quinta-feira, 4 de novembro de 2010

UM POEMA PARA FIAMA

No fim-de-semana passado, decorreu na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, um colóquio sobre a admirável poetisa (não consigo encaixar com a palavra poeta no feminino) Fiama Hasse Pais Brandão, que nasceu em 1938 e faleceu há três anos, em 2007.
Foi uma das vozes mais originais da poesia portuguesa, da geração de poetas maiores como Eugénio de Andrade, Nuno Júdice, Gastão Cruz (que foi seu marido), António Ramos Rosa, Maria Teresa Horta, Luísa Neto Jorge, entre outros.
A editora fafense Labirinto publicou em 2007, ano da morte da poetisa, a antologia Um poema para Fiama, coordenada pelas poetisas Maria Teresa Dias Furtado e Maria do Sameiro Barroso.
Tive o privilégio de escrever um poema para aquela antologia, que constituiu um momento literário de enorme alcance cultural.


Podendo ser para Fiama

tu vens com a primavera, ou com o poema
como as gavinhas se agarram às palavras
para que haja luz e o sol incendeie o orvalho

                          *
na manhã de cada dia, o poema germina
à cadência das sementes que tecem o verde
e os cristais da língua para que março
nunca acabe, água à procura da sede

                            *
hoje é que tu vais de coração em êxtase
marítimo, íntimo, à espera da plenitude
o fulgor da matéria viva sem casa nem
idade, que outro nome podes dar à primavera?
  

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