Setembro é um mês triste. Não pode deixar de o ser, quando é o mês do popular "regresso", da chamada "reentrée", que é um retorno mais chique: ao trabalho, para quem tem a fortuna de hoje em dia ter um emprego; às aulas, para que os jovens não se esqueçam de que para serem alguém na vida têm de aprender, nem que sejam as operações mais triviais de "ler, escrever e contar", se bem que nada disso esteja garantido se o sistema educativo for avante com aquela ministerial bizarria de todos passarem de ano, estudem ou não, empenhem-se ou não liguem a mínima, faltem ou primem pela assiduidade; enfim, a anual volta à "porca da vida" das novelas, da política, do futebol, do escárnio e do maldizer.
Setembro é um mês triste porque se segue imediatamente a outro em que tudo se combina para correr bem. Em Agosto, concentram-se as férias de quem a elas tem direito. O Algarve peja-se de gente, que ocupa praias, hotéis, apartamentos e restaurantes, como se a crise fosse uma miragem. Mas também o Alentejo, a Figueira da Foz, a Póvoa de Varzim, Caminha e Moledo. E também o sul de Espanha, o Brasil e Cabo Verde.
Sinal de que ainda há poder de compra para alguns dias de descanso, ainda que cada vez menos, que estabeleçam uma rotura com o quotidiano, em ambiente descontraído, sem horários, sem relógios, sem a pressão dos restantes onze meses do ano. As férias têm ainda uma coisa de bom: todos os dias são domingo…
Em Agosto as cidades e as aldeias pululam de emigrantes que animam as terras de onde são naturais, com os seus coloridos falares e a sua presença amiga, nas esplanadas, nas ruas, nas estradas, em viaturas cada vez mais topo de gama. São um elemento indispensável na paisagem do Verão desta região e do país, os nossos emigrantes.
Agosto é também mês incontornável de festas e romarias por tudo quanto é aldeia e vila, com direito a procissão de velas, a espectáculos musicais, sermão e procissão e naturalmente ao habitual foguetório. Um misto de sagrado e de profano, que se mesclam e valorizam mutuamente, nas manifestações festivas por excelência. Em Fafe, realizam-se dezenas delas, praticamente em todas as paróquias, sendo as mais importantes (sem menosprezo pela pertinência de todas elas) a de S. Salvador de Armil, em meados do mês, a da Senhora das Neves, na Lagoa e a da Senhora das Graças, no último fim de semana de Agosto. É o auge e praticamente o final das festividades de Verão neste município.
Agosto é, assim, o lugar apolíneo da existência humana, a sua margem positiva, de satisfação, de alegria, de solidariedade.
Mas Agosto tem também o seu lado negro. Terrivelmente escuro. E este ano, tal como nos anteriores, voltou a marcar a sua presença abrasadora. Referimo-nos aos milhares de incêndios que voltaram a flagelar as povoações de norte a sul do país, aproveitando as altas temperaturas, a ausência de humidade, a negligência dos cidadãos e a falta de limpeza das propriedades públicas e privadas.
Nas piores semanas, registaram-se mais de 2500 fogos florestais, à média de 400-500 por dia, que voltaram a fazer as aberturas dos telejornais e as manchetes da imprensa durante a maior parte do mês, com cenas lancinantes de desespero e angústia. Cenário, desafortunadamente, que se prolonga no mês do triste Setembro… Em Fafe, também as coisas estiveram muito más, com centenas de ocorrências, um pouco por todo o concelho. Não passou praticamente um dia sem que as nuvens de fumo se elevassem sobre o anel do concelho, aqui, ali, acolá, como se um dedo invisível programasse o acendimento das chamas quase em simultâneo… Basta olhar para a desolação que são as nossas montanhas, um pouco por todas as freguesias… Falamos de uma catástrofe ambiental que destruiu mais de 70 mil hectares de floresta e mato, só até 15 de Agosto, o que representa um milhão de toneladas de CO2 expelido para a atmosfera, a mesma quantidade que seria produzida por 29milhões de automóveis a circular entre o Porto e Lisboa, segundo a Quercus. Um absurdo sem sentido que denuncia os assassinos que andam à solta pelo país e que não olham a meios para desertificar o território, em função de interesses os mais diversificados. Não passam de criminosos abjectos e indesculpáveis, estejam ao serviço de empresas de venda de material de combate aos fogos, sejam lavradores que querem arranjar pastos para o seu gado, sejam especuladores imobiliários, sejam, na melhor das hipóteses, apenas cidadãos negligentes.
No seu combate estiveram e estão os heróis (e os mártires, tantas vezes) da nossa contemporaneidade, os bombeiros voluntários que arriscam a sua vida em holocausto pela defesa da vida e dos bens alheios. Eles merecem o nosso maior reconhecimento e gratidão, merecem todas as estátuas, todas as rosas, todas as palavras mais belas dos dicionários!... É por eles que vale a pena estar vivo!
Já entrámos em Setembro, um mês triste. Prenúncio de Outono, das folhas a cair, o sol longilíneo, a paisagem a tingir-se de melancolia, após a festa de Verão. Mês do retorno das estéreis e caricatas guerrilhas dos responsáveis políticos, agora que se aproximam as eleições presidenciais (não seria melhor os políticos continuarem de férias, se possível indefinidamente?); mês em que o processo "Casa Pia" teve já a sua sentença condenatória, a sua alegada mão pesada, certamente para mostrar que a Justiça em Portugal "funciona" (alguém acredita?); mês de duro arranque da selecção de futebol, enredada em querelas mesquinhas, em questiúnculas que fazem corar de vergonha quem gosta de Portugal. Dois penosos jogos; um incrível ponto, em seis possíveis. Que mais nos irá acontecer?!...
Mas não há como escapar ao destino. As estações do ano são inelutáveis. Há que fazer o melhor para lhes sobreviver!
Setembro é um mês triste porque se segue imediatamente a outro em que tudo se combina para correr bem. Em Agosto, concentram-se as férias de quem a elas tem direito. O Algarve peja-se de gente, que ocupa praias, hotéis, apartamentos e restaurantes, como se a crise fosse uma miragem. Mas também o Alentejo, a Figueira da Foz, a Póvoa de Varzim, Caminha e Moledo. E também o sul de Espanha, o Brasil e Cabo Verde.
Sinal de que ainda há poder de compra para alguns dias de descanso, ainda que cada vez menos, que estabeleçam uma rotura com o quotidiano, em ambiente descontraído, sem horários, sem relógios, sem a pressão dos restantes onze meses do ano. As férias têm ainda uma coisa de bom: todos os dias são domingo…
Em Agosto as cidades e as aldeias pululam de emigrantes que animam as terras de onde são naturais, com os seus coloridos falares e a sua presença amiga, nas esplanadas, nas ruas, nas estradas, em viaturas cada vez mais topo de gama. São um elemento indispensável na paisagem do Verão desta região e do país, os nossos emigrantes.
Agosto é também mês incontornável de festas e romarias por tudo quanto é aldeia e vila, com direito a procissão de velas, a espectáculos musicais, sermão e procissão e naturalmente ao habitual foguetório. Um misto de sagrado e de profano, que se mesclam e valorizam mutuamente, nas manifestações festivas por excelência. Em Fafe, realizam-se dezenas delas, praticamente em todas as paróquias, sendo as mais importantes (sem menosprezo pela pertinência de todas elas) a de S. Salvador de Armil, em meados do mês, a da Senhora das Neves, na Lagoa e a da Senhora das Graças, no último fim de semana de Agosto. É o auge e praticamente o final das festividades de Verão neste município.
Agosto é, assim, o lugar apolíneo da existência humana, a sua margem positiva, de satisfação, de alegria, de solidariedade.
Mas Agosto tem também o seu lado negro. Terrivelmente escuro. E este ano, tal como nos anteriores, voltou a marcar a sua presença abrasadora. Referimo-nos aos milhares de incêndios que voltaram a flagelar as povoações de norte a sul do país, aproveitando as altas temperaturas, a ausência de humidade, a negligência dos cidadãos e a falta de limpeza das propriedades públicas e privadas.
Nas piores semanas, registaram-se mais de 2500 fogos florestais, à média de 400-500 por dia, que voltaram a fazer as aberturas dos telejornais e as manchetes da imprensa durante a maior parte do mês, com cenas lancinantes de desespero e angústia. Cenário, desafortunadamente, que se prolonga no mês do triste Setembro… Em Fafe, também as coisas estiveram muito más, com centenas de ocorrências, um pouco por todo o concelho. Não passou praticamente um dia sem que as nuvens de fumo se elevassem sobre o anel do concelho, aqui, ali, acolá, como se um dedo invisível programasse o acendimento das chamas quase em simultâneo… Basta olhar para a desolação que são as nossas montanhas, um pouco por todas as freguesias… Falamos de uma catástrofe ambiental que destruiu mais de 70 mil hectares de floresta e mato, só até 15 de Agosto, o que representa um milhão de toneladas de CO2 expelido para a atmosfera, a mesma quantidade que seria produzida por 29milhões de automóveis a circular entre o Porto e Lisboa, segundo a Quercus. Um absurdo sem sentido que denuncia os assassinos que andam à solta pelo país e que não olham a meios para desertificar o território, em função de interesses os mais diversificados. Não passam de criminosos abjectos e indesculpáveis, estejam ao serviço de empresas de venda de material de combate aos fogos, sejam lavradores que querem arranjar pastos para o seu gado, sejam especuladores imobiliários, sejam, na melhor das hipóteses, apenas cidadãos negligentes.
No seu combate estiveram e estão os heróis (e os mártires, tantas vezes) da nossa contemporaneidade, os bombeiros voluntários que arriscam a sua vida em holocausto pela defesa da vida e dos bens alheios. Eles merecem o nosso maior reconhecimento e gratidão, merecem todas as estátuas, todas as rosas, todas as palavras mais belas dos dicionários!... É por eles que vale a pena estar vivo!
Já entrámos em Setembro, um mês triste. Prenúncio de Outono, das folhas a cair, o sol longilíneo, a paisagem a tingir-se de melancolia, após a festa de Verão. Mês do retorno das estéreis e caricatas guerrilhas dos responsáveis políticos, agora que se aproximam as eleições presidenciais (não seria melhor os políticos continuarem de férias, se possível indefinidamente?); mês em que o processo "Casa Pia" teve já a sua sentença condenatória, a sua alegada mão pesada, certamente para mostrar que a Justiça em Portugal "funciona" (alguém acredita?); mês de duro arranque da selecção de futebol, enredada em querelas mesquinhas, em questiúnculas que fazem corar de vergonha quem gosta de Portugal. Dois penosos jogos; um incrível ponto, em seis possíveis. Que mais nos irá acontecer?!...
Mas não há como escapar ao destino. As estações do ano são inelutáveis. Há que fazer o melhor para lhes sobreviver!
Foto: Manuel Meira Correia
2 comentários:
"Um absurdo sem sentido que denuncia os assassinos que andam à solta pelo país e que não olham a meios para desertificar o território, em função de interesses os mais diversificados. Não passam de criminosos abjectos e indesculpáveis, estejam ao serviço de empresas de venda de material de combate aos fogos, sejam lavradores que querem arranjar pastos para o seu gado, sejam especuladores imobiliários, sejam, na melhor das hipóteses, apenas cidadãos negligentes."
Concordo plenamente com a parte "assassinos que andam à solta e que não olham a meios para desertificar o território", mas parece-me que eles se acumulam mais por Lisboa...
Que bom que vem Setembro...
Sente-se no ar uma nova estação a espreitar!Sente-se a vida a rolar com o sabor doce de compota e cheio de acenos à despedida do mar!
Setembro, hoje, vem surpreendentemente cantado na voz sentida dum fotografo excelente!De alguém que vai marcar as folhas caídas sem lembrar a tristeza que lhe traz a estação!E, quando se lembrar de publicar as imagens que dele guarda,vai querer partilhar com quem enfrenta a vida com a alegria imensa de ver o tempo passar!
Beijinho terno, ao autor, pelas letras lançadas a Setembro, ao anfitrião desta sala, por nos ter recebido. A ambos, votos de um excelente Setembro!
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