1. Na
última semana, vários governantes foram interrompidos pelo pulsar mais profundo
da sociedade portuguesa. E queixam-se amargamente de que a situação já está a
passar das marcas.
Esta quinta-feira, no final da reunião do
Conselho de Ministros, o secretário de Estado da Presidência do Conselho, Luís
Marques Guedes, não foi vaiado, porque a coisa se faz em sala fechada, para as
televisões, atribuiu a alegados «grupos minoritários», a perturbação que tem ocorrido
em iniciativas onde participam membros do Governo.
E o homem até falou na falta de respeito
que estará a haver por parte desses portugueses para com o governo.
2.
Na verdade, os governantes estão no seu pleno direito de lamentar a falta de
respeito dos portugueses. Estou com eles, com o seu esforço descomunal e
hercúleo para elevar o país que cada vez mais afundam.
Têm razão os governantes ao pedir respeito,
esse mito sagrado de que todos gostam e ninguém cumpre. Afinal, o respeito que
merecem é o respeito que advém do estrito cumprimento dos compromissos que assumiram
vai para dois anos:
- o de não aumentar selvaticamente os
impostos,
- o de não cortar criminosamente salários e
pensões,
- o de não empobrecer barbaramente os
portugueses,
- o de não cortar o apoio social aos mais
pobres,
- o de não facilitar os despedimentos e
fazer explodir as falências,
- o de não aumentar em mais 300 mil o
exército de desempregados,
- o de não desertificar ainda mais o país,
- o de não incentivar milhares de jovens e
menos jovens a emigrar, como único recurso para subsistirem,
- o de olhar mais para os interesses dos
cidadãos portugueses que para os especuladores financeiros nacionais e
internacionais,
- o de não contribuir, nem de perto nem de
longe, para que milhares de portugueses fiquem sem casa, que é o último reduto
da dignidade, sem emprego, sem possibilidades de continuar a estudar no ensino
superior ou até a frequentar o jardim de infância, ou o lar de idosos,
- o de ser forte para com os fortes (os
interesses económicos, o sistema financeiro, o alto capital) e protector dos mais
fracos e desprotegidos,
- o de não mentir aos cidadãos, cumprindo
promessas eleitorais!
Como cumpriram, e respeitaram
escrupulosamente todos e cada um destes compromissos, e de outros que aqui se
não enumeram, por fastidiosos, os Passos, Relvas e Macedos têm inteira razão
para se indignarem com os portugueses que os contestam, interrompem e
silenciam, porque afinal demonstram ser uns ingratos e mal-agradecidos para
quem quer o melhor para os cidadãos, para quem afanosamente combate pela
melhoria do acesso de todos à saúde, à educação e à segurança social, em
condições de justiça e de qualidade, como é timbre do Estado Social, que
vertebra a Europa civilizada!
Na verdade, este povo está a passar das
marcas! Quer dizer, a ganhar consciência política e social, a concluir que a
democracia representativa e do voto rotineiro e descomprometido é fundamental
mas não suficiente para acalentar a mundividência de uma sociedade cada vez
mais exigente, apesar de espezinhada por impostos e alienações.
Quem não consegue perceber essa realidade,
vai passar a vida a queixar-se da ingratidão dos portugueses e da falta de
respeito de alegados “grupos minoritários”, que seguramente não o são e vão
crescendo dia a dia, apesar da convicção de que estamos numa “democracia madura
e estável”, como apreciam os políticos que mais contribuem para a denegrir!
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