sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Um livro de vez em quando: Amor de Perdição


 No ano passado transcorreram 150 anos sobre a publicação da primeira edição do mais famoso romance da literatura portuguesa contemporânea, Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, o qual acabo de reler, com o maior dos gostos.
Inicialmente editada em 1862, a consagrada obra foi escrita na cadeia da Relação do Porto, no ano anterior, tal como aconteceu com O Romance de Um Homem Rico e algumas das histórias dos Casamentos Felizes, outros livros de grande alcance do nosso maior autor romântico.
O Amor de Perdição é o mais popular dos romances de Camilo Castelo Branco.
Foi escrito em quinze dias febris, quando o autor se encontrava preso, a cumprir pena pelo crime de adultério na pessoa de Ana Plácido. Como se sabe, Camilo Castelo Branco enamorou-se da mulher do brasileiro Manuel Pinheiro Alves, que naturalmente não aceitou a traição amorosa. Perseguiu Camilo e a esposa adúltera, obrigando o romancista a refugiar-se durante um ano (1860) por diversas localidades, entre as quais Guimarães, Fafe e Vila Real. No final daquele ano entregou-se à justiça e foi preso na Cadeia do Porto, onde se entregou à escrita da obra que o imortalizou.
Tinha na altura 37 anos e já escrevera e publicara catorze romances.
Obra emblemática do Romantismo português, Amor de Perdição conta-nos a história de Simão Botelho, de 17 anos e Teresa de Albuquerque, 15 anos, dois jovens que pertencem a famílias distintas desavindas de Viseu.
Os jovens acabam por se apaixonar e manter um namoro silencioso através das janelas próximas. Ambas as famílias, desconfiadas, fazem de tudo para combater a união amorosa. Tadeu de Albuquerque (o pai de Teresa), após recorrentes tentativas de casar sua filha com um primo acaba por interná-la num convento.
Após luta travada com os criados do primo de Teresa, Simão Botelho permanece na casa de um ferreiro devedor de favores ao seu pai. A filha do ferreiro, Mariana, acaba também por se apaixonar por Simão, constituindo um triângulo amoroso. Teresa e Simão mantêm contacto por cartas. Este, numa tentativa de resgatar Teresa do convento, acaba por balear o primo de Teresa, Baltasar, e é condenado à forca. Mais tarde, as influências de seu pai, antigo corregedor, irão mudar a pena para dez anos de degredo na Índia. Ao embarcar, vê Teresa, que morre tuberculosa. Nove dias depois, doente, Simão acaba por morrer também, e no momento em que vão lançar o corpo ao mar, Mariana, sua paixão silenciosa e platónica, lança-se ao mar.
É assim um romance que trata de amores contrariados e infelizes e que tem algo a ver com o próprio caso de Camilo e a paixão da sua vida, Ana Plácido.
Camilo transfere para Simão Botelho um pouco das suas vivências e paixões arrebatadas.
Todavia, no fundamental, Amor de Perdição é a crónica romanceada de um membro da família de Camilo: o seu tio Simão António Botelho, irmão de se pai, Manuel Botelho.
O Amor de Perdição é o livro mais traduzido do escritor, representa a sua fase de plena maturidade artística e foi por diversas vezes adaptado ao teatro e ao cinema. Lembremos os filmes de António Lopes Ribeiro, Manoel de Oliveira e, mais recentemente, de Mário Barroso, sobre este livro.
Uma obra intemporal, um clássico da literatura portuguesa!
 

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