JN, 16/09/2012 |
Este sábado, 15 de Setembro, ficará na história como o princípio do fim do inepto governo de direita, que o mais certo é não chegar ao final da legislatura, a ultrapassagem e o descrédito da classe política e o triunfo da capacidade de mobilização das redes sociais. Foi o triunfo da cidadania, do protesto espontâneo, não manipulado por partidos ou sindicatos.
Centenas de milhares de portugueses (há quem fale em 1 milhão…) saíram à rua, no Porto, em Lisboa, mas também em Braga e em dezenas de outras localidades, para manifestar a sua indignação contra o terrorismo de Estado – da troika e dos seus feitores de S. Bento – em que se está a transformar a austeridade. Sob o lema “Que se lixe a troika. Queremos as nossas vidas”, os portugueses quiseram demonstrar que o limite da paciência e dos sacrifícios está a esgotar-se e que é preciso reagir, com veemência e firmeza, porque um governo não tem o direito de fazer tudo o que quer contra o seu povo, seja em que situação for! Não tem essa legitimidade democrática! Nem em situação de emergência!
Até que enfim que a alma que parecia adormecida dos antigos navegadores, das antigas padeiras de Aljubarrota, dos antigos guerrilheiros e combatentes, dos resistentes contra as várias tiranias e opressões, acabou por vir à luz do dia, na tarde solar deste sábado. Já se estava a ficar farto de um povo acocorado, de rabo entre as pernas, sem capacidade para manifestar a sua revolta! O mito dos “brandos costumes” foi uma construção salazarista, que não corresponde à idiossincrasia dos portugueses!
Público, 16/08/2012 |
Independentemente de filiações ideológicas ou doutrinárias, de idades ou condições sociais, três gerações, dos reformados aos trabalhadores e aos desempregados, coloriram as avenidas deste país num grito de protesto contra o massacre colossal de que os portugueses estão a ser alvo por parte de um governo sem alma e sem qualquer sensibilidade, que corta ordenados e subsídios, aumenta a carga fiscal para níveis insuportáveis e anuncia as mais gravosas medidas com a displicência de quem vê o mundo através de uma mera, académica e irritante folha de excell.
O país está em transe, sem dúvida, nem podia ser de outra maneira, perante um governo demente!
A primeira lição que há a retirar da gloriosa jornada de sábado, é para Passos Coelho e para a troika: tenham cuidado. O povo português não tem alma de escravo, embora às vezes aguente até um elefante em cima da barriga! Mas quando espirra, adeus Coelho!...
Já não se tolera que a democracia neste país seja um “permanente estado de excepção”, ao sabor de quem não tem legitimidade nem mandato para suspender a democracia.
Também o presidente da República tem de deixar de ser o fofo travesseiro onde a direita ressona. Ou assume a sua função de árbitro (que não joga a favor dos partidos que distribuem o tabuleiro do poder), ou ainda acaba por ter de resignar. Se é supremo magistrado da Nação, não pode passar a vida a servir de esfregão às políticas neoliberais e extremistas deste governo. Que se defina, de uma vez por todas: ou apoia o governo ou defende o interesse dos portugueses em geral, que é a sua missão fundamental!...
Em segundo lugar, fica comprovado que os partidos políticos estão ultrapassados. A sua eficácia mobilizadora é ridícula, perante ao gigantismo desta convocatória informal, num país cada vez mais qualificado, moderno e atento. Lá tiveram alguns que se colar às manifestações, para capitalizarem o descontentamento. Os políticos que se cuidem, os partidos que se actualizem!... O país não aguenta a forma de fazer política que está a ser protagonizada nos últimos anos.
O povo nas ruas também quer dizer que a democracia não significa apenas o depósito do voto de quatro em quatro anos, como os partidos gostam. O povo na rua é também exercício genuíno de democracia, vontade de expressar descontentamento e revolta, sobretudo quando os mandatários da soberania exorbitam das suas competências, dos seus projectos, das suas promessas.
Em terceiro lugar, e já nem era necessária esta demonstração, a força incomensurável das redes sociais e da sociedade da informação fica mais uma vez comprovada, sobretudo numa altura em que é latente a sublevação pacífica dos mais habilitados, em especial dos jovens, que são quem mais habilmente maneja estes instrumentos do conhecimento. E estão fartos de promessas não cumpridas, e de quem os convida provocadoramente a sair da “zona de conforto”, para irem entregar o seu saber e as suas qualificações aos países de emigração.
Revi-me, em todo o esplendor, na manifestação de um Portugal profundo, indomado, guerreiro, que não aceita tudo o que o chico-espertismo dos governos e das troikas nos querem impor.
Há um limite para a indignidade e para a imoralidade que foi claramente ultrapassado. O povo saiu à rua, para fazer história. Adorei. Ainda bem que não somos eternamente um povo de cócoras!
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