segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Banda UHF veio a Fafe gravar CD em dois fantásticos espectáculos


O Teatro-Cinema de Fafe foi palco este fim-de-semana de dois grandiosos espectáculos da banda UHF, que aproveitou para gravar 32 músicas para a edição, em Março de 2012, de um álbum em CD. O disco será oportunamente apresentado ao país no local da gravação, a mítica sala de espectáculos fafense.
Fafe orgulha-se de ter sido escolhida para a gravação do primeiro registo ao vivo totalmente acústico da famosa banda de Almada, que quis assim homenagear o público do Minho e do Norte, onde realiza a maioria dos seus espectáculos.
O Teatro-Cinema de Fafe foi o local escolhido para o efeito, dadas as excelentes condições acústicas que disponibiliza, a beleza arquitectónica e artística da sala e o acolhimento da cidade, aquando do concerto realizado aqui pelo grupo o ano passado.
Da mesma forma, a banda aproveitou para comemorar em Fafe os 33 anos da sua formação, que remonta a 1978.
Ao longo de duas horas, em cada um dos espectáculos, foram passadas em revista as canções mais emblemáticas dos UHF, em formato acústico e em alguns casos com versões distintas das originais a que estamos habituados, desde os mais antigos “Jorge Morreu” (o primeiro tema gravado pela banda, em 1979), “Cavalos de Corrida”, “Rua do Carmo”, “Rapaz Caleidoscópio”, até aos mais recentes “Na Tua Cama”, “Uma Palavra Tua”, “A Lágrima Caiu”, “Matas-me com o Teu Olhar” ou “Viver para Te Ver”. A banda interpretou ainda, magistralmente, versões de temas como “Menina Estás à Janela” ou “Vejam Bem”, esta de um dos grandes ícones da música portuguesa, Zeca Afonso, muito apreciado pelo líder do grupo, António Manuel Ribeiro.
Lugar especial tiveram duas canções que estão a transformar-se em hinos de alguma “evangelização” dos UHF, neste momento de grave crise, em favor de uma atitude positiva face ao presente e ao futuro. A primeira, tem o título “Por Portugal Eu Dou” e propõe: “Por Portugal eu dou/ O melhor que há em mim/ Juntos somos um povo/ A força de um país”.
Para António Manuel Ribeiro, é urgente uma atitude positiva, que valorize o talento de que somos capazes, que ultrapasse o natural derrotismo: “quando queremos, somos capazes de empunhar uma espada virtual”. Ou seja, todos os dias somos grandes, quase sem disso termos consciência. “Seremos uma Nação, quando 10 milhões o quiserem”, proclama o líder dos UHF, que com aquela música distribuída gratuitamente aos espectadores dá a contribuição ao seu país para ultrapassar o pessimismo e a frustração.
Os espectáculos terminaram exactamente com outro tema recorrente desta fase dos UHF, “Portugal (somos nós)”, com o apelo colectivo a não ir abaixo, “É só um mau bocado/ Que vai passar”.
Sempre a mesma força, a coragem, a atitude construtiva face a uma situação que conduz naturalmente os portugueses à desmotivação e à descrença, que importa combater, neste caso pela música.
Estes dois espectáculos, para lá da divulgação que fizeram e vão fazer de Fafe, também trouxeram mais valias à economia local, porquanto não apenas a equipa técnica e artística aqui estiveram dois dias como um conjunto de fãs da banda, vindos dos mais diversos pontos do país, aqui comeram e dormiram.











Tertúlia com António Manuel Ribeiro

Na noite de sexta-feira, o líder da banda, António Manuel Ribeiro, protagonizou na Biblioteca Municipal de Fafe, e durante mais de uma hora, uma interessante tertúlia, em que falou da carreira dos UHF mas também da sua própria perspectiva sobre o rumo do país, da música, da poesia.
Falou das suas influências iniciais, da descoberta dos Doors, dos Rolling Stones, na sua juventude, mas também dos calafrios que lhe causaram Os Vampiros, de Zeca Afonso ou Os Sobreviventes, de Sérgio Godinho.
Falou da riqueza da cultura portuguesa, de Camões a Fernando Pessoa, a Saramago, a Lobo Antunes, a Sofia, a Siza Vieira, a António Damásio.
Abordou a sua excessiva doação à profissão, demasiado absorvente, em detrimento da vida pessoal, o que espera reverter nos próximos tempos (o que é difícil acreditar, convenhamos).
António Manuel Ribeiro falou ainda dos 33 músicos que já trabalharam nos UHF e que foram saindo pelas mais variadas razões, uns com os quais se zangou, outros que não aguentaram a pressão dos espectáculos.
Considera o seu último CD, “Porquê?”, um disco de intervenção. Porque levanta questões, reflecte o momento do país, aponta atitudes positivas para ultrapassar a crise.
Uma noite bem passada, perante uma pessoa inteligente, pensadora, com quem se aprende a estar e a ser.
Foi um privilégio ter estado ao lado de um homem com H grande, como António Manuel Ribeiro!






 Fotos: Manuel Meira Correia!

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