O semanário Notícias de Guimarães desta sexta-feira titula, na primeira página, “Centro Hospitalar do Alto Ave – Hospital Senhora de Oliveira e S. José (Fafe) à beira do coma profundo”. A uma primeira leitura, o assunto é de molde a preocupar qualquer cidadão que habite na região servida por aquela unidade hospitalar.
Numa das páginas interiores, são relatadas as preocupações (sob anonimato, obviamente, porque ninguém quer dar a cara nesta democracia incompleta…) de profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar e administrativo) do Centro Hospitalar, que descrevem a situação como estando “à beira do coma profundo”.
Denunciam que “começa a faltar tudo”, fraldas, esponjas para limpar os doentes, agulhas, compressas, paracetamol, até o oxigénio começa a faltar.
E a propósito, é referido que “no hospital de Fafe já foram adiadas cirurgias por não haver oxigénio”.
Como é costume em situações que tais, a administração chuta para canto e garante que está tudo bem, como se os profissionais de saúde tivessem como desporto favorito vir para os jornais nomear situações inexistentes. É dos catecismos...
Por seu turno, o nosso Correio de Fafe noticia, no mesmo dia, que o “Hospital de Fafe só realiza operações que não carecem de internamento”. Os casos mais complicados passaram para Guimarães.
Como rebuçado, para acrescentar à recém-criada Unidade de Cirurgia Ambulatória, prometem para Novembro a consulta externa em três novas especialidades: Imunoalergologia, Urologia e Ginecologia. Meros paliativos que se ganham, obviamente, que não fazem esquecer o muito que se tem perdido.
O Hospital de Fafe, que historicamente foi um marco referencial na área da saúde para o nosso município e para a região de Basto, um orgulho para os fafenses, um hospital de dimensão e bem apetrechado, foi perdendo valências, serviços e competências, além de pessoal, sendo sucessivamente desertificado e é hoje em dia pouco mais que uma extensão do centro de saúde. Não fora a existência de internamento em medicina, que ainda persiste, embora com vida incerta, ao que se presume, e os meios auxiliares de diagnóstico, o Hospital de Fafe pouco passava de um mero centro de saúde. Perdeu diversos serviços ao longo dos últimos anos e muito recentemente foi desertificado das unidades de cirurgia e ortopedia. É pouco menos que um fantasma erguido num casarão que já foi grande. Até a autonomia de um mero número de telefone o nosso (dito) Hospital perdeu: hoje, ainda que se esteja no centro da cidade de Fafe, a 200 metros do Hospital, quem quiser contactar com o mesmo tem de ligar a Guimarães, que transfere a chamada para Fafe.
Uma tristeza, sem dúvida, quando deveria ser reforçado para melhor servir a população fafense e a de Basto! Um país descentralizado assim aconselharia... Mas a política actual é absolutamente centralista, como se sabe, embora não se assuma e ainda que acene a regionalização lá para as calendas gregas...
Como fafense, e vistas as notícias deste fim-de-semana, que não constituem qualquer novidade, de resto, só posso estar profundamente inquieto e inseguro quanto à instituição de saúde que me pode valer em caso de doença. Uma diarreia, curo-a alegremente no centro de saúde, durante o dia; uma dor de barriga, trato-a em duas penadas no Hospital, durante a noite.
Para um caso mais complicado, e que espero nunca me acometa, já sei que tenho guia de marcha para o pomposamente designado (mais pompa que serviço…) Centro Hospitalar do Alto Ave, onde me arrisco a esperar uma dezena de horas, no mínimo, pelo atendimento. As urgências estão congestionadas, porque aí acorrem centenas de milhares de pessoas de toda a região. Ao contrário do que prometeram os políticos centrais quando esvaziaram o Hospital de Fafe, o de Guimarães não sofreu aumento de instalações nem de recursos materiais e humanos, pelo menos dos que trabalham com os doentes, ao que se ouve.
O que parece é que o esvaziamento e desertificação dos hospitais públicos pretende "empurrar" os utentes para os hospitais privados e para os seguros de saúde. Porque importa poupar na factura da saúde, para mais num tempo de crise que os doentes e acidentados não provocaram.
Chama-se a esta mascarada "garantia e reforço do Estado Social"!...