Não há dúvida que somos um país de brandos, brandíssimos, costumes. Deixamos que nos calquem, que nos calem, que decidam da nossa vida e das nossas expectativas e não reagimos.
A não ser que se trate de assuntos religiosos ou futebolísticos, que mexem com as mais fundas emoções, e por vezes com a mais primária irracionalidade, os portugueses deleitam-se na maior apatia, no maior comodismo, num conformismo que chega a ser exasperante, paradoxal e absurdo. Será do fado, do destino, da saudade, do que se queira ou não queira. Mas não é coisa que se recomende…
Vejamos.
Há uns dias atrás, mais de um milhão de franceses saiu à rua para protestar contra a subida da idade de reforma dos 60 para os 62 anos, decidida pelo presidente Nicolas Sarkozy e que naturalmente o atira para o seu ponto mais baixo de popularidade. Com Mitterrand, os franceses viram a idade de reforma descer para os 60 anos. Mas o projecto do actual governo ameaça essa conquista social e quer que os cidadãos passem a só poder deixar a vida activa depois dos 62 anos. O plano tem uma execução prevista até 2018 e o argumento é o de sempre, seja em terras gaulesas, seja na Cochinchina: a sustentabilidade do sistema de segurança social e a redução do défice público.
Em Portugal, pelo contrário, as decisões são bem mais gravosas, por parte de um governo que não cumpre promessas eleitorais e que resolveu, contra ventos, marés, promessas eleitorais e direitos adquiridos, aumentar a idade de reforma para os 65 anos, frustrando expectativas de milhares de trabalhadores e inviabilizando a entrada na vida activa de imensa juventude, mais evoluída e qualificada.
Que fizeram os portugueses? Manifestações nas principais cidades? Greves gerais? Cortes de vias-férreas? Marchas de protesto pelo país abaixo? Suicídios? Ameaças de bomba?
Não, que nós somos civilizados. Até de mais. Atropelam-nos os direitos, transformam-nos em títeres nas mãos de interesses não explicados, submetem-nos a decisões que não compreendemos e nós continuamos mudos, serenos e quedos, como se nada fosse connosco, como se a nossa identidade e o nosso modo de ser português fosse chutar a bola para canto e assobiar para o ar. É o nacional-porreirismo no seu esplendor.
Fecham escolas por tudo quanto é aldeia, empobrecendo o território; encerram centros de saúde e serviços essenciais; faltam médicos e desertifica-se o interior, e todos achamos que se trata de uma inevitabilidade, de um custo daquela coisa indefinida chamada “desenvolvimento”, ou “gestão de recursos”, como se governar um país de 10 milhões de habitantes fosse uma questão de régua e esquadro, ou de triunfo da calculadora electrónica. E não é. Porque um país deveria ser, em primeiro lugar, as pessoas. Em segundo, as pessoas e assim sucessivamente, como gostam de proclamar os políticos. Tudo o resto, deveriam ser instrumentos visando a qualidade de vida e a felicidade das pessoas. Mas não é: tem sido para as tiranizar, dominar e deprimir.
Mas nós somos civilizados e não reagimos. Quando muito, debitamos protestos e reclamações no círculo de amigos ou no anonimato da blogosfera.
Adoramos as festas de Verão, as férias, os feriados, os cafés, o futebol, as peregrinações e não estamos para nos ralar com mesquinhas questões de direitos, liberdades e garantias. Coisas de somenos.
Os franceses revoltam-se, manifestam-se, protestam? Problema deles. Nós somos gente de bem, de brandos costumes e não temos nada com que nos preocupar. Por isso, tratamos da nossa vidinha, se possível com muita poesia, neste país que é de loucos e de poetas, como sabemos.
Deixem-me terminar com o poeta Alexandre O’Neill que morreu há duas dezenas de anos e continua a ter tudo a ver com o Portugal de hoje em dia:
Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,A não ser que se trate de assuntos religiosos ou futebolísticos, que mexem com as mais fundas emoções, e por vezes com a mais primária irracionalidade, os portugueses deleitam-se na maior apatia, no maior comodismo, num conformismo que chega a ser exasperante, paradoxal e absurdo. Será do fado, do destino, da saudade, do que se queira ou não queira. Mas não é coisa que se recomende…
Vejamos.
Há uns dias atrás, mais de um milhão de franceses saiu à rua para protestar contra a subida da idade de reforma dos 60 para os 62 anos, decidida pelo presidente Nicolas Sarkozy e que naturalmente o atira para o seu ponto mais baixo de popularidade. Com Mitterrand, os franceses viram a idade de reforma descer para os 60 anos. Mas o projecto do actual governo ameaça essa conquista social e quer que os cidadãos passem a só poder deixar a vida activa depois dos 62 anos. O plano tem uma execução prevista até 2018 e o argumento é o de sempre, seja em terras gaulesas, seja na Cochinchina: a sustentabilidade do sistema de segurança social e a redução do défice público.
Em Portugal, pelo contrário, as decisões são bem mais gravosas, por parte de um governo que não cumpre promessas eleitorais e que resolveu, contra ventos, marés, promessas eleitorais e direitos adquiridos, aumentar a idade de reforma para os 65 anos, frustrando expectativas de milhares de trabalhadores e inviabilizando a entrada na vida activa de imensa juventude, mais evoluída e qualificada.
Que fizeram os portugueses? Manifestações nas principais cidades? Greves gerais? Cortes de vias-férreas? Marchas de protesto pelo país abaixo? Suicídios? Ameaças de bomba?
Não, que nós somos civilizados. Até de mais. Atropelam-nos os direitos, transformam-nos em títeres nas mãos de interesses não explicados, submetem-nos a decisões que não compreendemos e nós continuamos mudos, serenos e quedos, como se nada fosse connosco, como se a nossa identidade e o nosso modo de ser português fosse chutar a bola para canto e assobiar para o ar. É o nacional-porreirismo no seu esplendor.
Fecham escolas por tudo quanto é aldeia, empobrecendo o território; encerram centros de saúde e serviços essenciais; faltam médicos e desertifica-se o interior, e todos achamos que se trata de uma inevitabilidade, de um custo daquela coisa indefinida chamada “desenvolvimento”, ou “gestão de recursos”, como se governar um país de 10 milhões de habitantes fosse uma questão de régua e esquadro, ou de triunfo da calculadora electrónica. E não é. Porque um país deveria ser, em primeiro lugar, as pessoas. Em segundo, as pessoas e assim sucessivamente, como gostam de proclamar os políticos. Tudo o resto, deveriam ser instrumentos visando a qualidade de vida e a felicidade das pessoas. Mas não é: tem sido para as tiranizar, dominar e deprimir.
Mas nós somos civilizados e não reagimos. Quando muito, debitamos protestos e reclamações no círculo de amigos ou no anonimato da blogosfera.
Adoramos as festas de Verão, as férias, os feriados, os cafés, o futebol, as peregrinações e não estamos para nos ralar com mesquinhas questões de direitos, liberdades e garantias. Coisas de somenos.
Os franceses revoltam-se, manifestam-se, protestam? Problema deles. Nós somos gente de bem, de brandos costumes e não temos nada com que nos preocupar. Por isso, tratamos da nossa vidinha, se possível com muita poesia, neste país que é de loucos e de poetas, como sabemos.
Deixem-me terminar com o poeta Alexandre O’Neill que morreu há duas dezenas de anos e continua a ter tudo a ver com o Portugal de hoje em dia:
Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,(...)
Ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!(...)
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...
4 comentários:
JANEIRO/2009
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Greve dos cantoneiros da Câmara Municipal do Porto (1/1) contra a transferência de 212 dos cerca de 300 trabalhadores do sector para duas empresas privadas, deixando a cidade sem serviços de recolha de lixo na noite da passagem de ano.
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Greve geral dos trabalhadores VEDIOR (1/1), que trabalham para a TMN (Call Centers, Back Office's e Lojas TMN), continuando as greves do passado Dezembro.
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Greve na Gate Gourmet (2-3/1), empresa que fornece serviços de catering nos aeroportos, os trabalhadores cumpriram, e concentração de trabalhadores, para exigir aumentos salariais de 5,5 por cento, tendo o piquete de greve sido impedido de entrar nas instalações, primeiro pelos seguranças ao serviço da empresa, que tiveram ordens para encerrar os portões que costumam estar abertos, e mais tarde, já com a presença da PSP e de elementos da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT).
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Em Maçainhas, na têxtil de cardação e fiação, Têxteis António João, em actividade desde 1925, os 22 trabalhadores, com quatro meses de salários e o subsídio de Natal em atraso, foram surpreendidos com os portões da empresa fechados, no dia 5, depois de, nos dias 31 de Dezembro e 2 de Janeiro, a administração ter informado os trabalhadores para ficarem em casa e regressarem ao trabalho no dia 5.
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Quarenta trabalhadoras da empresa de confecções Carveste, em Belmonte, Castelo Branco, receberam, dia 5, cartas de despedimento, justificado com a perda de encomendas, acção que foi imediatamente contestada pelo Sindicato Têxtil da Beira Baixa. A empresa propôs pagar as indemnizações aos trabalhadores com prestações de cem euros, o que faria com que alguns levassem anos para receber.
FEVEREIRO/2009
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Na Fehst, em Braga, vigora um lay-off (desde 6/1), por três meses, abrangendo todos os trabalhadores e... a administração decidiu incluir-se também. Mas até dia 4/2, decidiu do lay-off 14 trabalhadores, três chefias e os dois administradores e tomou outras medidas, para corresponder ao volume de produção.
Greve dos trabalhadores da Renault Retail Group Chelas (6/2), no quadro do processo de luta contra o despedimento colectivo de 24 trabalhadores, e para exigir a negociação do seu caderno reivindicativo. Os trabalhadores salientam que o despedimento é ilegal, mesmo à luz do Código do Trabalho. No dia 27 de Janeiro, a empresa incorreu em «chantagem», ao ameaçar aplicar apenas as compensações legais a quem recuse a proposta da administração.
Concentração nacional dos trabalhadores na mobilidade especial (13/2), junto ao Min. Finanças, em Lisboa, contra a situação em que foram colocados mais de 2000 trabalhadores da Administração Pública.
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Greve nacional de Enfermeiros (20/2) contra o adiamento de negociação das carreiras e o incumprimento de compromissos assumidos por parte do Ministério da Saúde, com adesão acima dos 77% nos hospitais, e quase total nos centros de saúde e nas unidades de saúde familiar.
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Concentração de ORT´s no âmbito da Fiequimetal (20/2), junto às associações patronais, seguidas de deslocação ao Ministério das Finanças.
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Protesto dos trabalhadores das indústrias metalúrgica, química e eléctrica (20/2), frente ao Ministério do Trabalho, acusando o governante de, negando o diálogo com as estruturas sindicais, estar a fugir às suas responsabilidades, na promoção da contratação colectiva (que inclui as actualizações salariais), bloqueada pelas associações patronais.
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Mais de centena e meia de trabalhadores e utentes dos 80 equipamentos públicos do Instituto de Segurança Social (ISS), ameaçados de privatização pelo Governo PS, exigiram (20/2), diante do Ministério do Trabalho, garantias de manutenção dos empregos.
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Greve de 24 horas dos trabalhadores da LISNAVE (26/2), por aumentos salariais justos. Ao fim de 20 anos a perder poder de compra, exigem ser compensados agora, que a empresa apresenta bons resultados. A administração respondeu apenas à matéria salarial, com 2,5%, valor que os trabalhadores consideram insuficiente, tendo em conta os resultados da Lisnave, nos últimos cinco anos.
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Greve por tempo indeterminado dos trabalhadores da Elesa - empresa de reparações de redes de água, gás e esgotos, em Lisboa, pelo pagamento de salários em atraso. A greve dos dias 21-22/1 obrigou a empresa a recuar na decisão discriminatória de pagar o mês de Dezembro apenas a 40 trabalhadores. No dia 23/2 , a administração comprometeu-se a pagar Janeiro, mas não o fez. E os trabalhadores entraram novamente em greve a 23/2. Há mais de seis meses que as remunerações deixaram de ser pagas pontualmente. A administração ameaça recorrer à insolvência alegando falta de obras, facto que é contestado pelos operários, suportados em informações obtidas junta da EPAL, principal cliente da Elesa.
FEVEREIRO/2009
Greve nacional de Enfermeiros (20/2) contra o adiamento de negociação das carreiras e o incumprimento de compromissos assumidos por parte do Ministério da Saúde, com adesão acima dos 77% nos hospitais, e quase total nos centros de saúde e nas unidades de saúde familiar.
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Concentração de ORT´s no âmbito da Fiequimetal (20/2), junto às associações patronais, seguidas de deslocação ao Ministério das Finanças.
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Protesto dos trabalhadores das indústrias metalúrgica, química e eléctrica (20/2), frente ao Ministério do Trabalho, acusando o governante de, negando o diálogo com as estruturas sindicais, estar a fugir às suas responsabilidades, na promoção da contratação colectiva (que inclui as actualizações salariais), bloqueada pelas associações patronais.
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Mais de centena e meia de trabalhadores e utentes dos 80 equipamentos públicos do Instituto de Segurança Social (ISS), ameaçados de privatização pelo Governo PS, exigiram (20/2), diante do Ministério do Trabalho, garantias de manutenção dos empregos.
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Greve de 24 horas dos trabalhadores da LISNAVE (26/2), por aumentos salariais justos. Ao fim de 20 anos a perder poder de compra, exigem ser compensados agora, que a empresa apresenta bons resultados. A administração respondeu apenas à matéria salarial, com 2,5%, valor que os trabalhadores consideram insuficiente, tendo em conta os resultados da Lisnave, nos últimos cinco anos.
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Greve por tempo indeterminado dos trabalhadores da Elesa - empresa de reparações de redes de água, gás e esgotos, em Lisboa, pelo pagamento de salários em atraso. A greve dos dias 21-22/1 obrigou a empresa a recuar na decisão discriminatória de pagar o mês de Dezembro apenas a 40 trabalhadores. No dia 23/2 , a administração comprometeu-se a pagar Janeiro, mas não o fez. E os trabalhadores entraram novamente em greve a 23/2. Há mais de seis meses que as remunerações deixaram de ser pagas pontualmente. A administração ameaça recorrer à insolvência alegando falta de obras, facto que é contestado pelos operários, suportados em informações obtidas junta da EPAL, principal cliente da Elesa.
MARÇO 2009
Grande Manifestação Nacional (13/3), sob o lema: “Mudar de Rumo, + Emprego, Salários, Direitos”, em Lisboa, com a participação de mais de 200 mil pessoas.
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Vigília, há mais de uma semana, de 25 trabalhadores à porta da Oligrama, em Oliveira de Frades, do grupo Sebra, para impedir a saída de materiais. A empresa de mármores e granitos ameaça declarar insolvência. Depois de três meses com salários em atraso, os trabalhadores apresentaram o pedido de rescisão com justa causa, no início do mês, tendo a maioria recebido, dia 9/3, as cartas para o desemprego. Os trabalhadores revelaram-se surpreendidos por a empresa não ter procedido, integralmente, aos respectivos descontos para a Segurança Social, com graves consequências no valor do subsídio de desemprego a receber.
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Manifestação (20/3) de várias dezenas de trabalhadores da Leoni, contra a aplicação do lay-off na empresa.
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Concentralção dos trabalhadores da Camac (20/3), no Porto, exigindo a intervenção do ministro da Economia para evitar o fim da empresa. Em causa estão cerca de 300 postos de trabalho.
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