quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Estado paga a padres de Fátima milhões perdidos em especulação no BPN

Lê-se e não se acredita, de tão absurda que é a nova. Durante um ano, está no JN da semana passada, em notícia que não voltei a ver em lado algum, o que não deixa de ser revelador do estado mental abjecto em que nos encontramos, “uma instituição religiosa de Fátima entregou 3,5 milhões de euros a um gestor do BPN que prometia juros superiores aos dos depósitos a prazo”.
Até aqui, nada de anormal, a não ser a cupidez e a ganância de uma instituição religiosa afinal tão apegada aos bens materiais, quando alegadamente Cristo pregou o despojamento, a pobreza e a sobriedade.
A notícia do JN prossegue, referindo que, afinal, o dinheiro foi desviado pelo gestor e perdido na Bolsa.
Também nada de extravagante, sabendo-se que outros gestores do BPN, ao que se leu na imprensa, fizeram o mesmo.
O escândalo da notícia está em que não é o gestor criminoso quem vai pagar aos usurários padres de Fátima, como seria normal supor, mas sim o Estado, quer dizer, todos nós, através dos nossos impostos é que vamos suportar uma fraude de que não tivemos a mínima responsabilidade. Já não bastavam os erros e os buracos do Sócrates e do Jardim, ainda vamos ter de pagar a ambição e a cobiça de uns clérigos que de santos nada têm, meu Deus!...
A condenação do gestor especulador foi decidida pelo Supremo Tribunal de Justiça. O trapaceiro que desviou a grossa maquia foi condenado apenas a quatro anos e meio de prisão, com pena suspensa. Ou seja, cometeu um crime que lesa todos os contribuintes e não lhe acontece nada.
Pelo contrário, os contribuintes que não têm culpa de nada, vão pagar um crime que não cometeram.
Onde é que já se viu uma coisa destas? Só mesmo neste país da trampa!...
E já agora, duas ou três perguntas inofensivas ficam no ar: porque é que o Estado (todos nós) tem de pagar aquele montante colossal, quando proclama que apenas garante aos comuns depositantes em qualquer banco qualquer coisa como 100 000 euros, em caso de bancarrota? É por se tratar de uma instituição religiosa? É porque os juízes têm medo de ir parar ao inferno?
Que raio de República das bananas é esta? Que raio de separação de poderes entre a Igreja e o Estado, que há muito se julgava consolidada, é a que se verifica?
Por outro lado, como é que se admite que uma instituição religiosa disponha de 3,5 milhões de euros para especular no sistema financeiro. Que espírito cristão se pode entrever no mero jogo da agiotagem por parte de uma instituição que deveria dar o exemplo do comedimento, da solidariedade para com os mais pobres?
Como é que se pode acreditar numa religião com tão péssimos paradigmas (não são estes, obviamente, que fazem a religião, mas também a fazem)?
Enfim, como é que um caso com esta gravidade, esta pertinência, este escândalo, esta lesão dos interesses dos contribuintes, não faz parangonas nos media?
Será apenas porque estamos a tratar de uma instituição religiosa?
E o burlão, porque é que não cumpre uma pesada pena de prisão, como justificam os seus criminosos actos? O crime afinal compensa, como parece ideia instalada neste país?
Da minha parte, e em resumo, não apenas sinto revolta por esta situação execrável.
Sinto nojo, asco, vergonha pelo estado da Justiça deste país. Nojo, pela impunidade que se instalou no quotidiano; asco, pelos valores envolvidos, ou pela falta deles; vergonha pelo facto de as instituições do país tratarem os contribuintes abaixo de cão. Outros roubam, especulam, exploram, traficam, burlam, furtam, e nada lhes acontece. Os eternos pagadores de impostos, esses é que vão suportar todas as agiotagens, todas as fraudes, todas as vigarices, caucionadas pela Justiça, pelo Estado, pelos que elegemos.
Um escândalo! Uma vergonha!

 
Enquanto isso, os jornais e as televisões entretêm o pagode a falar, até à paranóia, da maçonaria e o Ministério Público alegadamente estará a investigar meras palavras apaixonadas de Otelo Saraiva de Carvalho, que tantos portugueses subscrevem, e que nada têm de ofensivo ou de perigoso para a democracia. E já não estamos no 24 de Abril, ao contrário do que parece começar a instituir-se como ideia corrente!...
É a choldra de país que temos, e do qual apetece mesmo emigrar! Nem que seja para a Holanda, para escapar aos impostos, como fazem alguns empresários tão “patriotas” e “doces”!...

2 comentários:

Unknown disse...

Dr. Coimbra, boa noite!
Já pouco ou nada há a acrescentar a este post, o Sr. já disse tudo e muito bem!
Partilho os mesmos sentimentos e sinto-me roubada todos os dias. Nós, que às vezes, tantas contas temos que fazer para que tudo dê certo, agora também temos que pagar as fraudes e roubos de uma cambada de burlões e parasitas.

Beijinho,
Ana Martins

ARTUR COIMBRA disse...

Inteiramente de acordo, Ana.
Muito grato pelo seu comentário.

Bjo.
Artur Coimbra