terça-feira, 30 de novembro de 2010

RECORDAR PESSOA, 75 ANOS APÓS A SUA MORTE


Fernando Pessoa foi, para muitos, a maior figura portuguesa do século XX. Um “supra-Camões”, que retratou a identidade nacional, os sonhos, os desalentos, a dialéctica dramática entre o sentir e o pensar, num oceano de poemas inesgotáveis que vão ganhando actualidade à medida que o tempo passa.
Nascido a 13 de Junho de 1888, viveu através dos seus conhecidos heterónimos (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares), derreteu-se a escrever, publicou a Mensagem, em 1934 e morreu em 30 de Novembro de 1935, deixando uma vastíssima obra inédita que foi sendo revelada ao longo dos anos.
Foi há 75 anos que faleceu, vítima de uma crise hepática, sendo sepultado no cemitério dos Prazeres. 50 anos depois, em 1985, foi transladado para  o Mosteiro dos Jerónimos, onde jaz junto ao túmulo de Camões. Como referiu em tempos o estudioso e nosso amigo Dr. Agostinho Domingues, “repousam, assim, lado a lado, no grandioso Monumento Nacional, os dois maiores poetas da pátria e da língua portuguesa. Para glória de todos nós”.
Fica, para recordação, este belíssimo poema pessoano.

LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
(s. d.)

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).
 - 244.
1ª publicação in Seara Nova , nº 526. Coimbra: 11-9-1937. 

4 comentários:

Unknown disse...

Boa noite Dr. Coimbra,
esta é sem dúvida uma linda homenagem a um GRANDE POETA PORTUGUÊS.
Como sabe, sou apaixonada por poesia, e Fernando Pessoa gosto imenso de ler!

Um beijinho amigo,
Ana Martins

Luísa disse...

E ao ler Pessoa, sei que "não sou do tamanho da minha altura"...

...e percepciono os degraus a subir até um dia poder dizer: eu já sei escrever!
Tudo são meros ensaios de Luísa.
É sempre um enorme prazer beber do chá servido nesta agradável sala de visitas!
Beijinho terno!

Carlos disse...

A poesia é um dos caminhos de excelência para se transmitirem estados de alma, vontades, certezas e procurar destinos. Pessoa foi um caminheiro brilhante que nunca soube parar e jamais voltou para trás.

Parabéns pela homenagem
Carlos Afonso

Carlos disse...

A poesia é uma viagem permanente e Pessoa foi um caminheiro de excelência que nunca encontrou a meta ansiada, mas que nunca desistiu de a procurar.

Um abraço

Carlos Afonso