sábado, 13 de setembro de 2014

Como os leitores repararam, há meses que não são publicadas notas no blogue SALA DE VISITAS DO MINHO.

O autor do blogue - Artur Coimbra - passou a publicar as suas impressões no facebook, na sua página pessoal, bem como criou uma página para divulgar notas e investigações sobre Fafe, que podem ser procuradas no endereço "Memória e história de Fafe e dos fafenses".


Por conseguinte, é no facebook que encontram o autor.


Está página será encerrada nos próximos tempos.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Núcleo de Artes e Letras de Fafe venceu "Ardina de Ouro" do Associativismo




No âmbito da II Gala do jornal Notícias de Fafe, o Núcleo de Artes e Letras de Fafe teve a honra de receber o Ardina de Ouro da categoria “Associativismo”, facto tanto mais significativo quanto concorria com associações de peso e historial, como os Leões do Ferro e o Arões Sport Clube.

Fantástico!

O presidente do Núcleo de Artes e Letras de Fafe recebeu o troféu das mãos do pároco de Fafe, Abel Maia.

Ficámos imensamente satisfeitos pelo reconhecimento dos leitores daquele jornal em relação ao trabalho feito em prol das letras, das artes e da cultura de Fafe.


Obrigado a todos.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A MULHER DO LEGIONÁRIO, DE CARLOS VALE FERRAZ: UM ROMANCE QUE FALA DE FAFE


Carlos Vale Ferraz é um nome já incontornável da literatura dos nossos dias. É o pseudónimo do coronel Carlos de Matos Gomes, antigo oficial do Exército com três comissões em África. Data de 1982 o seu primeiro romance, Nó Cego, porventura a obra-prima da literatura da guerra colonial.
A Mulher do Legionário é o seu nono romance, publicado há escassos meses. É uma grande surpresa este romance histórico que abarca a vida dos portugueses desde a Conferência de Berlim até à transição para o presente século.
Fernanda, filha de Eduardo Lobo, um advogado oposicionista suspeito de ter à sua guarda documentos secretos que incriminariam membros importantes do regime de Salazar, envolve-se com Augusto Torres, um jovem e ambicioso membro da Legião Portuguesa, que recebeu a missão de descobrir tais documentos. Eduardo aparentemente suicida-se, o legionário casa com Fernanda (daí o título da obra) e os comprometedores papéis não aparecem.
Assim começa um excelente romance que tem todos os ingredientes da grande novelística, paixão e desamor, homicídio e vingança, numa história desconhecida do Portugal Contemporâneo, do regicídio à I República, da Ditadura Militar ao pós-25 de Abril.
A curiosidade desta obra é que Eduardo Lobo era de Fafe, estudara em Braga e teve de voltar ao Minho depois de sair da prisão, após o 28 de Maio de 1926.
Escreve o romancista (que só em Abril tivemos o gosto de ter em Fafe):
 “…depois da saída da prisão do Aljube, Eduardo Lobo cumpriu a obrigação de ir a Fafe fazer contas com o feitor, abrir a casa dos pais e dos avós, mostrar-se às gentes da terra, falar aos parentes afastados, mesmo aos que o evitavam como pestífero, responsabilizando-o pela desordem anterior, pelas fomes, pelos levantamentos da tropa, pelas iras dos padres, até pelos maus anos agrícolas. A república de Lisboa atacara Deus no seu reino e Deus vingara-se. Não se podia mandar calar os sinos das igrejas, nem proibir procissões, nem divorciar os casais, nem ir casar à câmara municipal, nem ser enterrado sem padre e esperar bons resultados. «Não se pode brincar com Deus, primo!» A situação está a compor-se, diziam-lhe com secura de uma acusação.
Há muito que Eduardo Lobo perdera a ligação à terra dos pais, se é que alguma vez sentira a ela pertencer. Vivia há mais de vinte anos em Lisboa. O Minho não passava para ele de uma paisagem exótica e não idealizara a vida rural, transformando a brutalidade do trabalho em folclore. E ainda havia, como escreveu, a omnipresença da Igreja Católica. A vida diária girava à volta dos padres, das igrejas, e se não era a religião, era vinho e aguardente.
Todos começavam e terminavam as frases com um «salve-o Deus» e «um vá com Deus». Todas as atividades eram «se Deus quiser». O feitor roubava-o, não havia nada a fazer, era a «vontade de Deus». No regresso a Lisboa, aliviado de preocupações por uns tempos, escreveu: «Tive de contribuir com uma oferta destinada à festa da Nossa Senhora de Antime para o pároco me arranjar um feitor menos desleixado e, se possível, menos ladrão.»

A Mulher do Legionário são 450 páginas de puro prazer de ler!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Um livro de vez em quando: “Uma Noite não São Dias”, de Mário Zambujal




Neste início de 2014, deixem-se sugerir um divertido livro que antecipa o que poderá (ou não) ser o mundo dentro de apenas 30 anos.
Estou a falar de “Uma noite não são dias”, de Mário Zambujal, que ostenta o bem-disposto subtítulo de “Intriga e paixões no esquisito ano de 2044”!
Na advertência, o autor escreve: “se está mesmo na disposição de ler este livro, devo prevenir que não se trata de antecipação científica. Teríamos, nesse caso, um aluvião de sábios palpites que o futuro, implacável, acabaria por desmentir.
Ao contrário, o que vai ler é uma história verídica, a ocorrer, garantidamente, no ano de 2044.
É possível que os inevitáveis cépticos e maldizentes tentem beliscar o rigor da narrativa, negando verosimilhança às novidades urbanas, técnicas e de costumes”.
E o certo é que elas desfilam, em catadupa numa obra que nos diverte da primeira à última página, escrita pelo autor de um dos maiores sucessos editoriais da literatura contemporânea, a CRÓNICA DOS BONS MALANDROS.
Começamos com uma enorme avenida que não se alonga na horizontal, como seria normal.
É a Avenida Vertical, nome de uma torre habitacional de 98 andares, símbolo citadino do ‘esquisito ano de 2044’, onde ocorrem dois misteriosos assaltos: o roubo de um helicóptero no heliporto que encima o edifício e o roubo de uma coroa de uma rainha portuguesa na Praça das Artes, uma das várias praças interiores. Nesta atmosfera de mistério desfilam as personagens principais: Antony, um historiador, a sua mulher Grace e o amigo escultor, James, com aquela, farta da vida fastidiosa e rotineira que levava, acabará por ficar, porque “uma noite não são dias”.
Estamos em presença de uma história de subversão, em que Mário Zambujal decide “viajar” até ao futuro, em que impera o domínio feminino.
Em 2044, a escolaridade obrigatória será de 14 anos; a idade da reforma será fixada nos 84 anos, havendo movimentos reivindicativos no sentido de que seja alterada para os 81; depois da doença das vacas loucas e da gripe das aves, será a vez da tosse das rãs; já não serão usadas palavras como evento, incontornável, recorrente ou mediático, consideradas então velharias. O mundo será das mulheres, no governo e no parlamento, onde a lei estipulará rigorosamente um terço de lugares para os homens. Haverá ministras do Labor e da Longevidade, da Modernidade, dos Cofres do Estado, da Tranquilidade Aérea. Portugal arrecadará dúzias de medalhas nos Jogos Olímpicos.
As relações serão a três: dois homens e uma mulher ou duas mulheres e um homem.
É, assim, o mundo das ministras, dos secretários, das futebolistas, das operárias da construção civil desbocadas, enfim, um mundo ao contrário daquele a que nos habituámos e que ajudámos a organizar.
Como são menos, os homens tornaram-se objectos e criaram movimentos de emancipação masculina.
Para a mesma função profissional, as mulheres ganham mais que os homens.
Os robots domésticos estarão programados para arrumar a casa e limpar o pó, mudando até a posição dos móveis.
Em plena Avenida Vertical haverá a Praceta Santana Lopes e o Mercado Paulo Portas. Destaque ainda para o Aeroporto Internacional Mário Lino, na Ota e para o comboio de alta velocidade, o “Relâmpago Sócrates”.
Haverá quem faça férias na Estância Espacial do Inatel, situada a meio caminho entre a Terra e a Lua e a preços muito em conta.
Uma obra caricatural do que poderá vir a ser o nosso futuro, dentro de apenas três décadas. Cenários “esquisitos” que certamente não passarão disso mesmo. Um exercício literário imensamente divertido.



(Texto lido esta quarta-feira, para a Rádio Fundação, de Guimarães, indicando uma sugestão literária)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Herói, apenas



Este domingo choveram
Lágrimas em Portugal
Não de tristeza pelo derradeiro
Remate à baliza da vida
Mas de júbilo pelo privilégio
De termos sido teus contemporâneos
Dos teus pés saíam epopeias
Metáforas asas orquídeas
Para alegria de todos nós
Os teus golos eram poemas
Que levantavam a alma colectiva
Do rés-do-chão dos tempos
Na Luz ou em Wembley
Das tuas cabeçadas floriram palmas
Abraços êxtases paixões
Iluminaste destinos fados afectos
Imortalizaste o melhor que o futebol
Consegue inventar
A magia a fantasia a força
A energia que faz mover corações
E torna mais humanos os homens
Tinhas a pátria dentro de ii
Partilhada com o teu povo
Pantera ou diamante
Eras uma festa imensa em campo e fora dele
Para felicidade dos que te adoravam
O teu coração não resistiu
A tanto amor
Por todos nós
Porque foi por nós que marcaste
De todas as maneiras e feitios
Que enfeitiçaste a bola
Guiando-a para onde a alma era maior
Escreveste no relvado as páginas
Mais notáveis do desporto português
Espalhaste a grandeza de Portugal
Pelo mundo com o talento
Que só os deuses conseguem
Ainda assim eras o mais simples
O mais puro o mais próximo
Da geometria da terra das flores das águas
Vestiste a pele de herói de todo um povo
E apenas te escondeste do nosso olhar

Artur Coimbra
(05.01.2014)

Eusébio partiu hoje, a dias de fazer 72 anos de idade.
Ao longo do dia, tudo foi dito e redito, nas televisões, nas rádios, nas redes sociais.
Apreciei, mesmo, as palavras de dirigentes com que normalmente não vou à bola e que, neste caso, inteiramente subscrevo. Casos de Passos Coelho, Cavaco Silva e Pinto da Costa.
Eusébio era na verdade uma referência colectiva, um traço de união entre os portugueses, de qualquer matiz clubística ou ideológica.

Foi um dos heróis da pátria, que tão escassos tem.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Da corrupção e da crise


Encontro-me, por estes dias, a ler, com o máximo prazer e proveito, a obra “Da Corrupção à Crise. Que fazer?”, da autoria de Paulo de Morais, minhoto natural de Viana do Castelo, ex-vice-presidente da Câmara Municipal do Porto (2002-2005), conhecido professor universitário e vice-presidente da Associação Cívica Transparência e Integridade. Um corajoso e intrépido combatente pela transparência na vida política!

Numa pequena obra de 145 páginas, o autor desmembra algumas falácias que a propaganda oficial monta, incessante e despudoradamente e a comunicação social reproduz, acriticamente, sem o mínimo vislumbre de análise ou de sentido de questionação.
É uma obra que, pelo menos, suscita a maior reflexão de quem a manuseia, porque o que lá se afirma é demasiado sério para podermos passar em claro a realidade que nos rodeia.
Este livro contraria duas mentiras colossais que contaminam a sociedade portuguesa: a de que os portugueses andaram a gastar acima das suas possibilidades e a de que não há alternativa à austeridade.
A primeira é a ideia, repetida até à exaustão, de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque esbanjaram, compraram bens de consumo que não deviam e a que alegadamente não tinham direito. Acusam os cidadãos de terem gozado férias caras, terem adquirido automóveis e outros bens sem necessidade, dos telemóveis aos tablets.
Nada mais falso – repete Paulo de Morais.
Até porque, em 2009, no início da crise, 70% da dívida privada financiava a especulação imobiliária e apenas 15% era crédito ao consumo.
“Quem viveu e esbanjou muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política portuguesa e seus apaniguados, que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do Estado”, esclarece e dá exemplos: as administrações central e local enxamearam-se de milhares de boys, criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasmas. Atrás deste regabofe veio uma epidemia fatal: a corrupção.
A principal causa da crise em que Portugal se encontra mergulhado é a corrupção, sustenta aquele corajoso lutador em favor da transparência na vida política. Alguns grupos económicos, apoiados pelas grandes sociedades de advogados, dominam completamente a actividade política que se transformou, ela própria, numa grande central de negócios.
Indica vários paradigmas, em que o Estado investe e sai sempre a perder, ainda que sejam geradas mais-valias urbanísticas, como foi o caso da Expo 98. Exemplos de corrupção são também as infraestruturas construídas para o Euro 2004, a aquisição dos famosos submarinos no tempo de Paulo Portas, que envolveu o pagamento de luvas, “com corrupção provada e condenados, mas só na Alemanha”. Os escândalos do BPN e do BPP, as PPP sobretudo rodoviárias.
Em todos os casos há negócios fraudulentos, em prejuízo do interesse público e em benefício dos privados e que são os cidadãos que acabam por ter de suportar, à custa da redução dos seus ordenados, das suas pensões, do aumento dos impostos, do enfraquecimento de direitos e garantias, do desmantelamento, enfim, do Estado Social.
Os responsáveis são conhecidos mas a Justiça portuguesa nunca ou raramente castiga os responsáveis pelos escândalos ou pelos crimes de corrupção.
Ainda agora, sustenta Paulo de Morais, enquanto o país empobrece, a classe média se extingue e o desemprego alastra, a corrupção continua a aumentar, os mecanismos de corrupção agravam-se e cresce a promiscuidade entre a política e os negócios. Entre os anos 2000 e 2012, Portugal desceu do 23º para o 33º lugar no ranking da transparência que elenca os países em função da sua capacidade de se libertarem do fenómeno da corrupção. Ou seja, segundo o autor, “Portugal obteve, nesta década, o vergonhoso título de campeão mundial do aumento da corrupção”.
O Estado português chegou à bancarrota porque sucessivos governos andaram a beneficiar os amigos, esbanjando o dinheiro dos nossos impostos, assegura o autor.
Há, no entanto, uma saída, uma alternativa que não é a austeridade, ao contrário do que apregoam com insistência políticos e fazedores de opinião – é o combate à causa maior da crise, o combate à corrupção, cuja luta deveria ser tarefa fundamental de todos as entidades públicas.
Paulo de Morais elenca inúmeros exemplos, em todo o Estado, de alto e baixo, com uma coragem assinalável. E propõe, como saída para a crise, o combate eficaz à corrupção, a transparência na vida pública, leis claras e simples, uma justiça eficaz, que deixa de ser forte com os fracos e débil perante os poderosos, a renegociação global de todas as parcerias público-privadas, a imediata reestruturação da dívida pública, a redução dos alugueres e rendas imobiliárias que o Estado paga neste momento, o combate ao desperdício e a criação de uma nova classe dirigente, para que o país “seja bem governado”, em função do interesse da sua população “e não de alguns grupos económicos que dominam o país de forma feudal”.
Finaliza Paulo de Morais, neste seu livro que todos os portugueses deveriam ler, meditar e divulgar: “Os governantes de que hoje precisamos são os que consigam enfrentar, sem medo, os actuais poderes fáticos que empobrecem o país e preservam uma estrutura económica e política de tipo feudal”.

São esses os nossos votos para 2014, cientes de que não os vamos encontrar. Para mal de todos nós!



segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

DOS PROFESSORES E DOS ESTALEIROS

1. Centenas de professores contratados manifestaram-se este sábado, no Porto (e três dias antes em Lisboa), em protesto contra a obrigatoriedade de realização de uma prova de ingresso na carreira docente, “inventada” por Nuno Crato, com o mero propósito de eliminar professores e candidatos a professores, numa rasteira lógica economicista, que não tem minimamente em consideração as pessoas envolvidas e põe em causa a credibilidade das instituições de ensino superior deste país.
Segundo é do domínio público, a prova é destinada aos professores não integrados na carreira docente, ou seja, aos contratados. Terá uma periodicidade anual e o seu alegado objectivo será "aumentar sustentadamente os padrões de qualidade do ensino", assim como a "equidade entre os candidatos ao exercício de funções docentes", de acordo com o Ministério da Educação e Ciência.
Obviamente que estamos no domínio da treta e da mais pura demagogia, mesmo para quem perspectiva esta matéria como observador. Os padrões de qualidade do ensino não aumentam apenas pela acção dos professores, como até Nuno Crato, o propagandista e actual utilizador do “eduquês”, sabe e deverá reconhecer. E se tal fosse verdade, teriam que ser todos os professores a submeter-se à famigerada prova. E não é o que vai acontecer, e muito bem. Não deveria é suceder com nenhum docente, porque a prova não faz qualquer sentido, é um perfeito absurdo e apenas dá a medida do desnorte e da prepotência que reina pelos lados da coligação de direita que nos coube em desdita. Ainda se fosse uma medida para o futuro e com regras universais, como acontece com o ingresso em carreiras como a medicina, a engenharia ou a advocacia, se admitiria. Assim, não!
Desde logo, não passa de um disparate obrigar a fazer a designada “prova de acesso à carreira” docentes que já estão a trabalhar, embora como contratados, há 10, 15 ou 20 anos, em muitos casos com avaliações de “bom” ou “muito bom”. Por isso, é "uma prova que não prova coisa nenhuma", como referem professores à comunicação social, e com toda a razão.
E deveria ser proibido ter professores naquelas condições tantos anos, quando o Estado obriga os privados a admitir os funcionários nos quadros a partir de um determinado número de anos de contratados. O Estado é um mau exemplo e um explorador, com todas as letras. Como deveria ser interdito alguém vir questionar a preparação ou as competências de um professor para a carreira, depois de leccionar anos e anos… Estamos no alegre reino do delírio!...
Falamos de professores que se formaram nas universidades creditadas pelo Estado para o efeito, com quatro ou cinco anos de estudos; que fizeram os seus estágios curriculares como mandam as regras; que se prepararam e cumpriram todas as etapas da sua formação pedagógica para exercerem cabalmente a sua actividade numa sala de aulas.
Por isso, o que está em causa, inequivocamente, é a falta de respeito do Governo pela situação dos professores que já leccionam há anos e que se permite dispor a seu bel-prazer da sua vida e destino. Chama-se a isso prepotência.
Como é também falta de reconhecimento da qualidade científica e pedagógica das universidades esta opção de Nuno Crato, que assim põe em causa de uma penada e com a maior desvergonha e pedantaria a credibilidade do ensino superior deste país, que ele quer asfixiar financeiramente.
Obviamente que, por detrás do folclore verbal do Ministro da Educação, está o propósito de afastar milhares de professores do sistema, com fins estatísticos. Para afirmar à Europa que o desemprego no professorado é residual.
Estamos a falar de uma sacanice de Nuno Crato aos professores, que pretende arrasar a vida e o futuro de mais de quatro dezenas de milhares de professores, numa prova de 120 minutos.
Outro aspecto a considerar é o do esbulho que o governo faz aos professores. Uma prova obrigatória e a pagar (20 euros) não passa de um infame saque aos concorrentes, por parte de um governo sem escrúpulos, que o que pretende é eliminar professores do sistema, obrigando-os a contribuir para o “ajustamento”, em mais de 1 milhão de euros (contando a prova geral e a específica, a 15 euros por cabeça, ao que se anuncia), sem a garantia de que venham a entrar na profissão. E tantos deles nem sequer estão a trabalhar…
O mesmo Crato que inferniza a vida aos docentes e desinveste claramente no ensino público, para o menorizar e descredibilizar, não se coíbe de acenar com os melhores apoios ao ensino privado.
Porque é disso que estamos a falar. Esta gente que nos governa nestes anos de chumbo quer acabar com tudo o que é público, para entregar os sectores fundamentais da educação, da saúde, da economia, aos privados.
Não estamos a falar de questões conjunturais, ditadas pela crise. Estamos a falar de uma estratégia ideológica que está a ser posta em prática pela direita ultraliberal para privatizar o melhor do país. Da energia aos correios.


2. É nessa lógica distorcida e algo satânica que se insere também a alienação dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, exigiu no fim-de-semana um inquérito à subconcessão dos Estaleiros ao grupo Martifer por suspeita de «favorecimento» ao sector privado com este negócio.
Na verdade, há coisas nebulosas no meio deste negócio, que deveriam exigir a intervenção e investigação das autoridades, para aumentar a sua transparência e clareza.
Não se entende o afã da privatização dos estaleiros e o despedimento de 609 trabalhadores. Como bem afirma o líder da CGTP, em 2012 o mesmo Governo «não teve» três milhões de euros para adquirir matéria-prima para começar a construir dois navios asfalteiros encomendados pela Venezuela, mas dispõe agora de 30,1 milhões de euros para despedir seis centenas de trabalhadores.
Como não se compreende que se passe a gestão daquela empresa para a Martifer, que tem um passivo maior, da ordem dos 370 milhões de euros, quando o dos ENVC rondará os 300 milhões de euros.
Sejam os governantes pelo menos sérios a defender o interesse público, o que, neste como em outros negócios, está muito longe de suceder.
E, como se sabe, à mulher de César não lhe basta parecer!...