Neste início de 2014, deixem-se sugerir um
divertido livro que antecipa o que poderá (ou não) ser o mundo dentro de apenas
30 anos.
Estou a falar de “Uma noite não são dias”, de
Mário Zambujal, que ostenta o bem-disposto subtítulo de “Intriga e paixões no
esquisito ano de 2044”!
Na advertência, o autor escreve: “se está mesmo na disposição de ler este
livro, devo prevenir que não se trata de antecipação científica. Teríamos,
nesse caso, um aluvião de sábios palpites que o futuro, implacável, acabaria
por desmentir.
Ao contrário, o que vai ler é uma história verídica, a
ocorrer, garantidamente, no ano de 2044.
É possível que os inevitáveis cépticos e maldizentes tentem
beliscar o rigor da narrativa, negando verosimilhança às novidades urbanas,
técnicas e de costumes”.
E o certo é que elas desfilam, em catadupa numa
obra que nos diverte da primeira à última página, escrita pelo autor de um dos
maiores sucessos editoriais da literatura contemporânea, a CRÓNICA DOS BONS
MALANDROS.
Começamos com uma enorme avenida que não se
alonga na horizontal, como seria normal.
É a Avenida
Vertical, nome de uma torre habitacional de 98 andares, símbolo citadino do
‘esquisito ano de 2044’, onde ocorrem dois misteriosos assaltos: o roubo de um
helicóptero no heliporto que encima o edifício e o roubo de uma coroa de uma
rainha portuguesa na Praça das Artes, uma das várias praças interiores. Nesta
atmosfera de mistério desfilam as personagens principais: Antony, um
historiador, a sua mulher Grace e o amigo escultor, James, com aquela, farta da
vida fastidiosa e rotineira que levava, acabará por ficar, porque “uma noite
não são dias”.
Estamos em presença de uma história de subversão,
em que Mário Zambujal decide “viajar” até ao futuro, em que impera o domínio
feminino.
Em 2044, a escolaridade obrigatória será de 14
anos; a idade da reforma será fixada nos 84 anos, havendo movimentos
reivindicativos no sentido de que seja alterada para os 81; depois da doença
das vacas loucas e da gripe das aves, será a vez da tosse das rãs; já não serão
usadas palavras como evento,
incontornável, recorrente ou mediático, consideradas então velharias. O
mundo será das mulheres, no governo e no parlamento, onde a lei estipulará
rigorosamente um terço de lugares para os homens. Haverá ministras do Labor e
da Longevidade, da Modernidade, dos Cofres do Estado, da Tranquilidade Aérea.
Portugal arrecadará dúzias de medalhas nos Jogos Olímpicos.
As relações serão a três: dois homens e uma
mulher ou duas mulheres e um homem.
É, assim, o mundo das ministras, dos secretários,
das futebolistas, das operárias da construção civil desbocadas, enfim, um mundo
ao contrário daquele a que nos habituámos e que ajudámos a organizar.
Como são menos, os homens tornaram-se objectos e
criaram movimentos de emancipação masculina.
Para a mesma função profissional, as mulheres
ganham mais que os homens.
Os robots domésticos estarão programados para
arrumar a casa e limpar o pó, mudando até a posição dos móveis.
Em plena Avenida Vertical haverá a Praceta
Santana Lopes e o Mercado Paulo Portas. Destaque ainda para o Aeroporto
Internacional Mário Lino, na Ota e para o comboio de alta velocidade, o
“Relâmpago Sócrates”.
Haverá quem faça férias na Estância Espacial do
Inatel, situada a meio caminho entre a Terra e a Lua e a preços muito em conta.
Uma obra caricatural do que poderá vir a ser o nosso futuro, dentro de apenas três décadas. Cenários “esquisitos” que certamente não passarão disso mesmo. Um exercício literário imensamente divertido.
Uma obra caricatural do que poderá vir a ser o nosso futuro, dentro de apenas três décadas. Cenários “esquisitos” que certamente não passarão disso mesmo. Um exercício literário imensamente divertido.
(Texto lido esta quarta-feira, para a Rádio
Fundação, de Guimarães, indicando uma sugestão literária)
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