Sabemos da existência de feiras no território do município de Fafe desde pelo menos finais do século XVII. O Padre Carvalho da Costa, na sua citadíssima Corografia, editada no princípio do século seguinte, informa que “tem feira em Fafe no primeiro do mez, & em Pica aos 18”.
Ainda na primeira metade do século XVIII, a monografia do Padre João de Sousa Homem, redigida em 1736, apresenta alguns informes sobre as feiras que então se realizavam no concelho. A informação é já mais pormenorizada. Ficamos a saber que a feira franca se deve a uma provisão de D. João V (1689-1750), que dura um dia e se realiza num dos primeiros dias de cada mês, não sabemos qual. Além dessa, havia a feira de S. Bartolomeu, também franca, com a duração de dois dias, comerciando-se todo o género de produtos no primeiro e apenas gado, no segundo. A feira da Pica, a 18 de cada mês, é apenas feira de gado.
Refere então o pároco de Santa Eulália de Fafe:
Em os primeiros de todos os meses se fas a feyra franca de Fafe no famoso terreyro da Cadea em que se vendem gados, porcos, e toda a mais mercancia e mercearia. Esta feyra antigamente haverá 10 anos se mudou do lugar vesinho (a que ainda por isso chamão a Feyra) para este sitio. E se fes franca por Provisão do Serenissimo Senhor Rey D. João 5º que Deos guarde á instancia do existente Capitão-mor d’este Concelho. Dura esta feyra somente um dia.(…) Ha mais neste Concelho a feyra da Pica entre S. Gens e Quinchães em 18 de todos os meses: consta só de gado.
Pela primeira vez encontramos informação sobre a feira de 16 de Maio na obra O Minho Pittoresco, de José Augusto Vieira, publicada em Lisboa, em 1886.
Aí se alude às “feiras de anno, que teem logar na villa”, por sinal bem animadas: nos dias 16 de Maio e 22 de Agosto. Esta chamava-se a feira das cebolas, “por ser quasi exclusivamente este o género que ali se vende”. Contudo, pela primeira vez, surge-nos o 16 de Maio, como feira franca, de gado. Diz Vieira que nesta “faria um pintor animalista a sua colheita farta, estudando, esboçando as atittudes das numerosas manadas, que ahi concorrem”. Quando começou a realizar-se a feira franca dos 16 de Maio, que ainda hoje vigora, coincidente com o feriado municipal? Por certo, algures no século XIX. É uma matéria que ainda carece de investigação.
O autor de O Minho Pittoresco evidencia a animação, o movimento e o colorido daquelas feiras anuais. Visionando essas manifestações de cultura popular, um artista encontraria esplêndidos motivos para o estudo, “transportando para o seu album os costumes das lavradeiras, a physionomia risonha dos burguezes da villa ou das donas de casa que vêem fazer as suas compras, os carros enfileirados, em volta de que se agrupam os compradores, as dansas, os descantes populares!”.
As Feiras Francas de 16 e 17 de Maio são ainda hoje um apreciado cartaz turístico que anualmente se repete (desde há anos com a realização simultânea de uma frondosa exposição de artigos, produtos e maquinaria para a actividade agrícola), com dois números obrigatórios e incontornáveis – o concurso pecuário e a corrida de cavalos, a 17 de Maio – que trazem à cidade milhares de assistentes, do concelho e das redondezas, em ar de festa e de enorme animação.
Há algumas décadas, o escritor Inocêncio Carneiro de Sá (“Barão de Espalha Brasas”), publicou um texto sobre o acontecimento, que achamos de interesse reproduzir, pela actualidade que ainda integra. É assim (excertos):
A Feira Franca, que se realiza em Fafe, nos dias 16 e 17 de Maio de cada ano, é de tradição muito antiga.
A sua fama de tal modo se espalhou, na marcha dos decénios, que a sua data é hoje conhecida em todo o país, razão pela qual a ela concorrem os negociantes ambulatórios de todas as terras do Norte, especialmente.
(..)
Duas competições se realizam, que atraem de sobremaneira o Povo e fazem juntar milhares de espectadores: as corridas de cavalos e o Concurso Pecuário.
Na corrida de cavalos aprecia-se a velocidade dos equídeos, que executam o seu percurso travados; (…).
E no Concurso Pecuário admiram-se os famosos exemplares de gado bovino, a cuja competição afluem os tratadores proprietários de terras muito distantes de Fafe.(…)
Este panorama mantém-se ainda nos nossos dias, embora certas características mais tradicionais vão perdendo alguma acuidade. As feiras francas da actualidade trazem atrás de si uma considerável parafernália comercial, concretizada nos carrocéis e divertimentos de toda a espécie, voltados para as crianças e os jovens, barracas de comes e bebes, tendas de venda de discos e brinquedos que se instalam na cidade nos dias imediatamente anteriores e posteriores às festividades. Certo é que ninguém lhes fica indiferente: ou porque goste da folia e das corridas de cavalos, ou porque deteste o barulho às vezes ensurdecedor debitado pelos carrocéis.
Mantendo características que perduram ao longo dos últimos decénios, as feiras francas vão-se adaptando aos novos tempos, sobrevivendo como espaço necessário e cíclico de realização social.
A visitar, juntamente com mais uma edição da ExpoRural (esta no Pavilhão Multiusos), no Parque da Cidade, até ao final da tarde de amanhã!
Fotos: Manuel Meira Correia
Sem comentários:
Enviar um comentário