sexta-feira, 22 de outubro de 2010

RUAS DA REPÚBLICA, EM FAFE (I) - MAJOR MIGUEL FERREIRA


Ruas da República, em Fafe. Passados 100 anos. Ruas sobre a República. Ruas em homenagem a republicanos ilustres neste concelho e nesta cidade. Para conhecimento dos leitores e reforço da identidade fafense. Porque a história é isso mesmo: o espelho da nossa alma.
Começamos com uma das figuras mais distintas da mundividência republicana e democrática, perenizada justamente numa das artérias urbanas.
Oficial do Exército e político antifascista, Miguel Augusto Alves Ferreira nasceu na freguesia de Tecla (Celorico de Basto), em 06 de Abril de 1878, no seio de uma ilustre família de Basto, vindo mais tarde para Fafe, para a “Quinta do Ribeiro”, em Antime, onde viria a constituir família, a viver a vida em prol da Liberdade e da Democracia e a falecer, em 04 de Abril de 1961.
Frequentou a Academia Politécnica do Porto, a Universidade de Coimbra e a Escola do Exército, onde concluiu o curso da arma de Infantaria, ingressando como alferes no exército, em 1902. Passou depois à reserva, para mais livremente poder expandir as suas ideias republicanas. No entanto, sempre que entendeu ser essa a melhor forma de servir o seu país e os seus ideais, voltaria à vida militar activa, quer combatendo na Flandres, em plena I Grande Guerra Mundial, quer comandando unidades militares. No exército, chegou ao posto de Major, em 1917.
Miguel Ferreira tomou parte activa em todos os movimentos revolucionários tentados no Porto para derrubar a monarquia. Como activista, integrou a Carbonária e participou na fabricação de um considerável número de bombas destinadas a fins revolucionários. Tudo fez para que a República fosse implantada no nosso país, ajudando a reforçar o Partido Republicano, de que foi líder em Fafe.
Rejubilou assim, naturalmente, com o 05 de Outubro de 1910, tendo sido nomeado de imediato membro da Comissão Municipal Republicana, presidida pelo Dr. Gervásio Domingues de Andrade e que integrava ainda o Dr. José Summavielle Soares, José Gabriel Magalhães e Menezes, José Augusto Ferraz Costa, Vicente d’Oliveira e Castro e Bernardino Monteiro. O vereador Miguel Ferreira tinha a seu cargo o sector das águas, cemitério e jardim.
Foi depois eleito deputado às primeiras Constituintes de 1911, pelo Círculo de Guimarães e em nome do Partido Republicano Português, na altura, chamado Partido Democrático. O primeiro mandato decorreu entre 1911 e 1915. Voltaria à Câmara dos Deputados na legislatura de 1919-1921.
Mais tarde, e já no findar do regime republicano, exerceu as funções de Governador Civil de Braga, entre 18 de Setembro de 1925 e 08 de Fevereiro de 1926.
Após o 28 de Maio daquele fatídico ano, o Major Miguel Ferreira remeteu-se naturalmente à oposição ao regime e participou, logo em 03 de Fevereiro de 1927, na mais importante revolta organizada contra a nova situação. Foi no Porto, sob o comando do General Sousa Dias. Na altura, Miguel Ferreira era comandante do Regimento de Infantaria 20, em Guimarães. Aderindo à revolta, foi de imediato demitido do cargo e obrigado a exilar-se. Entrou na resistência activa ao Estado Novo, participando em todas as lutas contra a ditadura. Participou no MUD, em 1945, na campanha de Norton de Matos, em 1949 e na de Humberto Delgado, na década seguinte. Em 1959, já com 80 anos de idade, ousou afrontar directamente Salazar, ao ser o primeiro subscritor de um manifesto intitulado “Aos Portugueses” e que terminava, apelando ao ditador para que abandonasse “voluntariamente o poder”. Com esse acto de indiscutível bravura politica, Miguel Ferreira ficou na história da resistência em Portugal.
Já não viu nascer o sol do dia 04 de Abril de 1961, tendo sido sepultado no cemitério de Antime, sob a atenta vigilância da PIDE.
Por proposta do então presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Fafe, Dr. Parcídio Summavielle e deliberação desta de 03 de Junho de 1974, o nome do Major Miguel Ferreira passou a figurar na toponímia local, em substituição da então denominada “Rua Henrique Cabral”, que havia sido baptizada como “Rua Cândido dos Reis”, logo a seguir ao 5 de Outubro de 1910, em homenagem a um dos activistas maiores do republicanismo, que se suicidou em 4 de Outubro, julgando fracassada a revolução.

Bibliografia: Artur Ferreira Coimbra, Major Miguel Ferreira, uma Lição de Liberdade, Fafe, ed. Câmara Municipal, 1995.

2 comentários:

Luísa disse...

Hoje, dei comigo a tertuliar sobre a Sala de Visitas do Minho e das lições que cá venho aprender.
Muito obrigada pela sábia partilha do seu conhecimento!
Beijinho terno

ARTUR COIMBRA disse...

É muita gentileza da sua parte, fruto da sincera amizade que nos devota. Vamos partilhando o que se pode e fico muito feliz que alguém aproveite as informações que aqui vamos deixando.
Pensando bem, vou reestruturar este tema muito em breve, dando-lhe uma outra sequência, que antes não tinha imaginado e eventualmente com maior informação.
Desse modo, este post poderá vir a ser retirado temporariamente, para dar lugar a uma outra sequência.
Beijinhos.