1. Depois de semanas seguidas dessa mentira chamada “pré-campanha”, em que a única mensagem proibida é o apelo expresso ao voto, pelo menos, de forma escrita, eis-nos já nos últimos dias da campanha eleitoral, rumo às legislativas antecipadas do próximo domingo. Com bandeiras, cachecóis, autocolantes, cartazes, comícios, bebícios, caravanas, outdoors, gritaria, demagogia, numa espécie de carnaval tardio com ampla participação das forças partidárias. E essa “bebedeira das sondagens” diárias de que falava por estes dias Paulo Portas.
Não há dia que passe sem que se denunciem picardias entre os líderes dos principais partidos, sem que apareçam acusações, queixas, críticas, censuras, justificações, ataques pessoais e políticos. Como sempre, quem está no poder tudo faz para o conservar, defendendo-o e justificando-o, desculpando-se, enquanto quem vive na área da oposição trabalha para o conquistar, usando de todas as armas que a legalidade eleitoral lhe faculta. Ouvem-se, por estes dias, muita mentira, imensas enormidades, absurdos sem sentido, promessas que todos sabemos serem inconcretizáveis. É a mascarada no seu esplendor. Os candidatos deslocam-se às instituições, para tomarem contacto dos problemas que estão fartos de conhecer; as feiras enchem-se de bandeiras, de sorrisos, de abraços, de beijinhos. Por estes dias, os comuns cidadãos, potenciais eleitores, são os alvos de todas as campanhas. Os eleitores podem desconhecer os candidatos, mas estes não se importam: distribuem propaganda, prodigalizam simpatia, dão palmadas nas costas, como quem diz esperar pelo voto dos incautos.
Nestes dias, os candidatos, quaisquer que sejam, da esquerda à direita, como por magia, “conhecem” todos os eleitores. Transitoriamente, como é óbvio. Daqui a uns dias, apurados os resultados eleitorais, já não haverá ninguém nas feiras, nem nos tempos de antena, nem nas sondagens, nem nas promessas para não cumprir.
Tudo regressará à pacata normalidade!...
2. As sondagens conhecidas nos últimos dias (embora discrepantes) anunciam que o PSD de Passos Coelho poderá vir a ser o vencedor das próximas eleições. Sem maioria absoluta. Para a conseguir, só com a ajuda indispensável do CDS de Paulo Portas, que as sondagens dão como “partido-charneira” para a eventual obtenção de uma maioria de direita, como quer Cavaco Silva. Finalmente, poderá a direita vir a conseguir, pela primeira vez desde o 25 de Abril, o seu antigo sonho sá-carneirista de “um presidente, uma maioria, um governo”.
Poderá, então, vir a fechar-se um ciclo de seis anos de governo socialista que teve os seus bons momentos e os seus momentos de polémica; que fez reformas importantes, mas frequentemente contra os próprios protagonistas, o que raramente é bom sinal; que revelou demasiado autismo social, em determinados momentos; que enfrentou com vigor e coragem a maior crise financeira que se abateu sobre o país nas últimas décadas, mas que tudo indica vai acabar afogado nas águas de uma tempestade que não soube ou não conseguiu prever a tempo. Só um milagre salvará José Sócrates do cadafalso político.
Mas o povo sem qualquer dúvida tem sempre razão! …
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