Tive o privilégio de assistir na noite da passada quarta-feira, 23 de Fevereiro, no magnífico Theatro Circo, em Braga, a um espectáculo de excelência, de tributo a José Afonso. Zeca Afonso faleceu há 24 anos, vítima de doença e da imbecilidade de um Portugal retrógrado, que ainda hoje curiosamente campeia por aí, no dia a dia e na blogosfera, sob a capa preferencial do anonimato.
O espectáculo, que durou mais de duas horas e meia consecutivas, com uma sala completamente lotada, teve a participação dos grupos “Canto Daqui” e “Sopros do Zeca”, do Coro da Associação de Pais do Conservatório Calouste Gulbenkian, de diversos solistas, músicos e intérpretes convidados para o efeito, os quais, em diferentes registos, relembraram as músicas e os poemas do imortal autor de “Vampiros”, “Menino do Bairro Negro”, “Traz outro amigo também”, “O que faz falta”, “verdes são os campos”, “Grândola Vila Morena”, “Vejam bem”, Balada de Outono”, “Canto Moço”, “Venham mais cinco” e tantas outras composições que fazem parte do imaginário colectivo dos portugueses que ainda têm memória, que é coisa que começa a escassear, para infelicidade de todos.
As centenas de espectadores presentes cantaram, bateram palmas, aplaudiram, ouviram a alma e a poesia de um cantautor imorredouro, que denunciou o Portugal das injustiças, do colonialismo, da opressão e da repressão de antes do 25 de Abril, mas também o da hipocrisia, do cinismo, da arrogância, da falta de valores, do novo riquismo material e cultural dos anos 70 e 80, cujos “princípios” perduraram até aos nossos dias. José Afonso é um valor incontornável da cultura portuguesa contemporânea.
Um espectáculo de alto gabarito cultural, dirigido pelo jovem maestro e talentoso músico Filipe Cunha, que os fafenses já viram (?) no Teatro-Cinema de Fafe, há cerca de um ano, num espectáculo de baixo custo em que ninguém se queixou de não haver bilhetes para os amigos ou os correligionários. Bilhetes não faltaram para quem os quis adquirir (e não foram muitos os que quiseram…), e a qualidade do espectáculo também não, como pode testemunhar quem a ele teve a prerrogativa de assistir.
Mas, como diria o poeta, em Fafe é assim: só se fala (quem sabe e quem nada sabe) do Tim!
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