sábado, 1 de dezembro de 2012

Subsídios para a "refundação"! Ou "afundação"?

1. Sem que se veja o mínimo sentido de oportunidade para o debate do tema, o qual não pode nem deve ser feito em cima do joelho, não nos largam um minuto sem que coloquem em cima da mesa a malfada “refundação”: um estúpido conceito que não diz nada do que pretende, sendo que o que visa é saquear mais 4 mil milhões de euros aos bolsos cada vez mais depauperados dos portugueses. Quando nos acenam com a redefinição das funções do Estado, também gostaria de dar a minha pequena contribuição para o que não passa de um mero expediente para reduzir custos, se possível radicalmente, num momento particularmente difícil da nossa vida colectiva. Ninguém cura de saber se estamos a tentar servir melhor e mais condignamente os cidadãos. Não estamos, manifestamente.
2. Desde logo, importa definir que país é este, que governo é este, que situação é esta em que nos encontramos.
Interessa, mas interessa mesmo, saber se quem nos governa é Passos Coelho e Vitor Gaspar, ou se somos efectivamente um protectorado da troika. Porque se são os primeiros que decidem, acabem lá com a ladainha permanente de que “temos de cumprir”, de que o “ajustamento” para aqui e a “consolidação” para acolá. Foram eleitos, são responsáveis, têm de ser responsabilizados pelos seus erros (e são muitos), as suas incompetências (oh, meu Deus, quantas!...), as suas inúmeras carências.
Se é a troika que, verdadeiramente, governa, o caso muda de figura. Então que mande para cá um contabilista e dispensamos o pessoal político. Nessa situação, o governo não tem qualquer sentido, os deputados são apenas uma absurda encenação, o Presidente da República é o supremo magistrado de uma nação que não é independente, logo, não existe. Imaginemos o quanto se pouparia com a dispensa de toda esta gente, mais os seus séquitos, as suas mordomias e prebendas. Os cidadãos agradeceriam, até porque os tributos que têm de suportar pelos erros alheios baixariam consideravelmente.
Julgo que há que definir, muito concretamente, quem manda. A sobredita “refundação” tem de começar por aí: ou temos soberania, e o governo faz sentido; ou não temos, e podemos receber ordens directamente do directório em Bruxelas ou em Berlim.
3. Outra hipótese é suspendermos a democracia. Já alguém ventilou essa possibilidade e na altura foi muito atacada. É que a democracia tem imensos custos de toda a espécie, sobretudo financeiros. Uma ditadura sempre fica mais barata: os dirigentes eternizam-se no poder e a coisa vai rolando, pacificamente, como num cemitério. E não havendo democracia, não teria de haver essa chatice das eleições periódicas, para o parlamento e para as autarquias locais e não se gastava uma pipa de massa na campanha eleitoral, nos tempos de antena, no pagamento aos membros das mesas, que são aos milhares pelo país além, etc. Era uma enorme poupança, sem dúvida. Uma alegria para os portugueses, sobretudo para aqueles que nem se dignam ir às urnas.
4. E já nem falamos de outras radicalidades, que têm em vista baixar drasticamente o défice. Poder-se-ia começar por empurrar os jovens e os adultos para o estrangeiro. Tornava-se a emigração obrigatória, entre os 20 e os 60 anos. Pelo menos eram milhões de portugueses que não dependiam do erário público. Quanto aos seniores, que é uma palavra mais fixe, ia-se-lhes cortando a reforma (como já se está a fazer), cada vez mais, até que não tivessem dinheiro para comer, nem para irem à farmácia. E como os mais novos não estavam cá a produzir, não havia recursos, logo, a solução não parecia assim tão draconiana. Sem velhos e sem adultos, restavam as criancinhas, e elas é que são o futuro. Por conseguinte, passávamos directamente do presente para o futuro, sem grandes convulsões.
Quantos milhões se não poupariam com esta “solução final”!...
5. Há sempre ainda outras ideias, mas estas não parecem agradar muitos ao pessoal que nos governa ou que senta o republicano traseiro nas almofadas do Parlamento. Por exemplo, despedir os gabinetes onde se hospedam boys e girls, ditos “especialistas”, não se sabe bem do quê, cuja competência se mede pelo cartão de militante. Da cor dos actuais inquilinos, mas também dos outros. Se é para cortar, reduzir, poupar – deve tocar a todos. Não como a pouca vergonha que se tem verificado, com essa gente a receber subsídios e ordenados como se estivéssemos na América. Reduzir significativamente o número de deputados, sujeitando-os à limitação de mandatos e subordinando-os aos esquemas de saúde e de segurança social, exactamente como todos os outros portugueses, seria outra medida que pouparia imensa nota.aos cofres do Estado.
6. O que acima fica sugerido, são apenas propostas que são seguramente demagógicas, irrealistas, absurdas, sem pés nem cabeça. Mas não é de demagogia que estamos diariamente mergulhados, até à ponta dos cabelos? E a demagogia feita à maneira não é como queijo numa ratoeira – como cantava a Lena D’Água?!
São os meus contributos para “refundar” ou para “afundar” este Estado de coisas!...
 
(Povo de Fafe, 30/11/2012)

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