É claro que Portugal é um país pequeno, em dimensão territorial e em população. Por isso, há mais adeptos do centralismo administrativo do que o regulamento permite. Os referendos até agora realizados sobre os projectos de regionalização foram votados ao fracasso, muito por culpa de imensa desinformação reinante em períodos eleitorais e do peso opinativo dos interesses instalados em redor do Terreiro do Paço, de que o país não consegue libertar-se. No fundo, a nossa alma colectiva vem moldada no sentido unificador e centralizador desde os códigos napoleónicos do século XIX. Há quase dois séculos… Na mesma direcção apontou o projecto estadonovista de um Portugal “do Minho a Timor”. Todos achamos muito bem que Lisboa decida; que Lisboa comande; que em Lisboa se concentre todo o poder, do governo, dos ministérios, da política, da cultura, da finança, da banca, da comunicação social, em especial da televisão, que apenas noticia o que se passa na capital e ao que à capital interessa. Portugal é hoje um país anestesiado pelo que Lisboa quer, laboriosamente narcotizado pelo que na capital se vai tecendo e construindo para que os portugueses aceitem passivamente que… o resto é paisagem, onde nada acontece, onde nada se decide, onde nada conta. Aliás, os políticos eleitos pela província e que sempre se manifestaram adeptos da descentralização e da regionalização, quando chegam a S. Bento, como por encanto, recebem a devida “lavagem ao cérebro” e tornam-se os mais ferozes guardiões de que nada mude no sistema administrativo.
Se assim não fora, os portugueses de bem do norte, do centro e do Alentejo teriam protestado energicamente, a exemplo do que se passa hoje em dia nos países árabes, contra o escândalo dos desvios de milhões de euros vindos da União Europeia para desenvolver as regiões desfavorecidas e que Lisboa, que deles não pode usufruir, num lance de esperteza saloia, como só ela sabe, abocanha ardilosamente. A imprensa desta semana, dá conta de que, no segundo semestre de 2010, mais 19 milhões de euros de fundos comunitários destinados às regiões do norte, centro e Alentejo, que têm um índice de desenvolvimento inferior a 75% da média europeia, e por isso justificam a atribuição de ajudas suplementares, foram investidos em Lisboa. No total, a capital desviou, nos últimos anos, para seu proveito, 173 milhões de euros das regiões mais pobres. O espanto, para quem ainda consegue ter essa capacidade, é que aquele montante vultuoso é contabilizado pela Europa como se fora aplicado no desenvolvimento de Trás-os-Montes, das Beiras ou da planície alentejana. Uma pura aldrabice contabilística, avalizada pelo bloco central de interesses, para quem o país profundo importa como pagador de impostos, cada vez mais elevados e como exército eleitoral, cada vez menos empenhado. Para o resto, vale o que vale um sapo debaixo da pata de um elefante…
Para um povo medianamente inteligente, este era, desde logo, um argumento de peso a favor da regionalização equilibrada do país. Para o povo português, é apenas mais uma fraude, a somar a tantas outras que nem vale a pena contabilizar!...
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