sábado, 8 de setembro de 2012

Esperteza saloia de Passos Coelho!


O chico-espertismo triunfou, mais uma vez, esta sexta-feira. O de Passos Coelho, com a maior desfaçatez de que é capaz, mas também o dos seus correligionários do PSD, que justificam o injustificável, e o dos seus aliados úteis do CDS, que conseguem não ver o que toda a gente vê, e que ainda ontem se negavam a aceitar: um brutal aumento de impostos para a generalidade dos portugueses, sobretudo para os que trabalham.
A miopia política desta gente aparentemente inteligente é impressionante.
Espera-se para ver o que o Presidente da República, que até agora não tem feito pevide contra o governo, e que não tem passado de uma posição banana, vai dizer, ele que tanto enche a boca da necessidade de haver “justiça” e “igualdade” na distribuição dos sacrifícios, e que não há lugar para mais sacrifícios para os mesmos de sempre. Quer dizer, os trabalhadores, e sobretudo os funcionários públicos. Eles voltam a ser outra vez sacrificados por este governo amigo da austeridade extrema, embora agora acompanhados pelos trabalhadores do sector privado.
Passos Coelho foi à televisão esta sexta-feira, meia hora antes do jogo Luxemburgo-Portugal, o que não é inocente, para anunciar o aperto da austeridade, deixar cair algumas máscaras e anunciar mais roubos de catedral aos portugueses.
Para a troika ouvir, forte com os fracos e fraco com os fortes, como é timbre nos últimos tempos, veio à televisão anunciar que, a partir de 2013, os trabalhadores vão passar a pagar mais à Segurança Social, dos actuais 11% para 18%, enquanto as empresas vão ter um alívio da Taxa Social Única, de 23,75% para 18%. Para poderem comprar mais carros para os patrões e montarem mais piscinas.
A “história” de que estas medidas caninas de austeridade são para “combater as altas taxas de desemprego” não passam de pura tanga.
Quando lacrimeja: «Deixem-me explicar o que está em causa. O desemprego atingiu dimensão que ninguém podia esperar», um motivo que exige «sacrifícios» que devem ser «um contributo equitativo e um esforço comum» – não passa de treta, para justificar o alívio dos encargos das empresas e o aumento da carga fiscal dos trabalhadores.
Nenhuma empresa vai admitir funcionários neste período sem futuro, em que não há escoamento dos produtos, porque o consumo está em queda, e mais restrito ficará em 2013.
Ou seja, o que Passos Coelho anunciou sexta-feira é que os funcionários públicos vão ficar, na prática, sem os dois subsídios anuais, tal como este ano, o mesmo acontecendo aos reformados e pensionistas.
Por isso, dá vontade de rir esta frase do discurso do primeiro-ministro, dirigida aos funcionários públicos: «O subsídio reposto será distribuído pelos doze meses de salário para acudir mais rapidamente às necessidades de gestão do orçamento familiar dos que auferem estes rendimentos». Quer dizer, a pretexto do acórdão do Tribunal Constitucional, o Governo dá com uma mão e tira com as duas. Os funcionários públicos nem vão ver a cor do dinheiro do subsídio que alegadamente é “reposto”!
A única verdade de Passos Coelho, neste contexto e que contradiz a sua afirmação anterior, desvendando o chico-espertismo da sua artimanha, é que «o rendimento mensal dos funcionários públicos não será alterado relativamente a este ano». Obviamente que não. Se o governo vai alegadamente “repor” um dos subsídios, por imposição do Tribunal Constitucional, mas vai buscar o mesmo valor por outro, o rendimento não se altera!...
Óbvio, meu caro Watson!...
Além dos funcionários públicos, também os privados vão ficar sem um mês de ordenado. O que significa que o malfadado, criticado e tão depreciado (pela direita) acórdão do TC, deu um jeitão do caraças, para que o governo possa ir ao bolso, além dos mártires de sempre, dos trabalhadores do privado. Benditos juízes do Tribunal Constitucional!...
Depois deste negro panorama, vir dizer, como Passos Coelho, que o Governo «rejeitou um aumento generalizado de impostos» no Orçamento do Estado para 2013, porque considera que isso comprometeria as perspectivas de recuperação económica do país, só se entende por brincadeira...
Se depois destes anúncios não estamos a falar de um “aumento generalizado de impostos”, alguém tem de ir parar a Rilhafoles!...
Onde anda o Dr. Paulo Portas, que tanto brame contra o aumento de impostos e agora se mostra tão silencioso e cúmplice com esta catástrofe?!... Pura politiquice, como ele gosta, e é especialista!... Só aparece quando não é preciso, ou quando os submarinos estão à superfície.
São sempre os mesmos a pagar a crise: os trabalhadores e os pensionistas. A receita não varia nem uma vírgula.
Passos Coelho não anunciou uma única medida para o grande capital, as grandes empresas, as enormes fortunas, aqueles que podem e devem solidariamente contribuir para este momento de crise. Como aqueles “criminosos de lesa-pátria” (não têm outro nome) que têm mais de 3 mil milhões de euros em capitais no estrangeiro, à revelia das leis portuguesas, aquilo a que se chama fuga de capitais.
Para essa gente, que é muito patriota mas para quem o capital não tem pátria, não há medidas draconianas.
É a classe média que vai continuar a ser fustigada, maltratada, espremida, humilhada, espezinhada com impostos e tributos de toda a espécie.
Até que algum dia se lembre que há uma alma de antigos navegadores dentro dela, de antigas padeiras de Aljubarrota, de antigos guerrilheiros e combatentes, de resistentes contra as várias tiranias e opressões. E venha para a rua protestar para dizer BASTA!
Um governo não tem o direito de fazer tudo o que quer contra o seu povo, seja em que situação for! Não tem essa legitimidade democrática!
E o povo português tem de acordar do seu marasmo, da sua brandura, da sua passividade!
Mete dó este país de rabo entre as pernas!

NB – Também metem dó, para não dizer mais, as declarações de um castiço chamado Miguel Frasquilho, que pelos vistos é deputado, e do PSD (isso nota-se), quando vem afirmar, sem se rir, que as novas medidas de austeridade representam a alternativa para evitar que o Tribunal Constitucional volte a declarar inconstitucional as vias do Governo para a redução do défice e da dívida.
«A opção inicial do Governo [no Orçamento do Estado para 2012] era diferente e foi a decisão do Tribunal Constitucional que obrigou a que fosse encontrada uma alternativa. Evidentemente, o Governo não podia correr o risco que o Tribunal Constitucional voltasse no próximo ano a decisão que tinha sido tomada», salientou o ex-secretário de Estado social-democrata.
Quer dizer, para cumprir a decisão do Tribunal Constitucional, o governo não vai apenas suspender, enviesadamente, como se viu, os subsídios de natal e de férias aos trabalhadores do sector público e aos reformados, como vai alargar o “esticão” de um salário ao privado.
Há políticos que, na verdade, são um nojo para justificarem o que não tem justificação. São tiradas para atrasados mentais, que é como eles vêem os portugueses!

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