sexta-feira, 3 de junho de 2011

Eutanásia: um debate que não deve ter preconceitos

A conhecida actriz portuguesa Lia Gama afirmou, recentemente, numa revista, que é “completamente a favor da eutanásia”. Sustentou que “não há direito de prolongar a vida de uma pessoa que não tem vida, que está imobilizada numa cama, com doenças terminais”.
Vem a propósito referir que tive a oportunidade, há uns dias, de participar num debate sobre esta matéria, promovido por cinco alunos da turma 12ºB da Escola Secundária e no qual interveio também o Padre José Peixoto Lopes, com posições muito abertas e que em muitos casos se aproximavam das que defendi.

Seguem-se algumas notas que deixei no aludido debate:
       
- Comecei por felicitar o grupo de alunos que organizou este debate sobre temas tão polémicos, fracturantes, inquietantes como a eutanásia, o testamento vital, etc.
- Partilhei as minhas dúvidas, as minhas hesitações, até a minha incomodidade perante estes temas
- Eu não sei exactamente se sou a favor, ou contra, ou antes pelo contrário. Não me sinto muito à vontade perante estes temas, que não fazem parte das minhas inquietações diárias
- Tenho uma opinião, como toda a gente. Apenas teórica, porque nunca se me colocou nenhuma situação daquele teor. Nalguns casos, pouco convicta.
Respeito escrupulosamente quem tem opinião contrária.
- Neste universo não há verdades absolutas, certezas de qualquer espécie.
Há uma dor de estômago quando se tem de encarar aquela situação
- Há conceitos e preconceitos, muitas vezes ditados por fundamentos religiosos, por alegadas razões médicas ou até por alguma ignorância – que todos temos.
- Falar destas coisas é entrar no campo das consciências, do que é mais íntimo e sagrado em cada um de nós.
- As decisões nestes campos – a favor ou contra – são absolutamente legítimas, devem ser respeitadas até ao fim, quando a pessoa que as toma está no uso da plenitude das suas capacidades intelectuais
- Entendo a eutanásia como meio de atalhar o sofrimento de vítimas de doenças incuráveis ou terminais
- Há quem lhe chame “morte bonita”, “morte feliz”, “direito a morrer com dignidade”; “suicídio assistido” ou “morte voluntária”.
- O sofrimento e a dor humanas são algo que me choca e me aterroriza. E julgo que não há razão para prolongar o sofrimento quando se esgota a esperança de uma vida com alguma consciência e a mínima qualidade.
- Não entendo que seja humano perpetuar uma vida vegetativa (distanásia), em nome de princípios que podem não ser os mais correctos .
- Entendo que um paciente, no uso das suas faculdades intelectuais, tem todo o direito a escolher o seu futuro. Por muito que nos custe, temos de respeitar.
- Algumas vezes, perante um caso terminal ou irreversível, pesa mais o egoísmo da família, do que o interesse ou o direito do doente.

- Há ainda uma realidade nova em Portugal que é o testamento vital, aprovado no Parlamento em 28 de Maio de 2009, vai fazer agora dois anos, com os votos do Partido Socialista e Partido Comunista Português, a abstenção do Bloco de Esquerda e o voto contra do PSD, do CDS-PP e de uma deputada socialista.

Um testamento vital é um documento em que consta uma declaração antecipada de vontade, que alguém pode assinar quando se encontra numa situação de lucidez mental para que a sua vontade, então declarada, seja levada em linha de conta quando, em virtude de uma doença, já não lhe seja possível exprimir livre e conscientemente a sua vontade.

- O que se assegura através destes documentos é a "morte digna", no que se refere à assistência e ao tratamento médico a que será submetido um paciente, que se encontra em condição física ou mental incurável ou irreversível, e sem expectativas de cura.
- No fundo, do que se trata é um cidadão poder pré-determinar se quer ou não que os médicos prolonguem artificialmente a sua vida naquelas condições.

- Em resumo, uma nota final:
Ninguém diga que a sua opinião sobre estas matérias é sagrada, definitiva e irretorquível.
Por mim, sinto-me mais incomodado que feliz, porque sobram as dúvidas, as inquietações, o desassossego, o terreno movediço, e falham as certezas que dão cor à vida.

2 comentários:

Luísa disse...

Sou completamente a favor...de uma decisão individual, em consciência, enquanto as faculdades mentais nos assistem. De mim para mim, sei do que falo. De mim para os outros, prefiro não ter que decidir NUNCA!

Um tema muito controverso "porque sobram as dúvidas, as inquietações, o desassossego, o terreno movediço, e falham as certezas que dão cor à vida."

Entretanto, façamos da vida uma festa, todos os dias uma festa, espalhando o melhor que somos e sabemos fazer...É tudo tão relativo, quando falamos do conceito de vida!!!

Votos de um excelente fim de semana, cheio de vIDA!

ARTUR COIMBRA disse...

Cara Luísa: muito grato pelo seu sentido e significativo testemunho. Sabemos do que fala e manifestamos-lhe a mais profunda solidariedade.
Que viva a vida, em cada momento e em todos os instantes.
Um beijo amigo do
Artur Coimbra