sábado, 21 de abril de 2012

Um ano de troika? Um país mais pobre, um povo mais infeliz!...

1. Por estes dias, a comunicação social, em especial a televisão, tem gasto largos espaços noticiosos e de debate a fazer o balanço de um ano de “ocupação” da troika (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) em Portugal. Porque é disso que estamos a falar. De imposição de medidas, de entidades estrangeiras ligadas à política e às finanças que decidem o que devemos ou não devemos fazer, a troco de um empréstimo pecuniário de 78 mil milhões de euros. Em troca dessa presumível “ajuda”, que mais não é do que um negócio especulativo, a juros monstruosos, José Sócrates e Passos Coelho comprometeram-se a destruir a vida aos portugueses e a desmantelar o Estado Social, enquanto durar uma coisa chamada “Programa de Assistência Económica e Financeira”, que de positivo só tem o nome… O conteúdo é a selvajaria capitalista no seu esplendor!
Pois, que balanço é possível fazer do primeiro ano de intervenção do capitalismo estrangeiro em Portugal?
Não é difícil de fazer, porque está à vista de toda a gente, tão negro e fuliginoso é o estado do país.
Portugal é hoje claramente um país mais pobre, vergado ao peso de mais, novos e inimagináveis impostos (a última invenção é a “taxa de saúde e segurança alimentar” aplicada às grandes superfícies mas que todos os consumidores vão pagar).
Um país cuja taxa de desemprego não pára de subir (já vai nos 15% oficiais, mas deverá ser bastante superior).
Um país em que as falências de empresas são o pão-nosso de cada dia, o mesmo acontecendo às insolvências pessoais e familiares.
Um país onde a austeridade aperta cada vez mais e a economia se deprime e estagna, como nunca.
Um país com um povo sofredor, amargamente triste, desencantado e sem confiança no futuro.
Um povo que heroicamente vai suportando (até quando?) taxas moderadoras nas unidades de saúde absolutamente desfasadas da realidade, a progressiva e brutal perda de rendimentos, cortes salariais e nas pensões como nunca se vira antes.
Entretanto, a classe média, que tudo aguenta e carrega, começa a desaparecer e a engrossar o exército dos “novos pobres”. As instituições sociais já não conseguem dar resposta a tantos pedidos de ajuda. Cada vez mais cidadãos entram em incumprimento de compromissos financeiros, deixando de pagar as prestações das casas, dos carros, dos seguros, dos electrodomésticos, em razão de perda de rendimentos da qual não são responsáveis. Outros retiram os filhos dos jardins-de-infância ou das universidades, por não poderem suportar mensalidades e propinas.
Um país pobre e desgraçado, sem perspectivas, é um país em que a emigração regressa em força, como há muito não se assistia. Em 2011, saíram de Portugal rumo a diversos destinos mais de 150 mil cidadãos, a maioria deles qualificados, em busca de um futuro que a Pátria lhes nega.
Porque é que chegámos aqui? De quem são as responsabilidades dos “buracos orçamentais? Da desregulação financeira, da catástrofe em que se transformou um país com oito séculos de História?
Poderia ser de outra maneira a cura desta doença? Podia, claramente, não fora a teimosia de um governo que, sem sensibilidade social alguma, faz gala em ser mais “troikista que a troika”, nem que à custa do sofrimento e da miséria dos cidadãos!...
É este o saldo de um ano de ditadura da troika neste velho país e neste antigo povo, que não tem (e deveria ter, o mor das vezes) a alma e a paixão dos gregos. Não se perdia nada. Porque, como diz o povo, quem não se sente não é filho de boa gente. E os portugueses estão a ser calcados em demasia e não conseguem reagir, tão anestesiados estão e conformados pela situação política e pelo medo do futuro!...
Assim, é um povo perdido o que temos pela frente, o que é trágico, não duvidemos.

2. Enquanto isso, o governo vai mentindo aos cidadãos, dando o dito pelo não dito, jogando com as palavras, num execrável malabarismo serôdio, e sem qualquer preocupação de ver onde e a quem fere.
Foi assim com o prolongamento dos injustos e discriminatórios cortes dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos de 2013 para 2015, e ainda assim “de forma gradual”… Veio o “vagaroso” Ministro das Finanças referir agora, meio ano depois do Orçamento de Estado, que foi um “lapso”, que se “enganou”… Aldrabice, é o que é.
Depois, foi a aprovação à pressa de um diploma que congela as reformas antecipadas, até pelo menos 2014, com a alegação de que se fosse anunciado com tempo poderia haver uma “corrida” às reformas. E ainda por cima, uma matéria desta relevância e que prejudica tantos milhares de pessoas, tomada à revelia da Concertação Social. Incrível!...
Por estas e por outras, quem prometeu falar verdade, e manifesta um socrático pendor para o trocatintismo, começa a delapidar o seu capital político, ainda antes de soprar as velas do primeiro ano de governação. Ou seja, os portugueses começam a desconfiar que tanta austeridade, tanto sacrifício, não vai levar a lado nenhum. O que é dramático. E sem esperança, sem crença nas reformas, sem envolvimento dos portugueses, não vamos lá.
Já chega de demagogia barata e de falsas promessas!
Os portugueses não são imbecis como os governantes julgam!

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