1. Sem que se veja o mínimo sentido de
oportunidade para o debate do tema, o qual não pode nem deve ser feito em cima
do joelho, não nos largam um minuto sem que coloquem em cima da mesa a malfada “refundação”:
um estúpido conceito que não diz nada do que pretende, sendo que o que visa é
saquear mais 4 mil milhões de euros aos bolsos cada vez mais depauperados dos
portugueses. Quando nos acenam com a redefinição das funções do Estado, também
gostaria de dar a minha pequena contribuição para o que não passa de um mero
expediente para reduzir custos, se possível radicalmente, num momento
particularmente difícil da nossa vida colectiva. Ninguém cura de saber se
estamos a tentar servir melhor e mais condignamente os cidadãos. Não estamos,
manifestamente.
2. Desde logo, importa definir que país
é este, que governo é este, que situação é esta em que nos encontramos.
Interessa,
mas interessa mesmo, saber se quem nos governa é Passos Coelho e Vitor Gaspar,
ou se somos efectivamente um protectorado da troika. Porque se são os primeiros que decidem, acabem lá com a
ladainha permanente de que “temos de cumprir”, de que o “ajustamento” para aqui
e a “consolidação” para acolá. Foram eleitos, são responsáveis, têm de ser
responsabilizados pelos seus erros (e são muitos), as suas incompetências (oh,
meu Deus, quantas!...), as suas inúmeras carências.
Se
é a troika que, verdadeiramente,
governa, o caso muda de figura. Então que mande para cá um contabilista e
dispensamos o pessoal político. Nessa situação, o governo não tem qualquer
sentido, os deputados são apenas uma absurda encenação, o Presidente da
República é o supremo magistrado de uma nação que não é independente, logo, não
existe. Imaginemos o quanto se pouparia com a dispensa de toda esta gente, mais
os seus séquitos, as suas mordomias e prebendas. Os cidadãos agradeceriam, até
porque os tributos que têm de suportar pelos erros alheios baixariam
consideravelmente.
Julgo
que há que definir, muito concretamente, quem manda. A sobredita “refundação”
tem de começar por aí: ou temos soberania, e o governo faz sentido; ou não
temos, e podemos receber ordens directamente do directório em Bruxelas ou em
Berlim.
3. Outra hipótese é suspendermos a
democracia. Já alguém ventilou essa possibilidade e na altura foi muito atacada.
É que a democracia tem imensos custos de toda a espécie, sobretudo financeiros.
Uma ditadura sempre fica mais barata: os dirigentes eternizam-se no poder e a
coisa vai rolando, pacificamente, como num cemitério. E não havendo democracia,
não teria de haver essa chatice das eleições periódicas, para o parlamento e
para as autarquias locais e não se gastava uma pipa de massa na campanha
eleitoral, nos tempos de antena, no pagamento aos membros das mesas, que são
aos milhares pelo país além, etc. Era uma enorme poupança, sem dúvida. Uma
alegria para os portugueses, sobretudo para aqueles que nem se dignam ir às
urnas.
4. E já nem falamos de outras
radicalidades, que têm em vista baixar drasticamente o défice. Poder-se-ia
começar por empurrar os jovens e os adultos para o estrangeiro. Tornava-se a
emigração obrigatória, entre os 20 e os 60 anos. Pelo menos eram milhões de
portugueses que não dependiam do erário público. Quanto aos seniores, que é uma
palavra mais fixe, ia-se-lhes cortando a reforma (como já se está a fazer),
cada vez mais, até que não tivessem dinheiro para comer, nem para irem à
farmácia. E como os mais novos não estavam cá a produzir, não havia recursos,
logo, a solução não parecia assim tão draconiana. Sem velhos e sem adultos,
restavam as criancinhas, e elas é que são o futuro. Por conseguinte, passávamos
directamente do presente para o futuro, sem grandes convulsões.
Quantos
milhões se não poupariam com esta “solução final”!...
5. Há sempre ainda outras ideias, mas
estas não parecem agradar muitos ao pessoal que nos governa ou que senta o
republicano traseiro nas almofadas do Parlamento. Por exemplo, despedir os
gabinetes onde se hospedam boys e girls, ditos “especialistas”, não se
sabe bem do quê, cuja competência se mede pelo cartão de militante. Da cor dos
actuais inquilinos, mas também dos outros. Se é para cortar, reduzir, poupar –
deve tocar a todos. Não como a pouca vergonha que se tem verificado, com essa
gente a receber subsídios e ordenados como se estivéssemos na América. Reduzir
significativamente o número de deputados, sujeitando-os à limitação de mandatos
e subordinando-os aos esquemas de saúde e de segurança social, exactamente como
todos os outros portugueses, seria outra medida que pouparia imensa nota.aos
cofres do Estado.
6. O que acima fica sugerido, são apenas
propostas que são seguramente demagógicas, irrealistas, absurdas, sem pés nem
cabeça. Mas não é de demagogia que estamos diariamente mergulhados, até à ponta
dos cabelos? E a demagogia feita à maneira não é como queijo numa ratoeira –
como cantava a Lena D’Água?!
São
os meus contributos para “refundar” ou para “afundar” este Estado de coisas!...
(Povo de Fafe, 30/11/2012)
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