Entre 2011 e 2014 estão a
evocar-se os 50 anos do início da Guerra Colonial, que deflagrou em Angola
(1961), depois na Guiné (1963) e finalmente em Moçambique (1964).
A Câmara Municipal de Fafe e um
grupo de fafenses que combateu na Guerra em África, bem como associações e
escolas, decidiu participar na evocação do cinquentenário do início da Guerra
em África, o que ocorrerá ao longo deste ano e até Abril de 2014, altura em que
se comemoraram os 40 anos do 25 de Abril e do termo oficial da Guerra Colonial.
Estão a decorrer, portanto, os
cinquenta anos do início de uma guerra que entrou pela porta dentro das
famílias portuguesas sem ser convidada e que mobilizou durante os 13 anos do
conflito mais de um milhão de jovens. Destes, mais de 8 mil tombaram na frente
de combate ou em acidentes, cerca de 120.000 foram feridos, 4 mil ficaram
estropiados e estima-se que cerca de 100.000 mil ficaram a sofrer de “Stress
Pós Traumático de Guerra”. Do concelho de Fafe, de acordo com dados oficiais,
tombaram 40 jovens: 17 em Angola, 12 em Moçambique e 11 na Guiné.
Na sequência do célebre pensamento
que refere que “Só existe uma coisa mais terrível do que uma guerra, fazer de conta que
ela nunca aconteceu”, pretende a autarquia fafense, associada à
comunidade escolar, às associações de ex-combatentes e à população em geral,
dinamizar, pedagogicamente e do ponto de vista histórico, um conjunto de acções
com o objectivo de não fazer esquecer o flagelo dessa guerra e de lutar contra
a cultura do esquecimento que se instalou em Portugal, após o final da Guerra
Colonial.
O primeiro acto desse programa
aconteceu na passada sexta-feira, 5 de Abril, na Casa Municipal de Cultura de
Fafe, com uma brilhante conferência sobre a Guerra Colonial, pelo coronel
Carlos de Matos Gomes, seguida da abertura da exposição itinerante do Museu da Guerra
Colonial "Uma História por contar", a qual se mantém patente até 19
de Abril.
Nascido em 1946, o coronel Matos
Gomes, actualmente na reserva, cumpriu três comissões, em Moçambique, Angola e
Guiné como oficial dos «Comandos». Condecorado com as medalhas de Cruz de
Guerra de 1ª e de 2ª Classe. Pertenceu à primeira Comissão Coordenadora do
Movimento dos Capitães na Guiné. Foi membro da Assembleia do MFA. Além da sua
carreira militar dedicou-se a estudos de História Militar, tendo publicado em
co-autoria com Aniceto Afonso as obras Guerra
Colonial e Portugal na Grande Guerra.
Com Fernando Farinha, publicou Um
Repórter na Guerra. É autor da obra Moçambique
1970 – Operação Nó Górdio, entre outras. Como romancista publicou os
romances: Nó Cego, ASP- de passo trocado, Soldadó, Os Lobos não Usam Coleira, O
Dia das Maravilhas e Flamingos
Dourados, entre outros.
Ao longo de mais de uma hora,
Matos Gomes abordou a temática “Da Guerra Colonial ao 25 de Abril – a questão colonial
no centro da nossa história contemporânea”.
Foi uma autêntica lição de
história contemporânea, relacionada com a guerra colonial e os vários momentos
que culminaram no 25 de Abril de 1974, o que o Coronel apresentou em Fafe, perante
uma plateia de dezenas de fafenses, sobretudo ex-combatentes em África.
Fê-lo de uma forma serena, isenta,
conhecedora, interessante do ponto de vista historiográfico. Matos Gomes é sem
dúvida um dos maiores conhecedores da problemática da Guerra Colonial, pois
combateu no terreno e tem desenvolvido, desde há mais de duas décadas, um
notável trabalho de investigação e sistematização de conhecimentos sobre a
temática.
Uma noite em grande, que concluiu
com a abertura de uma excelente exposição sobre o tema, que teve como cicerone
o competentíssimo director científico do Museu da Guerra Colonial, José Manuel
Lajes.
Outras iniciativas:
Outras iniciativas estão previstas
nos próximos meses, com a colaboração de entidades como o Núcleo de Artes e
Letras de Fafe, o Cineclube de Fafe, a editora Labirinto e os agrupamentos
escolares do concelho, designadamente uma exposição/feira de livro sobre o
tema, recital de poesia sobre a guerra colonial, um Curso Livre de História
Local, do Núcleo de Artes e Letras sobre a temática “Fafe e a Guerra Colonial”,
um ciclo de cinema sobre a Guerra em África, exposições e teatro alusivo ao
tema, culminando, em Abril do próximo ano, com a edição de uma obra de
testemunhos e textos de antigos combatentes de Fafe (Fafenses na Guerra Colonial, 1961-1974).
No entanto, o programa estará permanentemente
em aberto para o seu enriquecimento com novas iniciativas!
Fotos: Manuel Meira Correia
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