Perscrutando detidamente a fotografia que ilustra este texto inútil, que legenda possível para um retrato envaidecido, com mero interesse pessoal?
Que o retratado tem a mania que sabe tocar viola? Dirá que arranha as cordas e impele algum ruído, o suficiente para o auditório se afastar das suas vizinhanças, denotando bom gosto... Consta que, apesar de tudo, nos seus verdes anos participou em espectáculos de variedades e em outras ousadias pseudo-musicais. Pobres e “variados” espectadores que tal “artista” suportaram!...
A viola será dele? Pelo estilo, parece que não.
Estará a tentar encantar as bananas e os ananases, surpreendidos sobre a mesa da sala de jantar, enquanto não são retalhados para a próxima salada de frutas?
Para onde estará virado? E quem o estará a fazer sorrir, talvez apontando o défice de execução musical?
Mas lá que julga ter pose de artista, não merece dúvidas: o olhar distante, o cabelo prateado (faz madeixas, obviamente), o bigode grisalho (com charme), os lábios cerrados propositadamente para não sair asneira, nem entrar mosca. A camisola vermelha, como que homenageando o “Glorioso”, para ver se reverte o momento menos auspicioso. Que mais canonizar na imagem que acima se pereniza?
Mais filosoficamente, se não se importam: em que estará a pensar, notando-se no raro e penoso cabelo que tem pensado seriamente? De onde terá vindo nesse dia de tal espalhafato? Para onde iria depois? Qual a duração do momento em que tomou, artisticamente, a viola alheia, armou postura para a câmara fotográfica e lançou-se logo na sobremesa do almoço?
Em quê ou em quem acredita o retratado? Ou será agnóstico em matéria religiosa e meio anarquista político? Ou não será nada disso, nem sendo nada do que pensam que ele é?
Que livros terá lido ultimamente? Será apreciador de José Saramago? De Miguel Torga? De Manuel Alegre (o poeta, o romancista)? Apreciará mais a poesia ou a prosa? Será que algum dia se atreveu a poetar, ao menos nuns românticos versos à sua princesa?
São interrogações possíveis para um retrato apenas, um instante captado pela máquina do Manuel Meira, irrepetível, grandioso, singular, no meio de um convívio fraterno dos trabalhadores do município de Fafe, acontecido próximo da terra em que viu a luz inicial “inteira e limpa” (Montalegre), num dia luminoso de Janeiro de 2011 (o convívio, claro está…).
Vemos ao que chega a capacidade interrogatória derivada do nada ter que fazer!...
1 comentário:
Eu tambem gostava de saber tocar violão. Ainda não aprendi por falta de tempo. Mas penso vir ainda a saber uns acordes.
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