O Teatro-Cinema de Fafe encheu por completo esta sexta-feira à noite para assistir ao concerto da jovem fadista Carminho, de apenas 27 anos, uma das mais sonantes e promissoras revelações daquela que é considerada a “canção nacional por excelência”.
Ao longo de mais de uma hora e meia, a simpática artista interpretou duas dezenas de fados, a maioria que integra o seu primeiro e único disco até agora editado, com o título exacto de “Fado” (2009), considerado logo “a maior revelação do fado da última década”, pela revista inglesa Time.
A plateia fafense delirou com a esplêndida voz de Carminho, feita de uma sonoridade consistente, enérgica e sobretudo sentida e vivida, acompanhada por um trio de músicos de alto gabarito (guitarra, viola e baixo). O resultado só podia ser um espectáculo soberbo, quente, intimista, profissional, no melhor sentido, fechando com “chave de ouro” o ciclo de “Concertos Íntimos” que a autarquia levou a efeito este ano e que se prolongará no próximo ano, certamente, com idêntica qualidade.
O espectáculo concluiu com o fado de referência da artista, “Meu Amor Marinheiro”, cantado ao natural, sem amplificação sonora, numa dádiva que encantou os espectadores, entre os quais se contavam espanhóis, dado o facto de Carminho estar nesta altura em primeiro lugar no top musical do país irmão, fruto do seu esplêndido dueto com o jovem cantor Pablo Alborán, na canção “Perdóname”.
Pelo meio, Carminho, elogiou a belíssima sala do Teatro-Cinema e disse ser seu privilégio cantar naquele espaço com quase nove décadas de existência! Aplausos que se vêm tornando recorrentes nos artistas que têm pisado a nossa sala de espectáculos, o que só nos pode deixar embevecidos, como fafenses amigos da sua terra.
Aqui ficam algumas imagens (belíssimas imagens, como sempre) do nosso amigo e colaborador Manuel Meira Correia, para gáudio de todos os eventuais visitantes deste blogue!
“Conversa íntima” de Carminho desvenda pormenores da sua vida
Na tarde de sexta-feira, na Sala Manoel de Oliveira, num registo descontraído, Carminho disponibilizou-se para falar com algumas dezenas de jovens estudantes, a quem se abriu e colocou à vontade para responder a todo o tipo de perguntas.
Numa conversa moderada pelo vereador da cultura, desporto e juventude da autarquia, Pompeu Martins, a nova “menina bonita do fado” passou em revista a sua jovem existência e a sua curta carreira musical, o que fez com enorme simpatia, inteira abertura, e uma bagagem cultural acima da média, para a sua idade.
Carmo Rebelo de Andrade nasceu em Lisboa e foi para o Algarve muita nova. Como a sua mãe (Teresa Siqueira) era fadista, tornou-se natural ouvir fado desde a infância e gostava do fado como de outras canções, como o rock, ou a música ligeira. Aliás, Carminho referiu que gosta de todo o tipo de música “desde que seja boa”.
Estreou-se a cantar aos doze anos, num espectáculo familiar no Coliseu dos Recreios, cujas peripécias relatou. A partir daí não mais abandonou a música, assumindo o fado como algo seu. Não apenas seu: “o fado é de todos os portugueses”.
Fadista de profissão, considera que “o fado é música, mas também poesia e forma de transmitir sentimentos”.
Carminho assume a sua natureza emotiva e sente a necessidade de cantar, para libertar os seus fantasmas e as suas obsessões.
Carminho, concluído o curso superior de marketing e publicidade, viajou pelo mundo durante um ano, sozinha, participando em missões humanitárias, sobretudo na Índia, com crianças deficientes e moribundos. Uma jovem com um grande coração e uma imensa coragem!
Regressada a Lisboa, começou a cantar regularmente no restaurante Mesa de Frades. Foi o início da carreira que a levou a gravar o seu primeiro disco, e a participar no filme de Carlos Saura e ao êxito com Palo Alborán.
Às crianças fafenses da Escola de Arões e da Carlos Teixeira, admitiu que quando sobe ao palco se sente “ansiosa mas também concentrada” e relativizou o êxito que está a conseguir, na sua jovem carreira. Ainda está a começar!...
-Como se define, em três palavras? - Perguntaram-lhe da plateia.
“Curiosa, emotiva e inexperiente” – respondeu, depois de alguma reflexão. Um retrato para quem teve o privilégio de assistir à conversa.
Como prémio para os adolescentes que a estavam a admirar, Carminho cantou o refrão do fado de que mais gosta, “Meu Amor Marinheiro”, com letra de António Campos e música de Joaquim Pimentel.
A belíssima letra deste fado é assim:
Tenho ciúme das verdes ondas do mar
Que teimam em querer beijar
Teu corpo erguido às marés
Tenho ciúme do vento que me atraiçoa
Que vem beijar-te na proa
E morre pelo convés
Tenho ciúme do luar da lua cheia
Que no teu corpo se enleia
Para contigo ir bailar
Tenho ciúme das ondas que se levantam
E das sereias que cantam
Que cantam p’ra te encantar
Oh meu amor marinheiro
Oh dono dos meus anelos
Não deixes que à noite, a lua
Roube a cor dos teus cabelos
Não olhes para as estrelas
Porque elas podem roubar
O verde que há nos teus olhos
Teus olhos da cor do mar.
1 comentário:
Mais uma vez parabéns.
Foi um espectáculo maravilhoso, a fadista canta maravilhosamente bem e é uma simpatia. Foi lindo... Maria
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