quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ECONOMIA E DIREITOS HUMANOS

O Presidente da República Popular da China, Hu Jintao, esteve em Portugal, no fim-de-semana, quase gloriosamente. Uma glória pacóvia, já se vê.
Vinha para comprar a dívida externa portuguesa mas ficou-se pelas boas intenções de “apoiar com medidas concretas os esforços dos portugueses para lidar com os impactos da crise financeira internacional”.
Assinou nove acordos bilaterais e louvou a compreensão e “os esforços de Portugal nas relações entre a China e a Europa”. Mas mais nada.
José Sócrates e Cavaco Silva, sempre subservientes ante os fortes, dobraram a cerviz perante o tirano chinês. Falaram de economia, de negócios, de relações, de entendimento. Não tiveram a mínima coragem para pronunciar palavras tão singelas como “liberdade”, “democracia”, “direitos humanos”.
Algum deles fez a mínima alusão à pessoa de Liu Xiaobo, que a Academia Sueca, sem medos, nem hipocrisias, nem duplicidades, galardoou com o Prémio Nobel da Paz em 2010?!...
Dir-se-à que a relação dos pequenos países com os gigantes económicos é baseada naquilo que se chama “realpolitik”, essa expressão que significa que podemos ser muito humanistas mas o peso dos negócios é determinante.
Já sabíamos que os “nossos primeiros” se humilham e acobardam o país perante a China. Quando há meses por cá esteve em visita o Dalai Lama, que foi recebido por chefes de Estado europeus, José Sócrates estava de fim-de-semana em algum resort para subsidiados do rendimento mínimo e Cavaco Silva teve um súbito congestionamento de agenda.
Não se podem incomodar os ditadores. Aliás, é dessa fauna que se constituem os mais exemplares amigos de José Sócrates: basta citar os nomes honrosos de Hugo Chavez, Kadafy e José Eduardo dos Santos, para não irmos mais longe.
Mas se a economia apaga tudo o resto, se não há nada para além dela quando os ditadores visitam este país, para que raio serve essa porcaria dos “direitos humanos”, a não ser para debruar belos discursos de solidariedade vazia?
Alguém acreditará mais em José Sócrates e Cavaco Silva quando vierem com as tretas delicodoces da “democracia universal” e do “humanismo” de pacotilha?
Vão mas é fazer jogging para a celestial Tiananmen

4 comentários:

Anónimo disse...

Dr. Coimbra!
Concordo plenamente com o seu texto.É caso para dizer que "em tempos de guerra não se limpam armas".
Como sempre, os interesses financeiros, sobrepoêm-se aos direitos humanos.
Mas oxalá consigam ajudar Portugal.

ARTUR COIMBRA disse...

Tudo bem, que os chineses e os outros países nos ajudem, nesta crise que o povo não provocou. O que eu critico é a hipocrisia e o cinismo daqueles políticos que enchem a boca de "direitos humanos" e se apressam a negociar com quem mais os viola e atropela, apenas porque tal interessa... Pelo menos, que sejam coerentes. A coerência é um valor que não deve depender do momento político!...

Unknown disse...

Boa noite Dr. Coimbra,
Concordo totalmente consigo e, penso que a maioria dos Portugueses também. Tal como diz, "a coerência é um valor que não deve depender do momento politico." Mas coerência é também um valor que não temos conseguido encontrar nos nossos politicos, daí a grave situação em o País se encontra.

Muito obrigada pela visita e comentário com que me honrou!

Ana Martins

ARTUR COIMBRA disse...

Obrigado eu, Ana Martins, pelas suas palavras. E cá ficamos todos à espera da sua obra obra poética de estreia, Ave sem Asas.
Boa noite.
Artur Coimbra