na assistência seguramente três mil pessoas.
O presidente da autarquia, na abertura oficial das Jornadas, considerou tratar-se “do mais relevante acontecimento cultural que se realiza no concelho ao longo do ano”.
As Jornadas Literárias são um hino de louvor à cultura fafense. Município, Escolas, Juntas de Freguesia, associações, instituições e pessoas em particular dão as mãos e, mediante as suas disponibilidades e capacidades, erguem as suas vontades em torno de uma causa maior, a de animar culturalmente a cidade e o território municipal.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Uma obra de vez em quando: "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro

     



O conhecido escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro foi escolhido como patrono das IV Jornadas Literárias de Fafe.
Além de considerado um dos mais famosos e significativos autores brasileiros da era contemporânea, ombreando com Jorge Amado; além de galardoado com diferentes prémios e sobretudo, em 2008, com o Prémio Camões, o mais significativo no universo da literatura lusófona, João Ubaldo tem a particularidade de ser neto de um emigrante fafense.
O seu avô, João Ribeiro, natural de uma freguesia de Fafe, abalou para a cidade de Penedo, Estado de Alagoas, no Brasil, nos primeiros anos do século XX, meio deportado pela família, porque engravidara uma vizinha solteira numa das aldeias de Fafe e que chegou a gerente de uma fábrica têxtil, pertencente a uns portugueses amigos da família. Por lá ficou. Na sua herança (felizmente) contamos com o nome famoso de João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro, nascido na ilha de Itaparica, na Baía, em 23 de Janeiro de 1941.
Doutor em Direito (que nunca exerceu), professor universitário (Universidade Federal da Baía, durante seis anos) e jornalista, é o mais jovem sócio emérito da Academia Brasileira de Letras e autor de um importante conjunto de obras literárias, que o guindam à condição de um dos maiores vultos das letras brasileiras da actualidade.
João Ubaldo está traduzido em 16 línguas, entre as quais o alemão, dinamarquês, espanhol, francês, hebraico, inglês, italiano, jugoslavo e sueco. Diversas obras suas foram adaptadas para o cinema e para televisão.
O consagrado escritor a cada passo recorda o seu avô fafense, João Ribeiro, “uma pessoa adorável”, que lhe dava dinheiro para livros, revistas e guloseimas. João Ubaldo gostava muito do avô, grande companheiro de infância, amigo e confidente, pessoa culta e leitor apaixonado de Camilo e Guerra Junqueiro. Afiança mesmo que lhe deve muito, “talvez até a carreira de escritor”, sendo que o seu avô considerava que só tinha direito ao estatuto de escritor aquele que escrevia livros que davam “para pôr de pé”.
Por isso, João Ubaldo, certamente em sua memória e vincando a sua legitimidade de (grande) escritor, publicou Viva o Povo Brasileiro, um romance histórico com perto de 700 páginas e seguramente a sua melhor e mais conhecida obra literária, considerada já um clássico da literatura brasileira contemporânea, lançada em 1984 e que já vendeu pelo menos 120 mil volumes.
A narrativa percorre quatro séculos da história do Brasil. Nas suas imensas páginas, vemos desde a chegada dos holandeses à Bahia, no século XVII, até os anos 70 do século XX, representados ficcionalmente.
Destinado a privilegiar os episódios que, ao longo dos séculos, vieram consolidando a famosa Irmandade do Povo Brasileiro (invasão holandesa, Independência, Farrapos, Guerra do Paraguai, Abolição, República, Canudos), a cronologia vai de 1647 a 1977.
A construção da identidade é tema central em Viva o Povo Brasileiro.
Grande parte da história da obra, passa-se em Itaparica, terra natal do escritor. Ubaldo, que costuma citar moradores da ilha nas suas crónicas, fala, no livro, sobre a construção da identidade do povo brasileiro. É na ilha que nasce a heroína Maria da Fé, que desafia o poder dominante para fazer parte, ao lado de outras mulheres e homens, da Irmandade do Povo Brasileiro.
É considerada uma das mais importantes obras da literatura brasileira. Apresenta histórias inspiradas nas raízes do povo brasileiro, tendo como personagens negros e índios, portugueses e holandeses. Porém o livro não trata de uma exaltação à história brasileira e sim uma recontagem crítico-satírica da mesma, denunciando a devassidão presente no processo de formação do povo brasileiro.
O livro é um pouco a saga de um povo em busca de sua identidade e afirmação. É em Viva o Povo Brasileiro que João Ubaldo Ribeiro reforça a sua obra como uma das mais significativas e actuantes, do ponto de vista estilístico e político, da Literatura Contemporânea Brasileira.
A linguagem de João Ubaldo é sempre bem-humorada, envolvente, surpreendente. O autor descreve com habilidade os sentimentos e motivações de personagens tão díspares quanto os holandeses exploradores do século XVI, índios canibais, escravos de engenho, poderosos oligarcas, religiosos, funcionários públicos e políticos, entre outros. São dezenas de personagens, numa história fascinante e bem contada, que anda junto e é coerente com a História do Brasil, inclusive nas suas incoerências e injustiças.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Um governo reincidente e chantagista


1. Apesar da intensa e insidiosa chantagem exercida pelo primeiro-ministro sobre o colectivo do Tribunal Constitucional (TC), nas últimas semanas, os juízes não se deixaram intimidar sobre as suas hipotéticas “responsabilidades pelo impacto financeiro da decisão” e, na sexta-feira, anunciaram a declaração de inconstitucionalidade de quatro normas do Orçamento de Estado para 2013, o que acabou por não constituir grande surpresa para os observadores. Representam 1,3 mil milhões, ou seja, 0,8% do défice? Há quem, sabendo, fale apenas em 850 milhões, o que não é exactamente o mesmo!...
Já há meses se adivinhava que o OE violava o princípio constitucional de igualdade proporcional e da justa repartição entre trabalhadores do sector público e do sector privado. Surpresa foi a não declaração de inconstitucionalidade da contribuição extraordinária de solidariedade sobre os reformados.
O Constitucional deixa bem claro que a recessão e o aumento de desemprego não podem servir como justificação para "a imposição de sacrifícios mais intensos aos trabalhadores que exercem funções públicas", punindo-os injustamente.
O mesmo raciocínio se aplica em relação ao confisco do subsídio de férias de reformados e aposentados, bem como dos valores pagos por contratos de actividades de docência ou de investigação. O Tribunal Constitucional declarou também inconstitucional o artigo do Orçamento que impõe uma contribuição de 5% sobre o subsídio de doença e uma contribuição de 6% sobre o subsídio de desemprego.
A reacção dos “prevaricadores” foi de alegada “perplexidade”. A deputada e dirigente do PSD Teresa Leal Coelho, que se tem notabilizado pelo ridículo do que diz, manifestou a preocupação do partido que governa este país e acusa mesmo o TC de “um certo alheamento do contexto económico e financeiro da crise das finanças públicas", o que não deixa de ser caricato, porque há um ano foi exactamente o que os juízes fizeram e não se ouviu o PSD criticar o que quer que seja.
A inacreditável senhora atreveu-se ainda a alegar que o Governo e a maioria parlamentar "cumpriram criteriosamente" as imposições do acórdão do ano passado, quando todos estávamos à espera que cumprissem, como é sua obrigação institucional, tão só o articulado da Lei Fundamental que está em vigor!
2. O que está em causa, desde logo, com esta decisão, é a derrota política do chefe do governo, Pedro Passos Coelho, que, pelo segundo ano consecutivo, reincide na ilegalidade, colocando-se em frontal desrespeito pela Constituição da República Portuguesa que, como bem sublinhou o Chefe do Estado, por estes dias, apesar da situação de assistência financeira em que o país se encontra, não está suspensa.
E porque não está é que, com esta decisão, que naturalmente complica as contas do executivo, por culpa própria, se assiste a uma vitória clara do Estado de Direito e do respeito pelas instituições e pela separação de poderes.
Chega de pressionar ilegitimamente outros órgãos de soberania, como o fez, com absoluta virulência, o chefe do Executivo, que deveria estar mais preocupado em cumprir as leis vigentes neste país e em governar devidamente, se é que tem estofo e competência técnica e politica para o fazer, do que se duvida cada vez mais. Na derrota colossal do governo, que não aprendeu a lição do ano anterior, há também um lugar destacado para o símbolo da incompetência e do desaire financeiro destes dois anos. Tem o nome de Vítor Gaspar. Ele fica irremediavelmente fragilizado com esta decisão do Tribunal Constitucional, porque é o responsável pela elaboração do Orçamento que, em dois anos seguidos, enferma da violação de normas constitucionais. A escassa credibilidade do ministro das Finanças, já pelas ruas da amargura, pelos sucessivos falhanços das suas previsões, acaba atolada na lama pelo desafio malogrado aos juízes do Palácio Ratton.
Mas também o Presidente da República sai chamuscado desta situação, porquanto poderia ter enviado, preventivamente, para o Tribunal Constitucional uma lei que indiciava graves vícios de inconstitucionalidade, mas que acabou por promulgar, alegando o “interesse nacional”. Veio-se agora a verificar que, tal como tinha acontecido em 2012, Cavaco Silva não cumpriu as suas funções constitucionais e acabou por promulgar, reincidentemente, uma lei inconstitucional.
Tal como Passos Coelho, Vítor Gaspar e todo o governo, o presidente da República é claramente um derrotado pela decisão do TC.
 
3. Aqui chegados, mais duas notas. De lamentar a exorbitante dramatização do discurso do governo, na sequência da decisão do Tribunal Constitucional, que já era esperada e que não atinge o montante inicialmente especulado. O que se verifica é que o governo quer mascarar os seus falhanços contumazes, do ponto de vista financeiro e orçamental, com esta decisão do Tribunal. Como não consegue acertar nas suas previsões, sucessivamente falhadas e como a execução orçamental do primeiro trimestre parece ser um desastre, nada melhor que uma “cruzada” política contra um órgão de soberania que se limita a exercer as suas funções, para disfarçar e ocultar os insucessos consecutivos do incompetente ministro Vítor Gaspar.
Por outro lado, evidenciar a posição do Presidente da República no sentido de reiterar que o governo tem todas as condições para continuar a governar. Não é o chumbo do TC que vai alterar o que quer que seja. Os falhanços financeiros são sucessivos, as contas estão permanentemente erradas, os “buracos” orçamentais seguem-se uns aos outros. E ainda falta cortar 4 mil milhões de euros, em nome de uma fantasmagoria chamada “refundação ou reforma do Estado”. Que renegoceiem com a tróica, que deixem de ser capachos da Europa!
Se estes cavalheiros não passam de incapazes, como têm demonstrado, que vão pregar a outra freguesia. Pior que eles será difícil encontrar!

domingo, 7 de abril de 2013

Guerra Colonial evoca-se em Fafe durante um ano (Abril 2013 - Abril 2014)


 
Entre 2011 e 2014 estão a evocar-se os 50 anos do início da Guerra Colonial, que deflagrou em Angola (1961), depois na Guiné (1963) e finalmente em Moçambique (1964).
A Câmara Municipal de Fafe e um grupo de fafenses que combateu na Guerra em África, bem como associações e escolas, decidiu participar na evocação do cinquentenário do início da Guerra em África, o que ocorrerá ao longo deste ano e até Abril de 2014, altura em que se comemoraram os 40 anos do 25 de Abril e do termo oficial da Guerra Colonial.
Estão a decorrer, portanto, os cinquenta anos do início de uma guerra que entrou pela porta dentro das famílias portuguesas sem ser convidada e que mobilizou durante os 13 anos do conflito mais de um milhão de jovens. Destes, mais de 8 mil tombaram na frente de combate ou em acidentes, cerca de 120.000 foram feridos, 4 mil ficaram estropiados e estima-se que cerca de 100.000 mil ficaram a sofrer de “Stress Pós Traumático de Guerra”. Do concelho de Fafe, de acordo com dados oficiais, tombaram 40 jovens: 17 em Angola, 12 em Moçambique e 11 na Guiné.
Na sequência do célebre pensamento que refere que “Só existe uma coisa mais terrível do que uma guerra, fazer de conta que ela nunca aconteceu”, pretende a autarquia fafense, associada à comunidade escolar, às associações de ex-combatentes e à população em geral, dinamizar, pedagogicamente e do ponto de vista histórico, um conjunto de acções com o objectivo de não fazer esquecer o flagelo dessa guerra e de lutar contra a cultura do esquecimento que se instalou em Portugal, após o final da Guerra Colonial.
O primeiro acto desse programa aconteceu na passada sexta-feira, 5 de Abril, na Casa Municipal de Cultura de Fafe, com uma brilhante conferência sobre a Guerra Colonial, pelo coronel Carlos de Matos Gomes, seguida da abertura da exposição itinerante do Museu da Guerra Colonial "Uma História por contar", a qual se mantém patente até 19 de Abril.

 
 
 
Nascido em 1946, o coronel Matos Gomes, actualmente na reserva, cumpriu três comissões, em Moçambique, Angola e Guiné como oficial dos «Comandos». Condecorado com as medalhas de Cruz de Guerra de 1ª e de 2ª Classe. Pertenceu à primeira Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães na Guiné. Foi membro da Assembleia do MFA. Além da sua carreira militar dedicou-se a estudos de História Militar, tendo publicado em co-autoria com Aniceto Afonso as obras Guerra Colonial e Portugal na Grande Guerra. Com Fernando Farinha, publicou Um Repórter na Guerra. É autor da obra Moçambique 1970 – Operação Nó Górdio, entre outras. Como romancista publicou os romances: Nó Cego, ASP- de passo trocado, Soldadó, Os Lobos não Usam Coleira, O Dia das Maravilhas e Flamingos Dourados, entre outros.
Ao longo de mais de uma hora, Matos Gomes abordou a temática “Da Guerra Colonial ao 25 de Abril – a questão colonial no centro da nossa história contemporânea”.
Foi uma autêntica lição de história contemporânea, relacionada com a guerra colonial e os vários momentos que culminaram no 25 de Abril de 1974, o que o Coronel apresentou em Fafe, perante uma plateia de dezenas de fafenses, sobretudo ex-combatentes em África.
Fê-lo de uma forma serena, isenta, conhecedora, interessante do ponto de vista historiográfico. Matos Gomes é sem dúvida um dos maiores conhecedores da problemática da Guerra Colonial, pois combateu no terreno e tem desenvolvido, desde há mais de duas décadas, um notável trabalho de investigação e sistematização de conhecimentos sobre a temática.
Uma noite em grande, que concluiu com a abertura de uma excelente exposição sobre o tema, que teve como cicerone o competentíssimo director científico do Museu da Guerra Colonial, José Manuel Lajes.

 
 

Outras iniciativas:

 
Outras iniciativas estão previstas nos próximos meses, com a colaboração de entidades como o Núcleo de Artes e Letras de Fafe, o Cineclube de Fafe, a editora Labirinto e os agrupamentos escolares do concelho, designadamente uma exposição/feira de livro sobre o tema, recital de poesia sobre a guerra colonial, um Curso Livre de História Local, do Núcleo de Artes e Letras sobre a temática “Fafe e a Guerra Colonial”, um ciclo de cinema sobre a Guerra em África, exposições e teatro alusivo ao tema, culminando, em Abril do próximo ano, com a edição de uma obra de testemunhos e textos de antigos combatentes de Fafe (Fafenses na Guerra Colonial, 1961-1974).
No entanto, o programa estará permanentemente em aberto para o seu enriquecimento com novas iniciativas!

Fotos: Manuel Meira Correia