Este sábado, 26 de Novembro, a partir das 15h00, tem lugar na Biblioteca Municipal de Fafe a apresentação da obra Cruz de Chumbo e outros poemas, de Augusto Fera (edição da Junta de Freguesia de Fafe, com organização, prefácio e notas de Artur Coimbra). São 50 anos de poemas num livro só.
Ninguém acredita mas é já o vigésimo livro apresentado este ano em Fafe, 19 dos quais de autores naturais ou residentes neste município, ou sobre temas locais. É um dinamismo editorial que está ao nível de cidades de muito maior dimensão e dá a medida da actividade cultural e literária do nosso meio!... Será que alguém deu por isso?
Cruz de Chumbo e outros poemas concretiza um sonho de décadas de Augusto Fera, um poeta invisual que “vê” a poesia como ninguém, no seu talento, na sua criatividade, na sua indesmentível verve literária.
Este é um livro que há décadas existe em potência e que foi sucessivamente anunciado pelo autor aquando da publicação de poemas na imprensa local, na qual se fartou de colaborar.
Augusto Fera é o pseudónimo literário de Augusto Ferreira, nascido no lugar de Souto, freguesia de Armil, deste concelho, em 29 de Dezembro de 1939.
O seu primeiro trabalho publicado num jornal tem a data de 16/09/1961 (já lá vão 50 anos) e foi editado no semanário Povo de Fafe. Era assinado pelo nome de baptismo de Augusto Ferreira e, entre parêntesis, figurava o ápodo de “cego armilense”.
Nos primeiros anos, usava os nomes de “Augusto Ferreira”, seu nome de baptismo e de “Augusto Armil”, numa clara alusão à freguesia de nascimento.
A primeira vez que aparece o nome de guerra de Augusto Fera, que o haveria de consagrar para o futuro, foi no Povo de Fafe de 1 de Janeiro de 1972.
Fera impõe-se pelo cultivo da quadra popular (e publicitária) e do soneto, tendo concorrido a dezenas de certames literários, concursos e jogos florais, nos quais averbou inúmeros prémios.
A obra que agora surge a público, coligindo a sua produção poética, estrutura-se em cinco módulos, identificados pelos títulos “Cruz de Chumbo”, “Poemas Soltos”, “Remígios”, “Versos Diversos” e “Versos Premiados”, num total de mais de uma centena de poemas dos mais diversos estilos e dimensões.
Um livro que não é uma surpresa, para quem foi conhecendo o trabalho poético do autor disperso pelos jornais locais, mas que impõe Augusto Fera como um poeta de elevado gabarito literário, com uma linguagem acima da média e uma estilística como só os melhores vates conseguem.
O livro (174 páginas) inclui ainda belíssimas ilustrações a cores dos pintores fafenses J. J. Silva e Filipe Sampaio. Em anexo, inclui um CD com os poemas ditos pelo organizador da obra, especialmente dirigido aos invisuais.
Aqui fica um dos poemas mais emblemáticos e mais belos de Augusto Fera, com o título
Inconformismo
Que hora herdou a coroa de oiro fino
Da dinastia de horas enlutadas?
A quem deu o retrós das madrugadas
As contas do colar diamantino?
Onde soltam as mãos do sol bambino
As borboletas de asas pintalgadas?
Que tálamo de musas ou de fadas
Debruará o arco-íris peregrino?
Que é da nau deste chilre que me chega?
Que é das rendas das filhas de Nereu?
Onde coram as faces matinais?
Se foi para brincar à cabra-cega
Que Tu, meu Deus, vendaste os olhos meus,
Desvenda-os, que eu não quero brincar mais.
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