sábado, 6 de novembro de 2010

RETRATOS DO TEMPO E DA MEMÓRIA ABORDA 75 ANOS DE VIDA DO GRUPO NUN'ÁLVARES

Na noite de sexta-feira, teve lugar no Estúdio Fénix, a sessão de apresentação da obra Retratos do Tempo e da Memória, da autoria do Professor Alberto Alves e que retrata, basicamente, os primeiros 75 anos da vida do Grupo Nun’Álvares (GNA), de Fafe.
A anteceder o evento, passaram pelo palco diversas secções do Grupo, das áreas teatral, musical, de hip-hop e patinagem artística, em belos momentos, que encantaram a plateia bem composta.
Tive a honra de agradecer ao presidente da Direcção do GNA, o amigo Professor Manuel Mendes, o convite e a oportunidade de deixar algumas palavras sobre a obra e sobre o próprio Grupo, que é de facto e tem sido uma referência incontornável no âmbito do associativismo de natureza cultural, desportiva, recreativa e social do município, nos últimos 78 anos (1932-2010).
Depois, deixei as minhas maiores felicitações e as mais fundas homenagens ao também muito prezado amigo e colega de direcção dos Bombeiros Voluntário de Fafe, Professor Alberto Alves, por esta sua importante monografia sobre a mais relevante instituição cultural da cidade.
Escasseiam grandemente os trabalhos históricos sobre as associações e as instituições locais e daí a sua indiscutível valia e pertinência.
Em termos globais, poderei afirmar que as cerca de 280 páginas que integram a obra não defraudam nenhuma expectativa. A obra está bem escrita, numa linguagem clara, escorreita e acessível, o que não surpreende se tivermos em conta a actividade profissional do seu autor e a sua forte ligação ao jornalismo, sobretudo local, onde durante muitos anos lidou de perto com os maiores segredos das palavras e da arte de escrever. E escrever bem!
É um livro bem organizado e agradavelmente estruturado, numa perspectiva cronológica e tocando nos pontos fundamentais da vida do GNA.
Obviamente que o livro obrigou a aturada investigação por parte do autor, à leitura de actas, documentação, bibliografia, jornais locais e ao que se chama “história oral”, colher depoimentos de antigos nun’alvaristas felizmente ainda vivos para testemunharem períodos ou actividades sobre as quais não há documentação escrita nos arquivos da colectividade.
Este é um trabalho insano que só avalia quem navega nas mesmas águas e prossegue idênticos fins.
É um livro profusamente ilustrado, com imensas fotografias, muitas delas curiosíssimas e deliciosas, permitindo reviver momentos, eventos, encontros, pessoas, memórias de ¾ de século da vida do GNA.
O Grupo nasceu em 6 de Novembro de 1932, à sombra da Igreja Católica e sob a égide do Padre Domingos da Apresentação Fernandes, com o apoio de D. Maria Guimarães Vieira Campos de Carvalho (D. Maria do Comendador), primeira madrinha do grupo.
Surgiu para “tirar os rapazes da rua” e proporcionar-lhes um crescimento assente em valores cívicos, morais e naturalmente religiosos.
Depois de algumas actividades, o Grupo hibernaria e seria refundado em 5 de Novembro de 1951, pelo grupo ligado à “mesa do bilhar do Sindicato dos Caixeiros”, e cujo presidente seria José de Freitas.
A partir dessa altura, e como refere o autor, a ambição do GNA “era deixar marca própria de uma instituição que foi criada para a formação cívica, moral, intelectual e cultural (e porque não política?) dos jovens, através de actividades lúdicas e culturais que os desviassem de situações degradantes e tivessem sempre presente que o Homem é constituído por matéria e espírito”.
Assim é que, pelos seus primeiros estatutos, o GNA se assumiu como uma associação de jovens católicos, com o propósito da sua formação moral e religiosa e ainda de distracção e recreio, sob a direcção do pároco local. Com o andar dos tempos e pelos estatutos de 1982, como sublinha Alberto Alves, o Grupo laicizou-se, apesar de continuar a ter o seu Assistente Espiritual. Após o fundador, Padre Domingos da Apresentação Fernandes, foram assistentes do Grupo o Padre Manuel Domingues Basto (Santa Cruz), o cónego José Leite de Araújo e actualmente o padre José Peixoto Lopes.
Assistimos, depois, na obra, ao desfilar incessante das várias secções e das múltiplas actividades que adornam o historial do GNA e enobrecem a cidade onde se integra.
À dança das sedes sociais, desde o provisório anexo da Igreja Matriz às actuais e belas instalações da Rua Guerra Junqueiro.
E a curiosidades como a entrada das primeiras mulheres para a direcção, no até então “grupo dos rapazes”, o que apenas sucederia em 1975. As primeiras senhoras que entraram para a direcção foram Rosa Maria Torres, Fernanda Oliveira Paredes, Maria Manuela Ribeiro e Ângela Marina Oliveira. A partir daí, tornou-se comum a integração de elementos do género feminino nas direcções, embora nunca o Grupo foi liderado por uma senhora…
De destacar, no GNA, o seu marcado ecletismo, envolvendo as áreas da cultura, do desporto e do recreio, que são amplamente reportadas e ilustradas fotograficamente na obra, pelo que aqui se não avança mais, até por limitação do espaço.
Todas estas actividades guindaram o Grupo à posição de maior agente cultural, em termos do movimento associativo, de Fafe. Ao serviço de Fafe, da sua cultura e da sua sociedade, o Grupo Nun’Álvares impôs-se, sem discussão, pela pluralidade, imponência e eficácia das suas realizações.
De grande retumbância, já agora, e voltadas para a comunidade fafense, foram a organização de cortejos de oferendas a nível concelhio a favor do Hospital da Misericórdia, dos Bombeiros Voluntários e da Igreja Nova de S. José; a organização de várias edições de Festas do Concelho em honra de N.ª S.ª de Antime e de corsos carnavalescos (interrompidos em 1959, retomados em 1988 e 1989 e novamente suspensos a partir dessa data); organização de finais de etapa da Volta a Portugal em Bicicleta e organização de mais de uma dezena edições do Concurso Vestido de Chita. Imensos espectáculos das várias secções; cantares dos reis; actividades de tempos livres, etc.
A obra referencia ainda todos os órgãos sociais do seu historial, a relação dos sócios honorários e beneméritos e conclui com um relato circunstanciado das múltiplas actividades que tiveram lugar no âmbito das comemorações das “Bodas de Diamante”, há três anos atrás, a propósito das quais a autarquia distinguiu a colectividade com a medalha de ouro de mérito concelhio.
Não sendo uma obra perfeita (nenhuma o é), é uma obra que dispensa grandes elogios, dado que se impõe por si mesma, pela sua intrínseca eloquência.
É um testemunho excelente e global sobre quase oito décadas de vida de uma das colectividades referenciais do nosso concelho.
A capa tem a assinatura do artista fafense Carlos Santana, que não regateia o seu apoio e colaboração às associações locais, o que é de realçar vivamente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns, por este lindo texto.
Vejo-o como um hino de amor e saudade, ao seu Pai.
Ainda bem que se lembra dele com tanto amor e carinho.
Os nossos pais nunca morrem, estão sempre no nosso coração.
Que bom é poder sentir que os nossos pais partem, mas deixam tanta saudades e tantas memórias.
Ainda bem que assim é.
Um abraço amigo e muita coragem

ARTUR COIMBRA disse...

Apesar de não ser propriamente este o local da mensagem que escrevi sobre o meu pai (aqui é sobre o lançamento de Retratos...), agradeço profundamente as palavras deste comentário.
Muito grato a quem as escreveu.