No
ano passado transcorreram 150 anos sobre a publicação da primeira edição do
mais famoso romance da literatura portuguesa contemporânea, Amor
de Perdição, de Camilo Castelo Branco, o qual acabo de reler, com o maior dos gostos.
Inicialmente
editada em 1862, a consagrada obra foi escrita na cadeia da Relação do Porto,
no ano anterior, tal como aconteceu com O Romance de Um Homem Rico e algumas
das histórias dos Casamentos Felizes, outros livros de grande alcance do nosso
maior autor romântico.
O Amor
de Perdição é o mais popular dos romances de Camilo Castelo Branco.
Foi
escrito em quinze dias febris, quando o autor se encontrava preso, a cumprir
pena pelo crime de adultério na pessoa de Ana Plácido. Como se sabe, Camilo
Castelo Branco enamorou-se da mulher do brasileiro Manuel Pinheiro Alves, que
naturalmente não aceitou a traição amorosa. Perseguiu Camilo e a esposa
adúltera, obrigando o romancista a refugiar-se durante um ano (1860) por
diversas localidades, entre as quais Guimarães, Fafe e Vila Real. No final
daquele ano entregou-se à justiça e foi preso na Cadeia do Porto, onde se
entregou à escrita da obra que o imortalizou.
Tinha
na altura 37 anos e já escrevera e publicara catorze romances.
Obra emblemática do Romantismo português, Amor de Perdição conta-nos a história de Simão
Botelho, de 17 anos e Teresa de Albuquerque, 15 anos, dois jovens que pertencem
a famílias distintas desavindas de Viseu.
Os jovens acabam por se apaixonar e manter um namoro silencioso através
das janelas próximas. Ambas as famílias, desconfiadas, fazem de tudo para
combater a união amorosa. Tadeu de Albuquerque (o pai de Teresa), após
recorrentes tentativas de casar sua filha com um primo acaba por interná-la num
convento.
Após luta travada com os criados do primo de
Teresa, Simão Botelho permanece na casa de um ferreiro devedor de favores ao
seu pai. A filha do ferreiro, Mariana, acaba também por se apaixonar por Simão,
constituindo um triângulo amoroso. Teresa e Simão mantêm contacto por cartas.
Este, numa tentativa de resgatar Teresa do convento, acaba por balear o primo
de Teresa, Baltasar, e é condenado à forca. Mais tarde, as influências de seu
pai, antigo corregedor, irão mudar a pena para dez anos de degredo na Índia. Ao
embarcar, vê Teresa, que morre tuberculosa. Nove dias depois, doente, Simão
acaba por morrer também, e no momento em que vão lançar o corpo ao mar,
Mariana, sua paixão silenciosa e platónica, lança-se ao mar.
É assim um romance que trata de amores contrariados
e infelizes e que tem algo a ver com o próprio caso de Camilo e a paixão da sua
vida, Ana Plácido.
Camilo transfere para Simão Botelho um pouco das
suas vivências e paixões arrebatadas.
Todavia, no fundamental, Amor de Perdição é a crónica romanceada de um
membro da família de Camilo: o seu tio Simão António Botelho, irmão de se pai,
Manuel Botelho.
O Amor
de Perdição é o livro mais traduzido do escritor, representa a sua fase
de plena maturidade artística e foi por diversas vezes adaptado ao teatro e ao
cinema. Lembremos os filmes de António Lopes Ribeiro, Manoel de Oliveira e,
mais recentemente, de Mário Barroso, sobre este livro.
Uma
obra intemporal, um clássico da literatura portuguesa!
Sem comentários:
Enviar um comentário