sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A respeito da falta de respeito!


1. Na última semana, vários governantes foram interrompidos pelo pulsar mais profundo da sociedade portuguesa. E queixam-se amargamente de que a situação já está a passar das marcas.
Esta quinta-feira, no final da reunião do Conselho de Ministros, o secretário de Estado da Presidência do Conselho, Luís Marques Guedes, não foi vaiado, porque a coisa se faz em sala fechada, para as televisões, atribuiu a alegados «grupos minoritários», a perturbação que tem ocorrido em iniciativas onde participam membros do Governo.
E o homem até falou na falta de respeito que estará a haver por parte desses portugueses para com o governo.
 
2. Na verdade, os governantes estão no seu pleno direito de lamentar a falta de respeito dos portugueses. Estou com eles, com o seu esforço descomunal e hercúleo para elevar o país que cada vez mais afundam.
Têm razão os governantes ao pedir respeito, esse mito sagrado de que todos gostam e ninguém cumpre. Afinal, o respeito que merecem é o respeito que advém do estrito cumprimento dos compromissos que assumiram vai para dois anos:
- o de não aumentar selvaticamente os impostos,
- o de não cortar criminosamente salários e pensões,
- o de não empobrecer barbaramente os portugueses,
- o de não cortar o apoio social aos mais pobres,
- o de não facilitar os despedimentos e fazer explodir as falências,
- o de não aumentar em mais 300 mil o exército de desempregados,
- o de não desertificar ainda mais o país,
- o de não incentivar milhares de jovens e menos jovens a emigrar, como único recurso para subsistirem,  
- o de olhar mais para os interesses dos cidadãos portugueses que para os especuladores financeiros nacionais e internacionais,
- o de não contribuir, nem de perto nem de longe, para que milhares de portugueses fiquem sem casa, que é o último reduto da dignidade, sem emprego, sem possibilidades de continuar a estudar no ensino superior ou até a frequentar o jardim de infância, ou o lar de idosos,
- o de ser forte para com os fortes (os interesses económicos, o sistema financeiro, o alto capital) e protector dos mais fracos e desprotegidos,
- o de não mentir aos cidadãos, cumprindo promessas eleitorais!
Como cumpriram, e respeitaram escrupulosamente todos e cada um destes compromissos, e de outros que aqui se não enumeram, por fastidiosos, os Passos, Relvas e Macedos têm inteira razão para se indignarem com os portugueses que os contestam, interrompem e silenciam, porque afinal demonstram ser uns ingratos e mal-agradecidos para quem quer o melhor para os cidadãos, para quem afanosamente combate pela melhoria do acesso de todos à saúde, à educação e à segurança social, em condições de justiça e de qualidade, como é timbre do Estado Social, que vertebra a Europa civilizada!
Na verdade, este povo está a passar das marcas! Quer dizer, a ganhar consciência política e social, a concluir que a democracia representativa e do voto rotineiro e descomprometido é fundamental mas não suficiente para acalentar a mundividência de uma sociedade cada vez mais exigente, apesar de espezinhada por impostos e alienações.
Quem não consegue perceber essa realidade, vai passar a vida a queixar-se da ingratidão dos portugueses e da falta de respeito de alegados “grupos minoritários”, que seguramente não o são e vão crescendo dia a dia, apesar da convicção de que estamos numa “democracia madura e estável”, como apreciam os políticos que mais contribuem para a denegrir! 

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