quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CENTENÁRIO DO PROFESSOR CARLOS TEIXEIRA COMEMORADO EM FAFE E VIEIRA DO MINHO

O Professor Carlos Teixeira, que dá hoje nome a uma escola EB2,3 da cidade e ao respectivo agrupamento de escolas, foi um insigne e respeitado cientista português do século XX, na área da geologia, nascido em Aboim (Fafe), em 1910. O centenário do nascimento daquele vulto maior de intelectual fafense vai ser comemorado nos municípios de Fafe (17 a 23 de Setembro) e de Vieira do Minho (1 a 8 de Outubro). Afinal, as terras de nascimento e de descanso – neste caso, a freguesia de Rossas, encostada a Aboim – de Carlos Teixeira.
O
agrupamento de escolas Prof. Carlos Teixeira, com o apoio dos municípios de Fafe e de Vieira do Minho, Junta de Freguesia de Fafe, Academia de Música José Atalaya e outras entidades, chamou a si (e muito bem) a realização de um programa comemorativo condigno para celebrar o centenário do nascimento do seu emérito patrono.
É o que acontece nas próximas duas semanas, segundo o programa que aqui se deixa esboçado:


17 de Setembro (6ª feira):

Casa Municipal de Cultura de Fafe, 21h30
- Inauguração da exposição “Carlos Teixeira – Uma vida ao serviço da Geologia
- Comunicações:
Doutor Jorge Pamplona (professor do Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho)
Dr. Manuel Ferreira (advogado)

18 de Setembro (Sábado):

Escola EB2,3 Professor Carlos Teixeira, 10h00
- Palestra sobre a Geologia na região de Fafe, seguida de percurso geológico
- Comunicação e orientação: Professor Doutor Fernando Noronha (Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto)

23 de Setembro (5ª feira):

Escola EB2,3 Professor Carlos Teixeira, 09h00
- Exposições, jogos e actividades dirigidas aos alunos

Biblioteca Municipal de Vieira do Minho, 10h30
- Homenagem ao Professor Carlos Teixeira

Rossas, 11h15
- Romagem ao cemitério, colocação de uma coroa de flores na sepultura do Professor Carlos Teixeira

Teatro-Cinema de Fafe, 15h00
- Sessão comemorativa do Centenário do nascimento do Professor Carlos Teixeira
- Comunicações:
Dr. Avelino Barroso (advogado)
Doutora Teresa Salomé Mota (Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa)
Professor Doutor João Pais (Departamento de Ciências da Terra - Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa)
Professor Doutor Rogério Rocha (Departamento de Ciências da Terra - Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e Presidente da Direcção da Sociedade Geológica de Portugal)

17h30
- Concerto musical comemorativo do centenário por alunos da Academia de Música José Atalaya

1 de Outubro (6ª feira):

Casa das Lamas (Casa da Cultura), Vieira do Minho, 21h30
- Inauguração da exposição “Carlos Teixeira – Uma vida ao serviço da Geologia
- Comunicação:
Doutor Jorge Pamplona (professor do Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho)

2 de Outubro (Sábado):

Casa das Lamas (Casa da Cultura), Vieira do Minho, 10h00
- Palestra sobre a Geologia na região de Vieira do Minho, seguida de percurso geológico
- Comunicação e orientação:
Doutor Jorge Pamplona (professor do Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho)

8 de Outubro (Sexta-feira):

Auditório Municipal de Vieira do Minho, 21h30
- Concerto musical comemorativo do centenário por alunos da Academia de Música José Atalaya – Fafe

Biografia do Professor Carlos Teixeira

Professor catedrático, cientista eminente, principal impulsionador dos estudos geológicos em Portugal, investigador e publicista, Carlos Teixeira nasceu em Aboim, neste concelho, em 23 de Setembro de 1910 e faleceu em Lisboa, em 07 de Junho de 1982. De uma extensa biografia que o credencia como figura eminente da Geologia Portuguesa da segunda metade deste século, deixam-se algumas linhas.
Baptizado na igreja de Aboim, foi educado catolicamente e fez a instrução primária em Redondelo, na escola de Casas Novas (Chaves). Frequentou os liceus de Chaves e de Braga, entre 1922 e 1929 e matriculou-se neste último ano na Universidade do Porto, na licenciatura em Ciências Histórico-Naturais, que concluiu em 1933, com elevadas classificações. A sua vocação inicial era a medicina e só não a seguiu por motivo das grandes dificuldades económicas da família. Na Universidade de Coimbra tirou o curso de Ciências Pedagógicas. Em 1934, foi nomeado assistente extraordinário de Botânica da Faculdade de Ciências do Porto e, entre 1937 e 1946, exerceu o cargo de Naturalista do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Faculdade de Ciências do Porto, onde desenvolveu intensa actividade científica, sobretudo na área da paleobotânica. Estes estudos atingiram projecção internacional, reconhecida pelas formas novas que lhe foram dedicadas, tais como, Teixeiridium Rossicum Novojilov e Protodocarpoxylon teixeiras. Doutorou-se em 1944 em Ciências Histórico-Naturais na Universidade do Porto, tendo apresentado como dissertação um trabalho intitulado O Antracolitico Continental Português (Estratigrafia-Tectónica). Dois anos depois, foi contratado como primeiro assistente da Universidade de Lisboa onde realizou, em 1948, provas de agregação, apresentando como dissertação o estudo sobre “A Flora Mesozóica Portuguesa”. Em 1950, após concurso de provas públicas, foi nomeado Professor Catedrático da mesma universidade. Dois anos após, Carlos Teixeira foi eleito Sócio Correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e decorridos três anos Sócio Correspondente da Real Academia de Ciências Exactas e Naturais de Madrid. Em 1960, foi eleito Sócio de número da Academia de Ciências de Lisboa, sucedendo na cadeira n.º 20 ao seu Mestre e amigo Prof. Mendes Corrêa, de quem fez o elogio académico, em notável discurso proferido em 1964. Foi ainda sócio de outras sociedades científicas nacionais e estrangeiras, sendo de mencionar a sua actividade de difusão e ensino das ciências naturais através da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, de cujos corpos directivos fez parte.
A obra científica do Professor Carlos Teixeira é imensa, sempre realizada com entusiasmo, humildade e total dedicação à Ciência. Desenvolveu notável actividade em prol da geologia e da profissão de geólogo, continuando o movimento de renovação dos estudos geológicos começado no Porto pelo Mestre e Professor Carrington da Costa. Estudou a fundo os terrenos do Carbónico continental, que serviu para a tese de doutoramento. Cedo começou a procurar ter visão global da Geologia Portuguesa. Como professor de Geologia, como colaborador dos Serviços Geológicos e como vogal da Junta de Energia Nuclear realizou imensa obra no domínio da Geologia, Paleontologia, Paleobotânica e Cartografia Geológica. Neste domínio, é de realçar a publicação, em 1972, da 4ª edição da Carta Geológica de Portugal, na escala 1/500 000. Para ter uma ideia da importância desta realização para o progresso do país, basta dizer que a última edição do referido mapa datava de 1899, ainda Carlos Teixeira não havia nascido.
Em 1940, em colaboração com outros geólogos, fundou a Sociedade Geológica de Portugal. Em 1956, conseguiu a criação do Centro de Estudos de Geologia da Faculdade de Ciências, ficando como Director até 1975.
O Professor Carlos Teixeira levou uma vida de autêntico sacerdócio, inteiramente dedicada ao estudo, à investigação, à docência e preparação de futuros geólogos e professores, através do patrocínio dado a numerosos doutoramentos. Foi um dos mais perfeitos conhecedores da geologia e da flora do seu país, que percorreu em grande parte a pé, visitando quase todos os locais mais recônditos e mal conhecidos, não se poupando a esforços no afã de pisar o solo. Já nos últimos anos da sua vida, em que perdeu a vista, continuou a trabalhar com a ajuda de amigos que iam visitá-lo, ditando artigos que queria publicar em jornais ou elaborando com eles trabalhos diversos de geologia e paleontologia.
Deixou obra científica valiosíssima e extensa, iniciada em 1934 e representada por cerca de 500 trabalhos sobre temas diversos, sendo que os tratados com maior insistência se relacionam com a geologia dos tempos antemesozóicos, a paleobotânica, a estratigrafia e a cartografia geológica. Igualmente, abordou a Pré-História, a Arqueologia, a Etnografia e a Antropologia, entre outros domínios. Uma das suas obras de maior fôlego, intitula-se Geologia de Portugal, em dois volumes. A maioria dos trabalhos publicados por outros autores estrangeiros sobre geologia de Portugal cita, no texto ou na bibliografia, as obras deste renomado cientista fafense. Merece igual referência, o facto de com Carlos Teixeira a língua portuguesa ficar mais enriquecida, sobretudo, pela introdução de terminologia portuguesa para designar os diversos fenómenos geológicos. Fica-se-lhe a dever a valorização do vocabulário geológico português, através de iniciativas várias e também da sua colaboração em enciclopédias, por exemplo, a Luso-Brasileira Verbo, de que foi um dos principais director e colaboradores, com dezenas de artigos. Colaborou ainda nas publicações Anais da Faculdade de Ciências do Porto, Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, Arquivo do Alto Minho, Boletim da Academia de Ciências de Lisboa, Memórias da Academia de Ciências de Lisboa, Latina, Naturália, Boletim da Sociedade Geológica de Portugal, Prisma, Revista de Guimarães, Revista de Filosofia
e Brotéria, entre outras, bem como em jornais diários com artigos da sua especialidade.
Além de uma extensa, rica e profunda obra científica publicada, o Professor Carlos Teixeira legou uma escola que continua a desenvolver a obra por ele iniciada e que tanto tem prestigiado o país.
Fafe orgulha-se de o ter como filho, apesar de tão desconhecido até há poucos anos. E quem já o conhece?
(In Dicionário dos Fafenses, de Artur Ferreira Coimbra,
2ª edição, 2010, pp. 282-285)

1 comentário:

Luísa disse...

Muito obrigada pela forma inteligente e agadável com que nos ensina a vida de alguém de mérito!
Adorei conhecer a biografia de quem dá o nome ao Agrupamento onde tenho uma filha a estudar, onde estudei, onde quase todos nós aprendemos.
Beijinho terno e bem haja!