1. Já se vinha adivinhando que os meros interesses da
aritmética partidária se haveriam de sobrepor ao cumprimento e ao espírito da
lei de limitação dos mandatos, com a qual todos concordam mas que os
estados-maiores dos partidos que não querem perder o poder se esforçam por
tripudiar, dando razão ao crescente repúdio popular pela classe política e suas
artimanhas. Luís Filipe Menezes já havia avançado para o Porto, saído de Vila
Nova de Gaia, onde terá deixado “crateras financeiras”, ao que se ouve e que deveria
ser fortemente penalizado, por isso, nunca premiado com acesso à segunda maior
cidade do país. Mas todos sabemos que a “moralidade” que Passos Coelho e Paulo
Portas pregam é para os outros aplicarem nos seus quintais, não para os seus
correligionários, impolutas pessoas de bem, rigorosos gestores dos dinheiros
públicos, como se verifica!...
Também
Moita Flores já se anunciara para a autarquia de Oeiras, para tentar substituir
o resistente Isaltino, que algum dia há-de apurar-se a razão pela qual conseguiu
escapar incólume à merecida prisão. É o sinal acabado da justiça que neste país
tem duas medidas: uma para os pobres e outra para os que têm posses para pagar
as manobras dilatórias… até à prescrição!
E
como não há duas sem três, na passada sexta-feira, o PSD e o CDS-PP
formalizaram o acordo de coligação para a candidatura do actual presidente da
Câmara de Sintra, Fernando Seara, à liderança do município de Lisboa, nas
eleições autárquicas de Outubro.
Para que tal fosse possível, o virtuoso CDS-PP, que até fizera finca-pé no cumprimento escrupuloso da lei e que diariamente apregoa moralismos de espécie vária, deu de barato os princípios e os valores políticos, porque, mais importante que teses beatas, é a conquista do poder no principal município do país. Chama-se a isso ‘real politik’.
Para que tal fosse possível, o virtuoso CDS-PP, que até fizera finca-pé no cumprimento escrupuloso da lei e que diariamente apregoa moralismos de espécie vária, deu de barato os princípios e os valores políticos, porque, mais importante que teses beatas, é a conquista do poder no principal município do país. Chama-se a isso ‘real politik’.
Lembremos
que a famigerada lei de 2005 estabelece “limites à renovação sucessiva de
mandatos dos presidentes dos órgãos executivos das autarquias locais”,
exactamente para promover a mudança de actores políticos no Poder Local. Aí se
estatui, sem margem para qualquer dúbia interpretação, que “o presidente da
câmara municipal e o presidente de junta de freguesia só podem ser eleitos para
três mandatos consecutivos” e que os autarcas, “depois de concluídos os
mandatos referidos, não podem assumir aquelas funções durante o quadriénio
imediatamente subsequente ao último mandato consecutivo permitido”.
Até
à semana passada, o partido de Paulo Portas entendia, e bem, que, após os três
mandatos definidos na lei, um presidente de câmara não deve poder candidatar-se
a um outro concelho. Ponto final. Ponto de honra. Pelos vistos, a gula do poder
vale mais que qualquer forma de ética na política. “Dadas as circunstâncias” e
porque o que importa é “conquistar Lisboa” ao socialista António Costa, o
CDS-PP mandou às malvas a sua justa interpretação e abraçou a supina vigarice
de que “a limitação de mandatos é apenas territorial e não de função”.
O
chico-espertismo impera, para “driblar” a lei e tentar manter ou aceder ao
exercício do poder. Com gente desta, sem qualquer vergonha e sem o mínimo de
escrúpulos, a mandar neste país, não custa a entender o crescente alheamento
dos cidadãos da “coisa pública” e a repugnância que os nossos melhores
manifestam em se acercar sequer do universo putrefacto em que se tece a vida
política. Esperamos, como última tábua de salvação do regime, que o poder
judicial coloque o chico-espertismo político onde ele deve ser arquivado: no
caixote!
2. Por falar em desvergonha, não podemos eximir-nos a deplorar as declarações do banqueiro Fernando Ulrich, na semana passada. Depois de, em Outubro, ter ofendido os portugueses ao sustentar “Se o país aguenta mais austeridade? Ai aguenta, aguenta!”, desceu ao fundo de qualquer consideração, ao lesar a já péssima auto-estima dos portugueses, num momento particularmente crítico da sua existência: “Se os sem-abrigo aguentam, porque é que nós não aguentamos?”.
Mas onde é que o homem pensa que está? Quem é o imbecil, que é disso que se trata, para assim vilipendiar os seus concidadãos?
Ainda por cima, os lucros que o seu banco apresenta são extraídos dos juros da dívida portuguesa. Ou seja, o sem-abrigo mental está a ganhar dinheiro e a gozar com a cara de todos nós, à nossa custa!...
No
meio de todo este lamaçal, como é admissível que um primeiro-ministro em
exercício não tenha pejo de não se demarcar de declarações tão insultuosas e
ultrajantes, escudando-se no subterfúgio de que não tem contas no
BPI!...Mostrou ser da mesma laia!...
Eu também não tenho, mas se tivesse, nem mais um minuto a tinha. Gente desta, não merece a mínima consideração. E não contribui, nem por um momento, para o desígnio da consolidação mental e cultural dos portugueses. A economia não é tudo. Agredir os cidadãos, não é o melhor caminho!...
Eu também não tenho, mas se tivesse, nem mais um minuto a tinha. Gente desta, não merece a mínima consideração. E não contribui, nem por um momento, para o desígnio da consolidação mental e cultural dos portugueses. A economia não é tudo. Agredir os cidadãos, não é o melhor caminho!...
3. Desvergonha é também este governo nomear secretário
de Estado um homem como Franquelim Alves, não recomendado por mor da sua
passagem pelo grupo SLN/BPN. Do ponto de vista ético e político. Não que
constitua uma ilegalidade, criminal, uma vez que não é arguido, nem foi
condenado. Mas está ligado directamente a uma fraude que revolta os portugueses
até às fímbrias da alma e lhes pode custar 7 mil milhões de euros. Não é
brincadeira!
Se houvesse um mínimo de pudor neste país, se houvesse respeito pelos contribuintes, se houvesse um pouco de ética na política, um homem como aquele nunca seria indigitado nem empossado para este cargo, por “perfeitamente tranquilo” que se mostre. A política não se faz apenas de estritas legalidades; faz-se de gestos, de sinais, de mínimos dessa arqueológica raridade que dá pelo nome de moralidade, enfim!
Se houvesse um mínimo de pudor neste país, se houvesse respeito pelos contribuintes, se houvesse um pouco de ética na política, um homem como aquele nunca seria indigitado nem empossado para este cargo, por “perfeitamente tranquilo” que se mostre. A política não se faz apenas de estritas legalidades; faz-se de gestos, de sinais, de mínimos dessa arqueológica raridade que dá pelo nome de moralidade, enfim!
Mas
a desvergonha instituiu-se em lei, neste país, está mais que visto!...
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