segunda-feira, 18 de outubro de 2010

PORTUGUESES MASSACRADOS

1. Portugal tem sido, nos últimos vinte anos de democracia, pelo menos, um país governado por interesses meramente eleitoralistas e não por estadistas que cuidem dos reais interesses dos cidadãos, individual e colectivamente considerados. Ninguém quer arriscar-se a perder votos e os resultados estão à vista: um país miserável, a naufragar alegremente para o abismo.
É claro que a responsabilidade primeira do descalabro em que caíram as contas do país, no mais recente quinquénio, é do primeiro-ministro José Sócrates, que não explicou ainda minimamente aos portugueses as razões por que se chegou até aqui. Ou seja, porque é que esticou a corda, irresponsavelmente, até finais de Setembro, quando todos viam que o precipício se aproximava a passos largos; porque é que não tomou medidas mais suaves com maior antecedência, agravando a situação até ao insustentável; porque é que agiu com meros intuitos de “caça ao voto” em 2009, numa altura em que os especialistas já prenunciavam nuvens negras sobre a economia doméstica, aumentando ordenados; porque é que manifestou incompetência em prever a evolução da economia, afirmando, reiteradamente, estar tudo “controlado”, quando a situação era já aflitiva; porque é que esbanjou milhões de euros dos impostos de todos os portugueses em dois bancos privados que acabaram por ir à ruína; porque é que deu razões sobejas a todos os portugueses para considerarem que um primeiro-ministro que aldraba, que mente, que não antecipa cenários, que não arquitecta as melhores soluções, não merece confiança para estar à frente de um governo da República.
José Sócrates, em condições normais, já não teria as mínimas condições para continuar a exercer as funções de chefe do governo. Faltou-lhe dimensão de estadista, de líder omnisciente, com visão e previsão de futuro. Ficou-se pelos jogos de interesse eleitoralista.
Contudo, vivemos por estes dias condições anormais, gravíssimas, que não se compaginam com a abertura da mais ligeira crise governativa. O país está em rotura financeira, como nos indicam os que percebem destas matérias e que nós, até agora, catalogávamos, descuidadamente, como catastrofistas e arautos do desgraça, até a razão se impor pelas circunstâncias.
Todo o país volta agora os olhos para Pedro Passos Coelho, no sentido de que venha a caucionar o “massacre aos portugueses” que representa o Orçamento de Estado para 2011, com as medidas de ataque feroz aos bolsos dos cidadãos, de empobrecimento generalizado, de recessão da economia.
Apesar de tudo, e para as coisas não piorarem, o que todos esperam, nesta calamitosa conjuntura, em que os suspeitos do costume, sobretudo os que vivem do seu trabalho na função pública, vão voltar a ser fortemente punidos, é que haja responsabilidade e sentido de Estado por parte de todos os intervenientes da cena política. Que haja diálogo, entendimento, concertação, acordo, para que o documento económico estrutural venha a passar na Assembleia da República. Pedem-no os portugueses em geral, votem neste ou naquele partido, ou não elejam nenhum deles. Pedem-no os antigos presidentes das República, como se viu esta semana; pede-o o presidente da Comissão Europeia; pedem-no os comentadores, os economistas, os opinadores.
Para que Portugal cumpra os compromissos que tem para com as instâncias internacionais e recupere a confiança dos mercados.
Caso contrário, arriscamo-nos a ter de suportar as medidas e os cortes introduzidos por estranhos, pagando todos com língua de palmo as asneiras, os esbanjamentos, a politiquice, o desperdício e o eleitoralismo de uns poucos!
2. Na sexta-feira passada, começou a ser, finalmente, paga a utilização das SCUT, as auto-estradas que todos remuneramos para que alguns nelas circulem.
Sobre esta questão, cumpre-me saudar retumbantemente a posição do presidente da Câmara de Santa Comba Dão, João Lourenço, do PSD, cujo executivo apoia portagens nas actuais SCUT. Dizia ele, citado pela imprensa da semana passada: “sou defensor do princípio da universalidade. O que neste caso significa que, em matéria de portagens, ou pagamos todos ou não paga ninguém”. E acrescenta: “As alternativas não podem ser iguais às auto-estradas. Se assim fosse, não eram alternativas mas sim estradas iguais às outras. Quem quer viajar com conforto e qualidade nas auto-estradas tem de pagar”.
Nem mais. Quantos anos andaram todos os portugueses a pagar as utilizações de alguns deles? Numa altura de crise, e que o não fosse, todas as auto-estradas (incluindo as ditas SCUT) devem ser pagas por quem as utiliza e não por todos os pagadores de impostos. É o princípio da justiça e da equidade que está em causa.
Como é de falta de justiça que se fala quando há outras inúmeras SCUT espalhadas pelo país e que continuam sem custos para o utilizador. Mas porque é que o Norte continua a ser martirizado, obrigado a pagar as trapalhadas do Senhor Engenheiro, quando o resto do país o não faz? Será este o tão propalado esforço de “coesão nacional”?!...

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