quarta-feira, 29 de maio de 2013

Fafe na obra “101 Lugares para ter medo em Portugal”



Depois do êxito de Histórias de um Portugal AssombradoCasas assombradas, fantasmas misteriosos, lendas e mouras encantadas, livro editado em 2012 e já em quarta edição, a jornalista Vanessa Fidalgo, do Correio da Manhã, acaba de publicar 101 lugares para ter medo em Portugal – Mistérios e fenómenos inexplicáveis, encantamentos e maldições de um país assustador.
A obra divide-se em sete capítulos: “Mistérios, fenómenos inexplicáveis e assustadoras coincidências”; “Portugal: terra de superstições, encantamentos e maldições”; “Aqui há fantasmas”; “Mafarricos, bruxas e bruxarias”; “O estigma do crime”; “Um susto de paisagem” e “À beira do abismo”.
Trata-se de um livro que inscreve um mapa do medo em torno de lugares especiais pelo pavor que incutem, e que percorre ruas, casas e paisagens, “contando histórias dos lugares onde passamos todos os dias, mas que estão marcados por acontecimentos terríveis, sejam eles crimes, manifestações do sobrenatural ou simplesmente o fantástico e maravilhoso lendário popular”, como quer a jovem autora (35 anos).
Alguns casos relatados:
Em 2003, os atores interromperam espavoridos as gravações da telenovela O Teu Olhar. Estavam a ser atacados por forças sobrenaturais no castelo de Montemor-o-Velho. A 10 de Outubro de 1982 um estranho fenómeno deixou a caseira da Quinta da Penha Verde, em Sintra, a tremer que nem varas verdes; uma verdadeira chuva de pedras caiu sobre a misteriosa quinta. Já se for à Serra da Estrela e visitar a Lagoa Escura vai poder ouvir falar do monstro que se esconde nas suas profundezas. Entre as aldeias de Lamas de Mouro e Cubalhão, perto de Melgaço, há um local que se chama Botas de Cubalhão, que fica numa encosta onde não existe mais nada além de uma pequena encruzilhada. Conta-se que nessa encruzilhada existe um lobo, capaz de engolir todo e qualquer homem que se aproxime dele pela calada da noite, seja novo ou velho, fraco ou forte! E tudo porque o povo se fartou de encontrar naqueles caminhos escuros, botas, sapatos, pedaços de vestuário e até bocados de pés, que deram nome ao lugar e muitos motivos à imaginação. Numa terra conhecida como Torre da Mesqueira, no concelho de Albufeira, há uma encruzilhada que assusta muito boa gente. Um ponto obscuro entre caminhos onde, segundo a voz do povo, aparecem fantasmas, almas penadas e até mulas sem cabeça! Em pleno centro histórico de Lisboa,  situa-se o Páteo do Carrasco que herdou o nome de Luís Alves, o último carrasco de Portugal. Há quem garante que ainda se ouvem os seus urros e gritos. No Palácio de Seteais há quem não consiga dormir no quarto 18. Ainda hoje o Aqueduto das Águas Livres causa arrepios quando se pensa no que aconteceu há 150 anos atrás, altura em que Diogo Alves por lá andava a matar as suas vítimas
Tive a honra de contribuir com informações e investigações para esta obra sobre o fenómeno sobrenatural que é tão comum no país.
Forneci à autora informações e fotos sobre casos estranhos e lendários de Fafe. Concretamente, sobre a “Santinha de Fafe”, Maria de Jesus Teixeira, que esteve entrevada 44 anos, sem se alimentar e em cujo funeral aconteceu um “dilúvio de borboletas” (pp. 52- 55) e sobre a “Bicha das Sete Cabeças” (pp. 85-86), uma lenda conhecida dos naturais.
Estamos em presença de uma obra interessantíssima, a ler, com imenso prazer e curiosidade!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Uma obra de vez em quando: “O filho de mil homens”, de Valter Hugo Mãe


 
Valter Hugo Mãe é um dos mais consagrados escritores portugueses da nova geração.
Nasceu em Angola em 1971. Passou a infância em Paços de Ferreira e, actualmente, reside em Vila do Conde.
É licenciado em Direito e pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea.
É autor de diversos livros de poesia, reunidos na colectânea Contabilidade (em 2010), de antologias poéticas e de romances que o projectam na cena literária portuguesa da actualidade.
Além disso, escreveu quatro livros ilustrados para o público infanto-juvenil, é vocalista do grupo musical Governo e esporadicamente dedica-se às artes plásticas.
Os quatro primeiros romances de Valter Hugo Mãe, nome artístico do escritor Valter Hugo Lemos, formam uma tetralogia que percorre, através de personagens distintas, o tempo completo da vida humana, da infância à velhice. Falamos de O nosso reino (2004), o remorso de baltazar serapião, vencedor do Prémio José Saramago (2006) o apocalipse dos trabalhadores (2008) e a máquina de fazer espanhóis (2010), Grande Prémio Portugal Telecom de Literatura.
Ao quinto romance, deixou de grafar o seu nome em minúsculas e assinou o mais delicado e afectivo dos seus livros, com o título O filho de mil homens.
Trata-se de um romance que inicia um novo ciclo na sua criação literária e se encontra marcado pelo grande desejo da paternidade e da família.
Esta é a história de Crisóstomo que, chegando aos quarenta anos, lida com a tristeza de não ter tido um filho. Do sonho de encontrar uma criança que o prolongue e de outros inesperados encontros, nasce uma família inventada, mas tão pura e fundamental como qualquer outra.
As histórias do Crisóstomo e do Camilo, da Isaura, do Antonino e da Matilde mostram que para se ser feliz é preciso aceitar ser o que se pode, nunca deixando contudo de acreditar que é possível estar e ser sempre melhor. As suas vidas ilustram igualmente que o amor, sendo uma pacificação com a nossa natureza, tem o poder de a transformar.
Tocando em temas tão basilares à vida humana como o amor, a paternidade e a família, O filho de mil homens exibe, como sempre, a apurada sensibilidade e o esplendor criativo de Valter Hugo Mãe.
São mais de 250 páginas de puro prazer literário e de afirmação de um notável escritor português, que chegou a afirmar que cresceu a escrever muito, mas não achava que ser escritor era algo que pudesse ser. “Eu escrevia para mim, para fazer a manutenção dos meus dias, para suportar os meus dias” – referiu, no Brasil, ao agradecer o Grande Prémio Portugal Telecom 2012.
Ainda bem que passou a escrever para um público mais vasto, em diversos países, que o lê e o admira.
É um dos valores maiores da nova literatura portuguesa!
Boas leituras!

terça-feira, 7 de maio de 2013

A nau dos loucos!

 
1. Este governo não pára de massacrar os portugueses. Já é sadismo. Apaixonado e reiterado culto da austeridade. Neste caso, os exclusivos suspeitos são os do costume: os funcionários públicos e os aposentados. Na obtusa óptica governamental, eles são os culpados pela situação a que o país chegou. Foram eles que desencadearam a crise, há cinco anos, por pura especulação financeira. Foram eles que firmaram os ruinosos negócios das PPP, como todos sabemos. São eles que ganham 1 milhão de euros por ano, como o insuportável consultor do governo e explorador da EDP, António Mexia. Logo, é justo que “paguem a crise”.
Passos Coelho, que para anjo só lhe faltam asas, limitou-se, esta sexta-feira, com voz grossa, decidida e executiva, a informar os portugueses que tem de saquear 4,8 mil milhões de euros para dar aos seus amigos da tróica, de que ele não passa de subserviente feitor em Lisboa. Acenou os habituais fantasmas, fez chantagem inqualificável para amedrontar os portugueses, que ou aceitam a miséria ou vem aí a bancarrota. Simplesmente, indigente!
São 30 mil funcionários públicos que vão para a rua, na gaspariana e patética perspectiva de que “é possível fazer mais com menos”; é o aumento do horário de trabalho no Estado para as 40 horas, para que os serviços possam ter tempo de abrir as portas ao comércio que já não existe; é o aumento dos descontos para a ADSE em mais 0,75%, para solidificar a saúde dos prestadores públicos; é o aumento da idade de reforma para os 66 anos, como forma de levar a terceira idade aos serviços públicos, servindo mais eficazmente os utentes, pela experiência e reumatismo acumulados e, bem assim, evitar que aqueles sejam infestados por sangue jovem e inconformado; enfim, é a revisão anunciada da tabela remuneratória da função pública, que significa um abaixamento do vencimento dos funcionários públicos (a somar aos cortes que já duram há três anos, ao congelamento das progressões e ao aumento do horário de trabalho) como factor de elevado cariz motivacional, inspirada no consagrado “embaixador” do governo para a imbecilidade, de nome Miguel Gonçalves. Para os aposentados vem mais um escondido imposto, embrulhado com a lengalenga da “sustentabilidade”.
Mas, como se referiu, os funcionários públicos e os aposentados devem pagar com língua de palmo os desmandos deste país nestes últimos anos. Por uma outra razão: também contribuíram para colocar no governo quem lá esteve e quem lá está. Então, que paguem o devido estipêndio!
Chamam a esta pilhagem a sectores específicos da sociedade portuguesa “reforma do Estado”. Já a baptizaram como “refundação”, mas como ninguém acreditou, nem acredita, que estejamos a falar do que não estamos a falar, a coisa foi abandonada à sua sorte. A coisa, não o saque.
Espera-se que o Tribunal Constitucional, o último baluarte da defesa da legalidade neste país, já que ninguém espera nada de uma múmia que habita, estoicamente, o Palácio de Belém, continue a salvaguardar a Constituição e a justiça social, face a um governo fora de lei, anticonstitucional e que nutre um criminoso ódio visceral a rudo o que é público, seja em que área for, porque interessa desmantelar o sector estatal, para o dar de mão beijada aos privados.
Os cortes brutais na saúde e na educação têm essa matriz ideológica absolutamente explícita!
 
2. É claro que o inefável Passos Coelho, na sua estratégia buldózer sobre tudo o que mexe e que possa render uns patacos, não conseguiu, em meia hora, uns segundos para amenizar o desconforto dos desempregados e o aumento brutal que se espera do desemprego. Nem teve uma mínima palavra de gratidão para os portugueses, trabalhadores e aposentados, vítimas nos dois últimos anos de uma desumana asfixia financeira, de um ataque bárbaro aos seus bolsos, pelos salteadores legalizados por eleições.
Nem uma palavra ou uma medida que afectem ou ponham em causa as verdadeiras sanguessugas do Estado. Nada sobre a renegociação das PPP, as rendas excessivas da energia, que continuam intocadas, os benefícios fiscais de grandes empresas e da banca, que se mantêm inalterados. Nada sobre a urgente diminuição do número de deputados e dos “boys” (que agora se chamam “especialistas” e auferem 4-5 mil euros por mês) nos gabinetes ministeriais. Uma vergonha nacional!
Este governo continua a ser excessivamente forte com os fracos e submissamente fraco com os fortes, sejam as grandes empresas, o sector financeiro ou da construção civil, sejam os engravatados do FMI, BCE e CE.
Para os trabalhadores, acabaram-se os “direitos adquiridos”, mesmo que a meio do contrato. Já não têm direito à totalidade do seu salário, nem à perspectiva das férias, nem à reforma na idade que estava estipulada. Para os trabalhadores, os contratos podem alterar-se com uma simples decisão do Conselho de Ministros. Para os grandes interesses económicos e financeiros, que envolvem milhões ou biliões, os contratos estão blindados a qualquer alteração!...
Estamos conversados. Miseravelmente conversados!
 
3. É claro, para qualquer merceeiro, que as medidas anunciadas terão como efeito aumentar a quebra de consumo e a recessão, com o consequente aumento das falências e do desemprego. Se as famílias não tiverem rendimento adequado, são afectados não só o comércio e serviços, mas também a indústria e todas as actividades económicas.
Por isso, com tantos rendimentos retirados às famílias, é anedótico que o governo prometa para 2014 um aumento de 0,6% do consumo privado. Mas esta previsão vale o que valem todas as projecções do ministro Gaspar, que não acerta com um mero dardo num corpulento elefante. O que significa que a recessão e a austeridade vão continuar, sem abrandar em 2015,curiosamente o ano em que, se não for antes, nos livraremos, finalmente, de quem estar a destruir ideológica e impenitentemente este país de nove séculos
Até lá, reina uma absoluta demência, vinda da nau dos loucos, de quem já estamos fartos até aos cabelos.
Termino com uma citação da insuspeita Manuela Ferreira Leite, ex-líder do PSD: "Não estou nada convencida de que seja exequível aquilo que estão a dizer que vão fazer. Podem anunciar, podem amedrontar, podem criar ainda mais espírito de recessão, podem afundar psicologicamente as pessoas, mas resultados não vão ter nenhuns”. Eu não diria melhor!
 
(Publicado no Correio do Minho, de 6 de Maio)

sexta-feira, 3 de maio de 2013

DIA DO TRABALHADOR. OU NEM POR ISSO!

Esta quarta-feira comemorou-se mais uma vez o Dia Internacional do Trabalhador.
Supostamente, e respeitando a efeméride, deveria ser um dia de festa e de luta, como de costume.
De festa, para evocar os progressos que se registaram ao longo de um século em favor da dignificação do trabalho e da pessoa do trabalhador.
De luta, no sentido de conseguir que os trabalhadores sejam mais respeitados e honrados nas situações em que o não estão a ser. Claramente.
Por esta altura, o Dia do Trabalhador, no nosso país, não é uma coisa nem outra. Dramaticamente.
Poderíamos, antes, afirmar que estamos em presença de um dia de luto e indignação.
Luto pela perda constante e reiterada de direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores.
Os trabalhadores portugueses estão a ser espoliados, despudoradamente, escandalosamente, de direitos conquistados ao longo de décadas, desde o 25 de Abril de 1974. Estamos em presença da maior ofensiva contra os trabalhadores dos últimos 40 anos: em matéria de horário de trabalho, de vencimentos, de consideração pela dignidade das pessoas que exercem uma profissão.
Hoje por hoje, um trabalhador é apenas uma mercadoria, uma coisa, num sistema mercantilista. Um instrumento absolutamente descartável: se não serve, deita-se fora, como inutilidade. A pretexto de uma qualquer reorganização ou reestruturação de serviços, despede-se um trabalhador, com o maior dos à-vontades, com a mais pérfida insensibilidade, como se fora lixo.
É o capitalismo selvagem no seu esplendor, sem alma, sem coração, como há muito não se via.
Estamos em presença de um claro e acentuado retrocesso civilizacional de muitas décadas.
A indignação surge exactamente desse desrespeito pela pessoa humana, pelo trabalhador em si, que não é uma fria máquina, um mero número, uma cifra de pontógrafo, mas um ser com sentimentos, com vivências, com qualificações, com competências, com atitudes, com objectivos. Muitas vezes, se não funciona, se não rende mais, é porque o sistema envolvente não e motivador, ou porque a organização falha rotundamente.
O luto tem mais um nome: desemprego. Escandaloso! Inadmissível. Inqualificável.
Desemprego em todos os sectores, com mais de um milhão de inactivos, mas em especial entre a geração mais jovem, sonhadora e qualificada.
Um desemprego que representa já 38,3% do total dos portugueses que não conseguem uma colocação compatível no mercado do trabalho. A quarta taxa de desemprego jovem mais elevada da União Europeia, atrás da Grécia, Espanha e Itália.
No mesmo dia em que supostamente se festejaria o Dia do Trabalhador – com cada vez menos trabalhadores e mais desempregados – o governo indiciava cortes nas funções sociais do Estado, em valores colossais, indiciando mais despedimentos, mais falências, mais desemprego. Mais confisco nas retribuições e nas prestações.
Um futuro mais comprometido, seguramente, para o país e para os portugueses.
Bem pode pregar o Papa Francisco contra a escravatura dos trabalhadores em face dos sistemas vigentes na economia mundial!... Ninguém o ouve, nem o leva a sério, porque o determinante são os lucros, a especulação, não a ética ou a deontologia do mercado laboral, que simplesmente não existem!
O valor do trabalho é cada vez menos reconhecido e considerado. O trabalhador cada vez menos dignificado e valorizado.
Basta atentar neste simples pormenor (ou pormaior): há quanto tempo não se vislumbra o anúncio de uma medida, por mais pequena que seja, que beneficie os trabalhadores, os desempregados ou os aposentados, restituindo-lhes alguns dos seus direitos e regalias?!...
Em contrapartida, assiste-se a uma vergonhosa protecção dos grandes interesses, das escandalosas parcerias público-privadas aos ruinosos negócios do BPN ou do BPP, das rendas excessivas da EDP ao recém-descoberto escândalo dos contratos “swap”, que, mais uma vez, como sempre, sobram para os contribuintes pagarem.
Por isso, é que o Dia do Trabalhador não é já de festa e de luta, mas de indignação e de luto!
E oxalá não descambe para formas mais vigorosas de indignação e revolta. Já estivemos bem mais longe, apesar do mito de um “povo de brandos costumes”, que não passa de uma bem comportada ficção salazarista, sem correspondência à realidade.