domingo, 23 de janeiro de 2011

MUSEU DAS MIGRAÇÕES E DAS COMUNIDADES É UM PROJECTO PRIORITÁRIO PARA FAFE

Sessão de abertura:
Maria Beatriz Rocha Tindade, José Ribeiro, Pompeu Martins
“A Emigração na Primeira República” foi o tema global de um seminário que decorreu esta sexta-feira, 21 de Janeiro, ao longo do dia, na Biblioteca Municipal de Fafe, e que reuniu os melhores especialistas nacionais do fenómeno migratório: professores Jorge Fernandes Alves (Universidade do Porto), José Viriato Capela (Universidade do Minho), Carlos Pazos Justo (Universidade do Minho), Domingo González Lopo (Universidade de Santiago de Compostela), Maria Beatriz Rocha-Trindade (Universidade Aberta/Centro de
Estudos das Migrações e das Relações Interculturais) e Jorge Arroteia (Universidade de Aveiro).
A iniciativa, que teve como objectivo contextualizar o fenómeno migratório daquele período, integrou-se no âmbito das comemorações do Centenário da Implantação da República, que decorrem até Agosto próximo. Nela participaram dezenas de interessados, que encheram a sala durante o dia.
Intervenção do Professor Jorge Fernandes Alves
A organização foi da Câmara Municipal de Fafe, através do Museu das Migrações e das Comunidades e do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais da Universidade Aberta, instituição parceira deste Museu em iniciativas anteriores.
Na sessão de abertura, o presidente do município, José Ribeiro, fez questão de evidenciar que a iniciativa da realização do seminário se enquadra no relançamento do Museu das Migrações, o qual consubstancia “um projecto prioritário para o município de Fafe”, que não se poupará a esforços para o levar por diante.
O autarca reafirmou que estamos em presença de um “projecto nacional” que importa valorizar e consolidar, porque não há outro no país.
Quer na sua intervenção, quer ao longo do dia, em diversos momentos, perpassou a memória querida de Miguel Monteiro, o primeiro obreiro do projecto do Museu das Migrações, com a enorme cumplicidade e apoio da Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade, talvez a maior especialista portuguesa das migrações, que está e tem estado nos momentos mais marcantes da curta vida do Museu.
Ao longo do dia, tiveram lugar sete comunicações, sendo que dois comunicantes (Professora Maria do Céu de Melo, da Universidade do Minho e Professor Fernando António Baptista Pereira, da Universidade de Lisboa) não puderam dar o seu contributo por motivos familiares.
Professor Domingo González Lopo
Algumas linhas de força do que foi evidenciado por vários intervenientes:
 - Durante a Primeira República, a emigração continuou, e até disparou, em virtude da instabilidade política e das condições sociais e económicas desfavoráveis ao longo desse período. Entre 1910 e 1914, por exemplo, cerca de 300 mil portugueses partiram para o Brasil, como sucedera desde meados do século XIX. De Fafe, continuou a abalar para terras de Vera Cruz imensa gente nesses anos.
- Intensa sangria da emigração portuguesa na década de 1920-30, a partir das terás empobrecidas do país.
- A emigração, apesar de restringida e condicionada, resultava, contudo, numa enorme mais-valia para o país em termos económicos (remessas) e fiscais. Por isso, os governos faziam vista grossa à emigração sobretudo ilegal e que era avultada.
Intervenção da Professora Beatriz Rocha-Trindade
- Nesse período, curiosamente, Portugal recebeu também um considerável número de imigrantes, vindos sobretudo da Galiza e que se instalaram em Lisboa. Criaram os seus próprios jornais, a sua vida social e cultural. Porém, como sempre acontece, em qualquer parte do mundo, e de3vido aos sentimentos xenófobos, a sua imagem social era imensamente negativa (gente pobre, porca, sem escrúpulos, videirinha, etc.). Onde é que já vimos reproduzido este estereótipo?
- Apontamento de programas governamentais de desenvolvimento do país para evitar a emigração, que nunca foi evitada.
- Por isso, não surpreende que, como referiu Jorge Arroteia, “somos um país nato de migrações”, um país, no fundo, marcado e caracterizado pelo fenómeno migratório, desde os descobrimentos.
- Permanência e diversidade são as notas do fenómeno migratório neste país, como resumiu Maria Beatriz Rocha-Trindade. A permanência da emigração: mais de 100 mil pessoas continuam a sair todos os anos de Portugal para diferentes países do mundo. Diversidade: os destinos (as trajectórias) da emigração têm-se diversificado imenso. Actualmente, há um enorme fluxo migratório para a Grã-Bretanha.
De realçar também a intervenção de Daniel Bastos sobre “O concelho de Fafe durante a Primeira República e o fenómeno migratório”, ressaltando a influência da emigração brasileira e dos seus descendentes na corporização do município na República.
Intervenção de Daniel Bastos,
sobre a emigração em Fafe na 1ª República
Na sessão de encerramento, o vereador da cultura, Pompeu Martins, agradeceu em especial a colaboração da Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade nos últimos dez anos para o fortalecimento e internacionalização do Museu das Migrações e das Comunidades e considerou que “o seminário é mais uma peça na consolidação do projecto”.
Voltou, por uma última vez, à memória quente de Miguel Monteiro e agradeceu a todos os que tornaram possível o evento, sobretudo a Isabel ferreira Alves, que tem a incumbência de dar continuidade à paixão e ao empenhamento do saudoso autor de Fafe dos Brasileiros.
Está de parabéns o município de Fafe por esta importante realização cultural, como foi salientado por diferentes e importantes oradores, ao longo do dia.

Fotos: Manuel Meira Correia

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