1. Neste sábado, incontáveis
milhares de portugueses saíram à rua, um pouco por todo o país, Braga incluído,
para demonstrar a sua indignação, agastamento e revolta pelo rumo que a
governação está a tomar.
Gritaram-se palavras de ordem contra um
governo “que se ajoelha perante a tróica e inferniza a vida aos portugueses», como
foi sublinhado, chegando o líder da Intersindical, Arménio Carlos, a acusar o
executivo de estar a afundar o país e reafirmando o pedido para que “Passos
Coelho se vá embora”.
O dirigente máximo da CGTP classificou a
ofensiva governamental contra os portugueses de “ajuste de contas com Abril» e
acabou por pedir que o Governo tenha a coragem de cortar com a «despesa inútil
e parasitária», sugerindo um corte nos «8.000 mil milhões de juros pagos aos
usuários que fazem negócio com a dívida soberana», um corte «nos milhões
desperdiçados nas negociatas das Parcerias Público Privadas», um corte «nos
chorudos benefícios fiscais aos grandes grupos económicos» ou aos «gestores que
auferem salários multimilionários». Inteiramente de acordo. Haja moralidade!
2. Os portugueses têm
inteiro direito de estarem indignados, revoltados, desiludidos com o estado a
que as coisas chegaram. Estamos em presença de um governo que,
sistematicamente, erra previsões, falha objectivos, não atinge os mínimos
estabelecidos para as metas. Um governo que, estando a actuar ao contrário de
tudo o que prometeu, pondo em causa a sua legitimidade política, sem qualquer
dúvida, demonstra uma insensibilidade social atroz, chocante, tanto se lhe
dando que haja um milhar como um milhão de desempregados, o que não é bem a
mesma coisa.
As medidas que têm sido tomadas nos últimos
tempos para enfrentar a crise têm gerado monstros de imensas cabeças. A paixão
da austeridade tem somado mais desemprego, mais pobreza, mais dependência
externa.
Soube-se nos últimos dias que a taxa de desemprego em Portugal
deverá continuar a subir este ano, até atingir os 17%, número bem pior que o
governo temia. Porque o governo pensa estancar o desemprego e as falências com
o alentejano dinamismo de Gaspar, mas a doentia “receita” da tróica não pode
dar outro resultado. Por isso, há que mudar urgentemente de política, como bem
sublinhou este fim-de-semana António José Seguro, e que a sétima avaliação dos
sanguessugas da tróica seja feita a nível de “políticos” e não de “técnicos”,
cuja incompetência para conhecer, sentir e avaliar Portugal já está mais que
demonstrada!...
Trocado por miúdos: mais de 923 mil pessoas estão oficialmente sem trabalho em Portugal. O
que representa mais 20% relativamente ao ano anterior.
O caso dos jovens é o mais grave, com uma taxa de desemprego
nos redondos 40%, no último trimestre de 2012. Estamos a falar de 164,9 mil
pessoas entre os 15 e os 24 anos. Uma enormidade.
Outro dado relevante, prende-se com o número de
pessoas sem trabalho com habilitações superiores: quase 150 mil. Diria: uma
atrocidade, aqui ou em qualquer lugar do mundo!
3. Outro dado absolutamente aterrador:
a taxa
de risco de pobreza em Portugal atingiu os 18% em 2011, segundo revela o
relatório «O impacto da crise europeia», da Cáritas Europa, conhecido na
passada semana. Um número muito acima da média da União Europeia a 27. Significa
que o risco de pobreza no nosso país atinge mais de 1,9 milhões de pessoas, que
viram os seus rendimentos degradados nos últimos anos e não conseguem fazer
face às exigências da sua vida diária, nos seus diversos sectores.
Essa inacreditável e indigna taxa de pobreza
desdobra-se em números impressionantes: a pobreza infantil atinge os 29%, o que
só pode envergonhar quem tem e teve responsabilidades políticas neste país e
que não é nem foi capaz de estar à altura das suas exigências; a taxa de
pobreza entre os idosos regista os 20%. É o resultado visível e imediato das
férreas políticas de austeridade dos últimos anos e em especial no último ano e
meio, em que foram destruídos postos de trabalhos como não há memória.
Além da destruição de empregos e do
empobrecimento generalizado da população, os portugueses são os líderes
europeus no pagamento de impostos. Só no IRS pagamos 10% mais que a média
europeia. Nós que recebemos, genericamente, ao fim do mês, bem menos que a
média dos europeus!
4. No meio desta
pouca-vergonha, vem Pedro Passos Coelho, ao seu pior nível, como sempre,
insultar os cidadãos, numa estratégia de insensibilidade aterradora: «Os
portugueses podem estar confiantes de que o Governo não exigirá mais do que
aquilo que é necessário para que se cumpram os objectivos, sem que a corda que
está esticada possa vir a partir”.
O primeiro-ministro não disse, como seria
exigível a um estadista, que o governo não exigirá mais que os portugueses
podem legitimamente dar. Disse, como não devia, que o governo se está
marimbando para o que os portugueses podem pagar. O governo vai exigir-lhes o
coiro e o cabelo, o que podem ou não podem, reduzindo-os à miséria, se
necessário for, porque o que interessa é cumprir os objectivos estabelecidos
pela malfadada tróica. Mesmo que para os concretizar seja necessário reduzir os
portugueses a escravos ou a emigrantes. Esta gente que ocupa provisoriamente S.
Bento borrifa-se para que haja milhares de crianças que chegam à escola sem
tomar o pequeno-almoço, milhares de idosos sem condições para suportar o
“assalto à mão armada” que são as novas rendas ou que haja muitos milhares de portugueses
que se vejam obrigados a abandonar as suas casas, os seus sonhos de toda uma
vida, porque não conseguem pagar as suas contas ao fim do mês. São obrigados a
pagar as contas do Estado, que não contraíram, e para as quais tem de haver
responsáveis e não conseguem pagar os seus compromissos pessoais. Será legal e
constitucional essa situação? Só num país de papel, isso acontece!...
5. Enquanto a vizinha
Espanha, vai negociar com Bruxelas e com o Fundo Monetário Internacional um
abrandamento da austeridade, para que os cortes orçamentais não acelerem a retracção
da economia, o primeiro-ministro português recusa-se a falar em «espiral
recessiva» e o ministro das finanças até se mostra «optimista» e antecipa um
«ciclo virtuoso» para a economia portuguesa. Estão a gozar connosco, e nós a
vermos!...
São
os governantes a que temos direito!...
(Texto de opinião publicado no Correio do Minho de 18/02/2013)
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