O nosso fado foi classificado pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade.
E justamente o foi, porque é da matriz do fado – “símbolo da identidade nacional”, como é considerado – ser o espelho da tristeza de um país, das suas grandezas e sobretudo das suas misérias, das suas desditas e adversidades.
Francamente, a decisão da classificação, que foi desencadeada em Lisboa há perto de duas décadas, não poderia ter acontecido em altura mais adequada. Ajustada, sem qualquer dúvida, ao momento.
O nosso fado, hoje, tem a ver com o lado mais sombrio da noite, com o rosto lunar da existência, com a violência do quotidiano, a violência governamental sobre todo um povo, o saque material e moral sobre quem trabalha ou trabalhou toda uma vida.
O nosso fado, hoje, é ter de aturar a música gananciosa que nos dão os especuladores financeiros que dão pelo nome de “mercados”, bem como essa aberração chamada tróica e o anacronismo do piedoso e fiel servidor de Merkel e Sarkozy que nos coube na rifa, Pedro Passos Coelho.
O nosso fado, hoje, é empobrecer alegremente e bater palmas aos carrascos da colectiva desgraça, como se fosse promessa, destino ou inevitabilidade ter de aceitar o que de modo algum é admissível.
O nosso fado é a saudade, a desventura elevada a hino nacional, o choro das guitarras, as “almas vencidas” pelo desânimo, mas também a força da indignação, da revolta, do descontentamento e da certeza de que há limites de dignidade que não podem ser ultrapassados, por muito que queiram os serventuários de uma Europa em decomposição.
De qualquer forma, ficamos muito orgulhosos por um longo percurso musical, agora premiado internacionalmente e que passa por artistas como Alfredo Marceneiro, Amália, Carlos do Carmo, Maria Teresa de Noronha, Mariza, Camané, Aldina Duarte, Cristina Branco, Kátia Guerreiro, Ana Moura e, mais recentemente, a novíssima geração do fado, Carminho, Ricardo Ribeiro e Cuca Roseta.
Um grande bem-haja a todos os autores e intérpretes do fado que nos elevam dentro e fora do país, contribuindo para o acréscimo da nossa auto-estima, contrariamente aos que têm por missão deprimir-nos, explorar-nos, infernizar a vida de todos nós!...
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