Fafe voltou hoje a comemorar o 5 de Outubro, em ambiente de festa e com apreciável participação popular. Sinal de que a República continua a ser intensamente vivida, respeitada e reflectida. Pelo povo que vive em Fafe e que sente o regime como ninguém.
Nos Paços do Concelho, e como vem fazendo já há mais de três décadas, a autarquia evocou o dia da instauração do novo regime, hoje vilipendiado por gente sem história nem memória que transitoriamente se senta nas cadeiras de S. Bento, sem merecer nem respeitar os seus valores.
Este ano as comemorações foram mais simples e simbólicas.
Depois do hastear da bandeira no edifício dos Paços do Concelho com o desfile da Fanfarra dos Escuteiros de Fornelos, a sessão solene começou com a intervenção do constitucionalista Pedro Bacelar de Vasconcelos, co-fundador do Observatório Europeu do Racismo, Xenofobia e Anti-semitismo, membro da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, antigo conselheiro das Nações Unidas junto da Presidência timorense e redactor da Constituição de Timor-Leste, governador civil de Braga entre 1995 e 1999 e actual Director do Centro de Investigação Interdisciplinar em Direitos Humanos da Escola de Direito da Universidade do Minho, onde lecciona.
Bacelar de Vasconcelos, grande amigo de Fafe, onde disse ter raízes e muitos amigos, produziu uma brilhante reflexão sobre a emergência e o significado do 5 de Outubro, lamentando que, por razões muito discutíveis e numa altura em que se revela necessário evocar os grandes valores nacionais, o governo tenha decidido retirar o feriado da República. Lastimou a “forma descuidada e os argumentos tão débeis” que presidiram à anti-patriótica (digo eu) decisão de eliminar este feriado.
Abordou a génese da modernidade em Portugal, que passa pelo Revolução Liberal de 1820, o 5 de Outubro de 1910 e o 25 de Abril de 1974 e referiu-se às conquistas da República, em diversas áreas, entre as quais a educação e a legislação laboral.
Foi um momento de enorme exaltação dos valores e da coerência que marcam o discurso e a práxis republicana, que não tem nada a ver com a garotice que por aí campeia (digo eu).
Seguiu-se a entrega da medalha de prata de mérito concelhio ao Padre João Baptista Alves da Mota, decidida pela Câmara em Agosto, a propósito das bodas de ouro sacerdotais do clérigo e reconhecendo a sua acção social em diferentes instituições.
A sessão solene comemorativa foi encerrada pelo Presidente da Câmara, José Ribeiro, que teceu também algumas considerações pertinentes e críticas sobre a histórica data.
José Ribeiro considerou que a “República e a democracia dão sinais de forte doença”, desde logo por crescente ausência de valores e de rumo ideológico do país.
Lamentou a desvalorização da data fundadora da República, o 5 de Outubro, como sinal da doença de que falava. E também reprovou que a celebração da República em Lisboa “tenha saído da rua para uma praça interior”. Mais um sinal da referida doença.
O autarca foi mais longe a criticou a incoerência dos políticos que rasgam os programas eleitorais e fazem exactamente o contrário do que prometeram quando são eleitos.
José Ribeiro aludiu ainda aos “sinais de preocupação pelo futuro da nossa sociedade, com valores e direitos ameaçados”.
Voltando-se para o interior, orgulhou-se de anunciar a “dívida 0” na autarquia, desde o final da semana passada, e dos fortes apoios que está a dar às instituições de solidariedade social, concretizando nos mais de 300 000 euros que o executivo deliberou esta quinta-feira conceder para obras da Santa Casa da Misericórdia e do Centro Social Paroquial de S. Martinho de Silvares.
José Ribeiro terminou a sua intervenção aludindo à actualidade dos valores republicanos e à necessidade e urgência da sua defesa intransigente, ao nível da ética, da educação e da transparência, entre outros.
“No próximo ano cá estaremos”. Prometeu o Presidente da Câmara, para reiterar a continuação da comemoração da Republica em Fafe, apesar de não ser feriado.
A cerimónia finalizou em grande com a execução do Hino Nacional por um grupo de jovens músicos da Academia de Música José Atalaya.
Viva o 5 de Outubro!
Viva a República!
Fotos: Manuel Meira Correia
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